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2066 Palavras
No sábado, Tobby dormiu tanto que quando acordou, os raios de sol estavam tão fortes que atravessavam a cortina azul, deixando o quarto quente e iluminado. Ele puxou o cobertor para longe do corpo ao perceber que estava completamente suado, com seus braços e pernas meio úmidos, além de que seu cabelo estava um pouquinho grudento. Tobias levantou da cama e começou a andar em direção ao banheiro, vestindo apenas uma samba-canção preta com pontinhos verdes, enquanto esfregava os olhos e soltava um longo bocejo. Acordar cedo de segunda a quinta o fazia acordar absurdamente tarde durante o resto da semana, e mesmo sem checar as horas, ele sabia que eram no mínimo umas dez da manhã. Já no banheiro, ele pegou uma escova de dentes, colocou creme dental e começou a escovar sua boca sem pressa alguma, enquanto encarava o reflexo do seu rosto ainda meio sonolento. Haviam pequenas marcas vermelhas nas suas bochechas por ter dormido com o rosto enfiado nos travesseiros amassados. O cabelo castanho de Tobby também estava um pouco bagunçado, mas nada importante o suficiente para ele se preocupar em ajeitar (ele gostava bastante do seu cabelo afro, e de como os fios emaranhavam uns nos outros criavam um efeito incrível), os seus olhos castanho escuros eram emoldurados por cílios longos, os lábios eram carnudos e cheios, fazendo jus a sua herança genética. Sua pele já havia tido bastante espinhas quando ele era mais novo, mas agora, as pequenas manchinhas há haviam desaparecido por completo (não que ele se importasse com isso também). Com excessão do seu avô materno, toda a sua família eram de pessoas negras. Tobby não se achava um deus grego nem nada do tipo, mas ele gostava bastante da sua aparência e dos traços que herdou dos pais. Ele adorava sua pele escura, o cabelo castanho, os seus Olhos, o nariz e os lábios (ele achava que estava um pouco magro nos últimos tempos, mas não havia como ter tudo ao mesmo tempo, certo? E além disso, ele comia bastante para tentar ganhar no mínimo uns três quilos a mais). Depois de escovar os dentes, Tobby tirou a samba-canção e caminhou até o chuveiro para tomar um rápido banho e tirar o suor da sua pele e a sensação de oleosidade no cabelo, atravessando o box de vidro e fechando a porta dele logo em seguida. Geralmente Tobby só usava o aquecedor do chuveiro durante o inverno ou em noites bastantes frias, pois a conta de luz vinha absurdamente cara se ele usasse sempre. Além disso, ele não precisava usar o aquecedor durante o dia para ter água quentinha porquê toda a tubulação era de metal e haviam alguns canos em cima do telhado, expostos ao calor do sol (os canos eram pintados de preto para absorver ainda mais calor), o que fazia a água chegar nos chuveiros quentinha. Tobby sentiu a água envolver seu corpo e precisou se conter para não soltar um grunhido de prazer, pois a sensação era simplesmente maravilhosa, relaxava seus músculos e tirava por completo aquela sensação de sonolência que ainda reverberava por ele. Ele pegou um sabonete e passou pelo seu corpo sem muita pressa, antes de pegar o shampoo e passar uma boa quantidade dele no seu cabelo, massageando-o em movimentos tranquilos e circulares. Não demorou mais do que alguns minutos para ele sair do banheiro, jogando a samba-canção no cesto de roupas sujas e caminhando para fora do banheiro completamente nu. Ele foi até o guarda-roupas e pegou uma toalha limpa para secar o seu corpo, antes de procurar uma boxer e a calça de um pijama surrado que ele costumava vestir nos fins de semana (a estampa xadrez da calça fina era bizarramente parecida com a da camisa que ele precisava usar na cafeteria, o que o fazia se achar um pouquinho hipócrita por odiar a camisa e adorar o pijama, mas pelo menos quando usava o pijama ninguém mais o veria). Depois de vestido, Tobby pegou o seu celular que estava em cima da escrivaninha e caminhou para fora do quarto, enquanto checava as mensagens e ouvia quatrocentos áudios de John. [•••] Tobby adorava café, mas fazia tanto a bebida durante os primeiros quatro dias da semana que quando estava de folga, ele não conseguia sequer suportar o cheiro. E era exatamente por isso que ele encheu um copo só com leite puro e colocou em cima do balcão, antes de fazer um sanduíche improvisado com todos os ingredientes que ele tinha na geladeira, colocando tudo empilhado em um prato e levando até o microondas (já que tudo estava praticamente congelado). Tobby estava quase encostando o copo de leite nos lábios quando lembrou subitamente das câmeras que ele e John haviam instalado no dia anterior. COMO RAIOS ELE HAVIA ESQUECIDO DISSO?! Ele pegou o celular rapidamente e devolveu o copo para o balcão, antes de abrir o aplicativo que estava logado com as câmeras, sentindo o seu coração martelar e os seus dedos ficarem um pouco trêmulos. Ele havia dormido tanto na noite anterior que sequer havia lembrado de todas as esquisitices dos últimos dias, dos cigarros e do stalker que poderia ter. A interface do aplicativo era bastante fácil de ser manuseada. Havia dois botões diferentes e bem grandes na primeira aba. Em um, John havia salvado como "CÂM. LADO DE FORA", e o outro como "CÂM. DA SALA". Tobby apertou no primeiro botão e foi automaticamente levado para outra página, onde haviam todas as gravações desde que as câmeras haviam sido instaladas. Havia o vídeo completo, mas também pequenos vídeos divididos por horário. As câmeras não tinham sensor de movimento pois eram praticamente as mais baratas de todo o mercado (as únicas que Tobby conseguiria comprar), então ele selecionou o vídeo que começava às onze da noite e acelerou a gravação ao máximo que dava. A qualidade da câmera não era r**m, mas a iluminação da parte de fora da casa deixava a desejar. Os minutos da gravação se passavam em questão de segundos, enquanto o direcionamento da câmera ia de um lado para o outro lentamente. Tobby soltou um suspiro de alívio ao perceber que não havia absolutamente nada de anormal, e que talvez o seu stalker não havia aparecido naquele dia. Ele estava quase saindo das gravações, quando por volta das três da madrugada, um flash no canto direito do vídeo chamou a sua atenção. — A-ah! — Tobby soltou um grito de susto e quase deixou o celular escapulir por entre os seus dedos, sentindo o coração dar um salto desenfreado. O vulto estava embaçado porque o vídeo estava absurdamente acelerado, mas Tobby voltou alguns minutos e colocou na velocidade normal, sentindo as suas pernas bambas igual vara verde. A sua boca secou por completo enquanto ele encarava o canto direito do vídeo, onde um homem absurdamente alto deu um passo para fora da escuridão do bosque. Ele fez menção de continuar andando, mas parou bruscamente, como se pressentisse que estava sendo gravado, embora Tobby tivesse certeza de que a câmera estava escondida, principalmente durante a noite. O seu stalker era um homem alto e esguio, apesar de ter coxas grossas e atléticas e braços musculosos. Ele vestia uma calça cargo e coturnos pretos, além de um casaco com capuz erguido, tornando impossível ver o seu rosto. Tobby percebeu que ele era branco, pois suas mãos estavam expostas (o cara rapidamente enfiou as mãos nos bolsos do moletom, como se quisesse esconder cada centímetro de pele). Ele observou toda a casa, antes de mover o seu olhar lentamente para a esquerda e encarar o exato ponto em que a câmera estava, antes de dar um passo para trás desaparecer por completo na escuridão do bosque novamente. Tobby engoliu em seco e cortou o vídeo no exato momento em que o homem aparecia, salvando-o na galeria para enviar para John logo em seguida. Se aquele cara havia visto a câmera, então agora ele sabia que Tobby desconfiava sobre ele. O microondas apitou, indicando que o sanduíche já estava pronto, então ele arrancou o cabo da tomada, mas não fez menção de abrir o microondas para tirar a sua comida. Ele estava tão atordoado com o vídeo que perdeu totalmente a fome. Enquanto apenas estava desconfiando, Tobby poderia simplesmente ignorar, mas agora que havia uma prova concreta de que estava sendo vigiado, ele não sabia o que fazer. Tobby mandou o vídeo para John, mas não conseguiu escrever absolutamente nada na mensagem. Ele lembrou subitamente de que seu avô tinha uma arma e a deixava guardada no quarto, Então começou a correr para fora da cozinha e subiu as escadas. Aquele homem era completamente superior fisicamente à Tobby, mas se ele tivesse alguma coisa para se defender, poderia ter a vantagem. Tobias correu pelo corredor do segundo andar e foi até o antigo quarto dos seus avós, que estava completamente vazio e cheio de poeira. Ele não fazia ideia de onde seu avô guardava a arma ou se sequer ainda à tinha quando faleceu, mas Tobby caminhou rapidamente pelo cômodo, tentando encontrar algum lugar onde ele poderia encontrar coisas escondidas. O rapaz quase saltitou de alívio quando encontrou uma parte do piso de madeira que parecia ser oco e solto, então ficou de joelhos rapidamente e tentou arrancar o pedaço do piso. Seus dedos estavam tão trêmulos que demorou um tempinho para ele finalmente conseguir remover o quadrado de madeira oca, encontrando um cubículo escuro e empoeirado, repleto de teias de aranha. Sem exitar por um segundo sequer, ele enfiou a mão lá dentro e vasculhou o buraco, encontrando alguns papéis envelhecidos e uma caixa de sapato. Tobby retirou tudo lá de dentro e quase chorou de felicidade quando abriu a caixa e encontrou a velha arma lá dentro, apesar de não ter balas (poderiam ser compradas na cidade depois). Ele enfiou os papéis dentro da caixa e saiu do quarto rapidamente, pretendendo dar uma olhada neles mais tarde também. Tobby tirou o celular de dentro do bolso da calça de pijama e buscou de forma rápida o número de Jackson, antes de ligar para ele, enquanto caminhava para o próprio quarto para guardar a caixa de sapato debaixo da sua cama. — Hey, Baby. — Jackson disse, um segundo após atender a ligação. — Oi, Jackson. Você quer vir dormir aqui hoje? — Perguntou Tobby, caminhando para dentro do seu quarto e se ajoelhando ao lado da cama para enfiar a caixa debaixo dela. Jackson tinha vinte e quatro anos e era um grandalhão, e talvez por isso Tobby se sentiria um pouco mais seguro com ele dormindo ali, pelo menos naquela noite. — Claro, Tobby. — respondeu Jackson, sua voz repleta de segundas intenções, o que fez Tobias revirar os ombros, mas talvez fosse bom ter uma distração. Ele precisava bastante disso nos últimos tempos. Tobby continuou conversando com Jackson por mais algum tempo, até se despedir dele e resolver descer para o primeiro andar para tentar comer alguma coisa, porque apesar de ter perdido a vontade de comer, sua barriga estava protestando e dizendo justamente o contrário. [•••] Durante a tarde, Tobias já estava quase saindo de casa para comprar balas para a arma quando recebeu uma nova mensagem, fazendo seu celular vibrar no bolso do Jeans surrado. Ele agarrou o celular e abriu o app de mensagens rapidamente, tremendo levemente ao perceber que a mensagens era de um número desconhecido. "SER OU NÃO SER (meu), EIS A QUESTÃO, TOBIAS." Tobby xingou baixinho e sentiu os seus dedos tremerem, enquanto ele lia a mensagem várias vezes, percebendo tardiamente que era uma metáfora relacionada ao seu sobrenome, Hamlet. Aquela mensagem só podia ser de uma pessoa: o maldito que o estava perseguindo. Tobias não respondeu a mensagem, além de saber que aquele cara era inteligente o suficiente para não mandar mensagem de um número que poderia ser facilmente rastreável. Ele soltou um suspiro longo e desceu o hall da casa, enfiando novamente o celular no bolso e pegando a sua bicicleta, para então começar a pedalar pela sinuosa estrada que cortava o bosque. Tobby iria comprar as balas e mostrar para aquele cara o que aconteceria com quem mexia com um Hamlet. Ou melhor: o que acontecia com quem mexia com alguém que tinha medo o suficiente para ter coragem de fazer qualquer coisa.
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