A porta do corredor norte bateu contra a parede e a voz do vigilante ecoou:
— Tem alguém aí? Eu ouvi música, não adianta se esconderem!
Adrian prendeu a respiração. Eleonora, ao lado dele, fez exatamente o oposto: soltou uma risadinha abafada que quase o matou do coração.
— Você tá achando graça? — ele sussurrou, incrédulo.
— Um pouco. — ela admitiu, com os olhos brilhando de adrenalina.
Miles acenou freneticamente de trás da coluna, fazendo sinais para eles correrem.
A festa inteira já estava se desmanchando em caos silencioso: gente se escondendo atrás de sofás, pulando janelas pequenas, subindo as escadas como sombras.
Adrian segurou o pulso de Eleonora com firmeza, mas sem machucar e a puxou para trás, seguindo por um corredor lateral.
Ela tropeçou um pouco no salto e sussurrou:
— Cuidado! Isso aqui é acetinado, se eu cair—
— Você não devia ter vindo com isso.
— Se tá incomodado é só não olhar.
Ele ignorou.
Ou tentou.
Passaram por paredes brancas, portas fechadas, e o som do vigilante se aproximando. Quando viraram um corredor mais escuro, Adrian encostou Eleonora na parede, mantendo-a ali entre seu corpo e a parede, perto suficiente para que ela não saísse correndo.
Ela arqueou a sobrancelha, nada intimidada.
— Tá perto demais, super-herói.
Adrian ergueu um dedo aos lábios, pedindo silêncio.
O vigilante passou pela entrada do corredor.
Eles ouviram passos pesados, uma lanterna varrendo o chão.
Eleonora respirou fundo pela primeira vez, com um resquício de medo real.
Adrian viu.
Os passos foram ficando mais distantes… finalmente sumiram.
Eleonora soltou o ar, aliviada, mas Adrian manteve a mão no pulso dela, segurando firme.
— Viu? — ele murmurou. — Isso poderia ter acabado m*l.
— Mas não acabou. — ela rebateu, ergueu o queixo. — Graças a você, meu herói.
Ele franziu os olhos.
— Não tenta transformar isso em elogio. Foi imprudente.
— Foi divertido.
— Imprudente.
— Inesquecível.
Adrian desviou o olhar por um segundo, como se tentasse se recompor.
Quando voltou a encará-la, sua voz veio mais baixa, carregada de tensão.
— Você não entende, Eleonora. Aqui não é a sua escola antiga. Não tem tapete vermelho pra você desfilar quando quiser. Se fizer besteira, vai ser expulsa. E seus pais vão culpar os meus.
Ela ficou séria por um breve instante mas só por um.
— Por que você sempre fala como se fosse responsável por mim?
— Porque pediram que eu ficasse de olho em você.
— Não pedi babá.
— E eu também não pedi esse papel.
O silêncio que se seguiu foi pesado.
Eleonora soltou o pulso ele permitiu mas não se afastou.
Eles estavam tão próximos que era impossível ignorar.
Ela inclinou a cabeça, analisando-o.
— Você tem algum problema comigo, Adrian?
— Tenho vários. — ele respondeu, direto. — Mas hoje… — seus olhos percorreram o rosto dela — …voê tá acabando com a minha paciência.
Eleonora sorriu.
Mas dessa vez, não foi só provocado.
Havia ali algo mais sutil. Mais íntimo.
— Espero que seja no bom sentido — ela provocou baixinho.
Adrian respirou fundo, como se quisesse dizer algo mais…
Mas o som de outro vigilante ecoou ao longe, chamando nomes.
Ele segurou a mão dela de novo.
— Vem. Vamos sair daqui antes que mais alguém apareça.
— Agora você quer fugir comigo? — ela riu baixo. — Que romântico.
— Cala a boca, Eleonora.
— Com prazer.
Ele puxou-a pelo corredor estreito que levava aos dormitórios, sempre atento aos passos e lanternas.
Eleonora, apesar de provocadora, seguia o ritmo dele.
Quando chegaram à escada final separando o dormitório masculino e o feminino ele soltou sua mão devagar.
— Vai pro seu quarto. E não sai mais hoje.
— Vai mandar em mim até quando?
— Até você parar de quase destruir sua própria vida por diversão.
— Adrian, você também estava lá.
— Mas...
— Mas nada, Adrian.
Ela parou no primeiro degrau e olhou para ele como se o enxergasse de verdade.
— Por que você fala como se eu importasse ?
Ele hesitou.
— Não me importo. Só não quero que dê problema.
Ela sorriu daquele jeito brilhante, perigoso.
E subiu um degrau. Depois outro.
Mas antes de desaparecer na curva da escada, virou-se para ele:
— Boa noite, Ad.
Ele ficou parado, tenso, ela usou o apelido de infância por pura provocação.
— Boa noite, Eleonora.
E quando ela sumiu, ele passou a mão no cabelo, irritado… e igualmente inquieto.
Porque o que sentia não era raiva.
Não apenas.