Capitulo 3 Cuidado

752 Palavras
A sala de fonologia cheirava a giz úmido e café requentado. Calíope entrou depois do almoço, os dedos ainda fríos de segurar o copo de café gelado. Foi então que a viu: sentada na segunda fileira, de jaqueta de couro desbotado e cabelo curto espetado, estava a garota que sussurrara “já foi tarde” na cena do crime. A mesma que agora evitava contato visual, os olhos verdes fixos em um caderno rabiscado com desenhos abstratos — espirais, labirintos, algo que parecia um pássaro com asas quebradas. Caliope não hesitou. Sentou-se ao lado dela, o banco de madeira rangendo como um aviso. — Boa tarde — disse, forçando um tom casual. A garota nem pestanejou. Seus dedos, cobertos por anéis de prata gastos, continuaram desenhando linhas agressivas no papel. — Tá surda ou só m*l-educada? — insistiu Caliope, baixando a voz. Nada. Apenas o som da ponta do lápis arranhando o caderno. Screech. Screech. A porta da sala se abriu com um estrondo. O professor de fonologia entrou, um homem de quarenta e poucos anos com um terno marrom que parecia duas vezes seu tamanho. Seus olhos — pequenos, escuros, como passarinho — pousaram em Caliope. Parou no meio da explicação sobre consoantes fricativas, a boca entreaberta. — Nova aluna? — perguntou, os lábios se curvando em um sorriso que mostrava dentes amarelados. — Caliope Wessex — respondeu, seca. — Wessex. Humm? — ele se aproximou, arrastando os pés. — Parente do Duque? — Neta — Humm. que emocionante, temos a realeza em nossa sala, chega ser excitante! — O homem olha para Calíope como um predador A garota ao lado soltou um grunhido quase inaudível. — Nojento — murmurou, tão baixo que Calíope quase não captou. O professor ouviu. Seu rosto contraiu-se por um segundo, mas logo se recuperou. — Bem-vinda à Oxford Nova, senhorita Wessex — disse, enfatizando as consoantes como se estivesse degustando-as. — Espero que... aprenda muito aqui. A aula foi um suplício. O homem passou cinquenta minutos alternando entre explicações técnicas sobre fonemas e olhares que escorriam pelo corpo de Caliope como lesmas. Ela fingia anotar, mas no cadastro só havia rabiscos: "CALÍOPE", "VERITAS", "JÁ FOI TARDE". Quando o sino finalmente soou, a garota de jaqueta levantou-se rápido, jogando o caderno na mochila. Caliope segurou seu pulso. — Quem é você? — exigiu. A garota puxou o braço com força, os olhos verdes faiscando. — Ninguém — respondeu, a voz áspera como lixa. — E se é esperta, vai continuar longe de onde não foi chamada. — Ou o que? Vai me degolar como fizeram com o professor? O silêncio entre elas ficou elétrico. A garota abriu a boca para responder, mas foi interrompida pela voz melosa do professor: — Senhorita Wessex! Precisa de ajuda para encontrar sua próxima aula? Caliope soltou o pulso da garota, que desapareceu pela porta como fumaça. — Estou ótima — respondeu, jogando a mochila nas costas. — Mas seu colega morto na biblioteca? Ele não estava tão ótimo. O rosto do professor empalideceu. — Isso não é assunto para... — Para mulheres? — ela completou, sorrindo docemente. — Não, para alunos dessa instituição, isso e assunto para polícia e para os parentes do professor morto. Caliope mordeu o labio e achou melhor se calar. No dormitório, Caliope retirou o casaco antes de jogá-lo na cama. Foi quando algo caiu do bolso interno — um bilhete amassado, escrito em letras tremidas: “FIQUE LONGE DO SENHO[R] ROPINKIS. NÃO BEB[A] NADA DO QUE ELE TE OFERECER. — UMA AMIGA” Partes das palavras estavam borradas, como se escritas às pressas. Senhor Ropinkis. O nome do professor de mais cedo’. Mas a letra... Era a mesma dos desenhos do caderno da garota. Espirais nos “R”, labirintos nos “E”. — m*l-educada, mas útil — murmurou, guardando o bilhete na carteira. Sua suspeita se confirmara: a garota de jaqueta estava envolvida. Mas por que deixar um aviso anônimo? E por que me alertar sobre o professor Ropinkis? O toque do celular a fez pular. Uma mensagem de número desconhecido: Angelo - Sua próxima aula e na sala 7C se não sair agora do seu quarto vai atrasar, não gostamos de repetentes rainha A.S Calíope - Como você conseguiu meu numero? WE como você sabe onde eu estou? Angelo- Eu tenho meus modos, agora ja para aula e pare de moirder os labios se não vou ai so pra beija-los Caliope fecha a tela do telefone com raiva;
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR