UM – SEM MIM

1900 Palavras
MILÃO, ITÁLIA Eu desço as escadas com a maior leveza que consigo e Felippe está me esperando ao pé da escada com um sorriso no rosto. Ele é lindo e tão másculo, estou tão feliz que vou me casar com ele. No momento, sou alvo da inveja de todas as damas solteiras da máfia. – Está linda, principessa. O colar ficou ótimo em você. – Felippe diz assim que pego sua mão e enlaça meu braço no seu enquanto caminhamos para cumprimentar as pessoas. – Obrigada. – Agradeço. Além das vezes que já o vi antes de sermos noivos, tivemos poucas interações desde que fui prometida a ele mas gostei muito de conversar com ele. É um homem muito espirituoso e me faz rir, tenho certeza que a vida não será nem um pouco tediosa ao seu lado. Passamos a hora seguinte cumprimentando pessoas e fazendo sala ao redor do salão enorme e meus pés já estão começando a me matar. Não sou a maior fã de saltos, para falar a verdade meu estilo é muito diferente e tênis são sempre minha primeira escolha mas é claro que não poderia usar tênis com um vestido de gala. Não combina nem um pouco. Em algum momento, acabei me separando de Felippe e fui falar com algumas amigas. Bem, como amigas quero dizer as garotas da máfia que cresceram junto comigo, depois que termino de cumprimentar todas vou cumprimentar minha pessoa preferida que está separada de todas elas. – Sua festa está perfeita. Parabéns, estou morrendo de inveja. – Bella Ricciáceo é a primeira a falar comigo antes que eu cumprimente-a. – Obrigada. Não precisa morrer de inveja, logo será você. – Os irmãos Pierce estão aqui, toda vez que vejo Bernard tenho vontade de lambê-lo. – Diz olhando em uma direção e eu sigo sua linha de visão. Gustav e Bernard Pierce estão aqui, como manda o dever. Capo e consigliere, vieram especialmente para o meu noivado, presumo. – Não diga coisas desse tipo, alguém pode ouvir. – Adverto, mas dou um sorrisinho. De todas, ela é a que mais gosto, sempre sincera e alto-astral. – Olhe para ele e me diga que ele não é um gato, lindo de morrer. – Eu olho novamente e o vejo interagir com os outros homens enquanto toma sua bebida. Ele é muito lindo. – Ele é ok. – Minto. – Você mente muito m*l. Mas tudo bem, você é da família agora, deve deixá-lo para mim. – Rimos e continuamos uma conversa amena até eu perguntar pela sua irmã, Dávila Ricciáceo. – Ela saiu a algum tempo, deve estar retocando sua maquiagem. Sabe que ela é obcecada por sua imagem, como se a p**a não fosse linda. – Apesar de serem irmãs, nunca vi pessoas com personalidades tão diferentes como essas duas. Chega a ser espantoso. – Acho que vou retocar a minha também, logo será a hora do anúncio e quero estar perfeita nas fotos. – Eu não sou uma pessoa fútil, mas é o meu casamento afinal, quero ter fotos bonitas. – Vou com você. Nós seguimos para o banheiro mais longe e não há ninguém. Está vazio. Ouço algo estranho e Bella faz menção de falar algo, mas eu coloco a mão em sua boca para ouvir melhor. Há uma movimentação e um barulho vindo de uma das cabines, ficamos quietas para ouvir. – Isso, assim. – Arregalo os olhos, eu conheço essa voz e pela cara de Bella ela também conhece. Dávila está nessa cabine e o pior, pelos sons só pode estar fazendo sexo. Há gemidos e o barulho de corpos se chocando. Aponto para a porta fazendo sinal para sairmos e irmos para outro banheiro, é intrometido ficar ouvindo as pessoas em seus momentos íntimos. Bella me segue e quando estamos quase fechando a porta, eu ouço algo gela os meus ossos. – Ai, que delicia. Você é uma delicia. – Não. Não. Não. Não pode ser. É a voz que eu conheço desde pequena, que ouvi muitas vezes contando piadas. A mesma voz que me chamou de principessa a alguns minutos. Meu noivo está nessa cabine. Com outra. Minha amiga. Você consegue pensar em algo pior para acontecer no dia do seu noivado? Pois é, eu também não. Bella também ouviu e está olhando para mim com pesar nos olhos. Será que ela sabia? Será que sou a única sendo enganada esse tempo inteiro? E tudo que eu fiz? A quanto tempo isso acontece? Eu sempre fui boa, educada, me guardei de festas e muitas vezes deixei de fazer algo que eu queria por causa dos outros. Pra acontecer isso. Eu sinto as lágrimas, elas descem sem parar pelo meu rosto. Errar é humano, permanecer no erro é burrice e eu não vou permanecer nem mais um segundo. Saio em disparada em direção ao salão de baile com Bella me seguindo. – O que vai fazer? Eu juro que não sabia de nada, se eu soubesse teria te contado e acabado com essa palhaçada. – Ela diz me virando para si e eu vejo em seus olhos a verdade. Ela não tinha nada a ver com isso. – Eu nunca pensei que ela… – Não. Não diga o nome. – Interrompo. – Apenas assista o show. Deixo ela plantada e vou direto para onde está o DJ e pego um microfone. – Boa noite a todos. – Todos se viram em direção a voz olhando para mim, não faço ideia de como está minha aparência e estou pouco me importando. Meus pais estão confusos, o combinado é que o discurso seria apenas depois do anúncio do noivado e troca de anéis. Sinto muito, papai e mamãe, mudança de planos. – Sei que estão um tanto surpresos, não é a hora do discurso mas tem algo que eu desejo falar e não pode esperar. – Eu respiro fundo e começo. – Todos vocês estão aqui para prestigiar o noivado de Felippe Pierce de Luca comigo e estou agradecida pela presença de todos. Mas infelizmente devo dizer que esse noivado não vai acontecer. – O burburinho começa pelo salão e a minha mãe se aproxima. – O que está dizendo, figlia? – Sinto muito pelo meu amado ex noivo não estar ao meu lado fazendo esse anúncio, ele está muito ocupado transando com outra no banheiro. – Todos estão de olhos arregalados e estáticos em seus lugares. – Se quiserem, podem ir conferir. É no último banheiro do corredor. – Está falando sério, minha filha? Que brincadeira é essa? – Diz meu pai se aproximando. – Não é brincadeira. Vá e veja com seus próprios olhos. – Digo largando o microfone e as pessoas saem em disparada em direção ao banheiro, incluindo meu pai e a minha mãe. Não quero saber como isso vai acontecer, só quero sair daqui. Subo para o meu quarto com pressa e largo os saltos em qualquer lugar com a cabeça a milhão e pensando em um plano que eu nem sei se vai dar certo. Tiro o vestido, jogo o colar que ganhei bem longe e vou até o meu guarda-roupa. Pego uma camisa larga que cobre os meus shorts, shorts curtos e calço meus tênis. Retiro toda a maquiagem no banheiro e prendo meu cabelo num coque frouxo. Depois que estou pronta, puxo minha mala do guarda-roupa e jogo tudo que vejo pela frente dentro dela. – To vazando dessa merda. Não fico mais um minuto aqui. – Fecho a mala e vou até a porta, mas paro antes de abrir. Como vou sumir sem ajuda e sem dinheiro? Já faz mais ou menos uma meia hora desde que eu anunciei o fim do noivado e a maioria das pessoas já deve ter ido embora. Saio do quarto sem me importar em quem vai me ver ou não, sou outra pessoa agora e essa pessoa não está nem ai para a opinião alheia. Desço as escadas olhando os meus pés, mas me arrependo quando vejo a família de Felippe e a minha reunida. Há apenas eles no salão e pelo visto estavam esperando a minha presença. – Che diavolo acha que está fazendo aqui? Suma, evapore da minha frente. – Kelyne, vamos conversar por favor. – Eu dou meia volta e paro ao ouvir suas palavras. – Conversar? Figlio da puttana. Você é maluco pra fazer um pedido desse? Quero que suma da minha vista. – Digo me virando e o encarando de cabeça erguida. – Não é o que você está pensando. – Vamos deixar que conversem. – O pai de Felippe diz se retirando e os meus fazem o mesmo. Se eles estão pensando que vou passar o resto da minha vida casada com alguém assim eles podem tirar o cavalinho da chuva. Não vai rolar. – Suma. Desapareça. Nunca mais quero falar com você. – Digo fria olhando em seus olhos. – Não vai nem deixar eu me explicar? – Não há nada que eu queira ouvir da sua boca. Eu tenho uma arma. – Digo indo em direção a saída. Não tenho arma nenhuma, mas ele não sabe disso. – Não me siga, p***a. Ou eu te mato eu mesma. Vou para o jardim e me sento em um banco olhando as flores. Ainda há pessoas saindo da casa, que grande espetáculo eu dei a eles. – Noite de merda. – Digo passando a mão no rosto em desespero. O que vou fazer? – O que a noite te fez de r**m? – Procuro a voz e logo vejo Bernard Pierce se aproximando. Ele está todo de preto se camuflando a noite. Olhando de perto, ele é bem bonito mesmo. – Acho que você viu o espetáculo. Isso já é motivo suficiente. Ele se senta ao meu lado e acende um cigarro. – Quer um? – Ele me oferece. Eu normalmente recusaria, mas não hoje. – Para tudo tem uma primeira vez, não é? Pego o cigarro que ele me oferece e trago da melhor maneira que consigo, mas isso me causa uma crise enorme de tosse e Bernard ri. Ele fica bonito rindo. – É normal no início, depois você acostuma. – Ele pega o cigarro de volta e traga forte, soltando a fumaça pelo nariz. – Então o que vai fazer agora? Ele me passa o cigarro e eu dou outra tragada, parece menos pior dessa vez e eu não tenho nenhum ataque de tosse. – Não é obvio? Não vou me casar. – Devolvo o cigarro. – Decisão corajosa. Você sabe que não vai se livrar tão fácil assim desse casamento, não é? – Porque diz isso? – Aposto minha fortuna que os seus pais vão querer que você se case mesmo assim. Não é sobre amor, é sobre poder. – Custo a acreditar nas suas palavras. Será? – Não, meus pais não são assim. Eles nunca me obrigariam a fazer esse tipo de coisa, é demais até para eles. – Se você diz. – Ele termina o cigarro, joga no chão e pisa em cima apagando a ponta vermelha. – Se precisar de mim, me ligue. – Ele me entrega um cartão e sai andando com as mãos no bolso. – Obrigada. – Agradeço antes que ele suma e ele para e se vira para mim. – Quer ir a uma festa? Eu sorrio marota. Hora de conhecer uma festa de verdade.
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