Capítulo III

884 Palavras
Capítulo III Por mais esquisito que pudesse parecer, havia o esboço de um sorriso em seu rosto murcho, pálido e desprovido de vida. A irmã Piedade estava tão branca que mais parecia um boneco. Como era possível que em um dia ela pudesse parecer tão quente e cheia de vida e no outro apenas um cadáver confinado aos vermes da terra? O caixão foi fechado, me libertando de sua imagem aterrorizante. Não que a irmã Piedade fosse f**a, mas a morte estava deitada sobre ela e isso era medonho. - Se afaste! – a voz grossa, masculina e autoritária soou na língua comum, logo atrás de mim. Involuntariamente eu dei um pulo desajeitado para a frente, me esbarrando no caixão. Todos me olharam horrorizados com minha atitude desastrosa. Com as mãos trêmulas e folego ameaçando faltar, eu me afastei do caixão obediente, congelada, sem conseguir olhar para os soldados elfos que deveria estar logo atrás de mim. Três soldados elfos entraram na sala, eles eram grandes, fortes e eretos, escondidos por baixo de armaduras douradas, onde o reflexo das chamas brincavam em uma dança cálida. Dois soldados seguraram o caixão enquanto o outro coordenava com eficiência. As espadas presas na altura de seus quadris eram tão grandes, que acho que não conseguiria empunhá-las sem usar magia. Como se a imagem da espada não fosse suficiente para assustar, eles carregavam aljavas nas costas, cheias de flechas com as pontas recobertas pelo metal feérico, com escudos recobrindo parte de suas aljavas. Apesar do peso que os soldados pareciam carregar, se movimentavam com firmeza e eficiência. - Vamos! – Andressa me empurrou, como se eu estivesse dormindo em pé – Eu queria viajar era na garupa de um deles! – Ela sussurrou no meu ouvido com malícia – ou montar um deles! - Montar? – Perguntei sem entender por que ela iria querer montar um elfo. Ela atravessou os portões sorrindo de mim como se tivesse dito algo óbvio. A estrada rochosa estava preenchida com várias carruagens enfileiradas, que as irmãs preencheram com rapidez. O céu ainda estava escuro. Ninguém em sã consciência se aventuraria a viajar antes do nascer do sol, talvez por isso houvesse tantos soldados elfos escoltando a caravana. - já imaginou se fossemos atacados por sangues amaldiçoados e precisássemos fugir cada uma na garupa de um elfo? – Andressa falou animada dentro da carruagem, olhando para Helen, Diana e Clara que se encolheram embaixo de seus hábitos. - Não diga loucuras! – Eu a repreendi, a puxando pelo braço. Nunca havia ouvido falar de ataque de sangues amaldiçoados por aquelas bandas, mas isso não significava que Andressa poderia aproveitar o momento para assustar todo mundo. - Ei soldado! – Andressa acenou para um dos elfos próximo a nossa charrete. Meu sangue gelou. O soldado estendeu a tocha que carregava na mão se aproximando. - O que quer? – a voz dele soou seca e impaciente. Eu olhei para as garotas a minha frente, todas olhavam para a janela, fitando o soldado com curiosidade e fascínio. Eu sabia que precisava fazer o mesmo que elas para não parecer diferente, mas não conseguia mover minha cabeça na direção dele, minhas mãos tremiam e meu coração parecia que sairia pela boca ao menor esforço. - O que está acontecendo? – outra voz masculina, grossa e cortante soou quase no meu ouvido, na janela ao meu lado. O soldado ergueu a tocha que tinha nas mãos e eu me empurrei contra Andressa me defendendo por instinto das chamas. O que poderia ser mais assustador que um soldado elfo com uma tocha de fogo nas mãos? - d***a Loren! – Andressa me empurrou de volta em um movimento brusco e impaciente, me fazendo cair em cima do soldado que abriu a porta ao meu lado. Empurrei a tocha da mão dele de forma impensada, a derrubando no peito de Clara que estava sentada entre Helen e Diana. Com um grito reprimido a garota jogou as chamas em cima de mim se debatendo. Joguei a tocha pra frente, que voou para o canto no chão da carruagem. O soldado com agilidade me puxou para fora, pela cintura, enquanto o outro abrindo a outra porta puxou Andressa. Diana, Helen e Clara pularam por cima das chamas e da fumaça, que agora tomavam conta da carruagem. - Onde encontramos água? – Um dos soldados berrou nervoso. Nenhuma de nós conseguiu falar. - Desprendam os animais da carruagem! – Outro soldado gritou. Olhei para a estrada, todas as outras carruagens já haviam partido. Quanta estupidez! – Pensei mordendo os lábios irritada com minhas atitudes tolas e desesperadas. - Infelizmente terão que ficar! Não temos como levá-las! – O soldado avisou mostrando a carruagem em chamas. - Isso não foi culpa nossa! – Andressa reclamou irritada – Não podemos perder o velório! – Ela caiu em prantos e de repente eu não a reconheci, nunca imaginei que ela pudesse chorar por perder o velório. - Eu sinto muito! – o soldado falou, mas não havia nenhum pesar em suas palavras fria – Não podemos viajar com freiras em nossas garupas. Não ficaria bem nem pra nós e nem pra vocês – O soldado garantiu fazendo um sinal com a mão, chamando os outros soldados, que o seguiram sem discutir, nos deixando para trás. 
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