CAPÍTULO — TIGRE: O REI DA SELVA DE PEDRA Sábado na favela não amanhece com passarinho cantando ou brisa fresca. Sábado no morro amanhece na base do ódio, explodindo na cara de quem tá devendo e estourando o tímpano de quem quer dormir. O sol já tava daquele jeito: maçarico ligado no máximo, derretendo o asfalto, cozinhando o esgoto a céu aberto que descia a vala e fazendo o cheiro de pólvora se misturar com o de frango assado e óleo diesel. A favela é um bicho vivo, tá ligado? Ela respira, ela fede, ela grita. E eu tava ali, no miolo daquele coração podre, sentado no meu trono de plástico da Skol, controlando a pulsação da p***a toda. Eu tava sem camisa, o suor escorrendo pelo peito, fazendo as tatuagens brilharem como se tivessem vivas. A corrente de ouro no pescoço pesava um quilo,

