Capítulo 18. Você se importa ?

758 Palavras
A porta do corredor norte bateu contra a parede e a voz do vigilante ecoou: — Tem alguém aí? Eu ouvi música, não adianta se esconderem! Adrian prendeu a respiração. Eleonora, ao lado dele, fez exatamente o oposto: soltou uma risadinha abafada que quase o matou do coração. — Você tá achando graça? — ele sussurrou, incrédulo. — Um pouco. — ela admitiu, com os olhos brilhando de adrenalina. Miles acenou freneticamente de trás da coluna, fazendo sinais para eles correrem. A festa inteira já estava se desmanchando em caos silencioso: gente se escondendo atrás de sofás, pulando janelas pequenas, subindo as escadas como sombras. Adrian segurou o pulso de Eleonora com firmeza, mas sem machucar e a puxou para trás, seguindo por um corredor lateral. Ela tropeçou um pouco no salto e sussurrou: — Cuidado! Isso aqui é acetinado, se eu cair— — Você não devia ter vindo com isso. — Se tá incomodado é só não olhar. Ele ignorou. Ou tentou. Passaram por paredes brancas, portas fechadas, e o som do vigilante se aproximando. Quando viraram um corredor mais escuro, Adrian encostou Eleonora na parede, mantendo-a ali entre seu corpo e a parede, perto suficiente para que ela não saísse correndo. Ela arqueou a sobrancelha, nada intimidada. — Tá perto demais, super-herói. Adrian ergueu um dedo aos lábios, pedindo silêncio. O vigilante passou pela entrada do corredor. Eles ouviram passos pesados, uma lanterna varrendo o chão. Eleonora respirou fundo pela primeira vez, com um resquício de medo real. Adrian viu. Os passos foram ficando mais distantes… finalmente sumiram. Eleonora soltou o ar, aliviada, mas Adrian manteve a mão no pulso dela, segurando firme. — Viu? — ele murmurou. — Isso poderia ter acabado m*l. — Mas não acabou. — ela rebateu, ergueu o queixo. — Graças a você, meu herói. Ele franziu os olhos. — Não tenta transformar isso em elogio. Foi imprudente. — Foi divertido. — Imprudente. — Inesquecível. Adrian desviou o olhar por um segundo, como se tentasse se recompor. Quando voltou a encará-la, sua voz veio mais baixa, carregada de tensão. — Você não entende, Eleonora. Aqui não é a sua escola antiga. Não tem tapete vermelho pra você desfilar quando quiser. Se fizer besteira, vai ser expulsa. E seus pais vão culpar os meus. Ela ficou séria por um breve instante mas só por um. — Por que você sempre fala como se fosse responsável por mim? — Porque pediram que eu ficasse de olho em você. — Não pedi babá. — E eu também não pedi esse papel. O silêncio que se seguiu foi pesado. Eleonora soltou o pulso ele permitiu mas não se afastou. Eles estavam tão próximos que era impossível ignorar. Ela inclinou a cabeça, analisando-o. — Você tem algum problema comigo, Adrian? — Tenho vários. — ele respondeu, direto. — Mas hoje… — seus olhos percorreram o rosto dela — …voê tá acabando com a minha paciência. Eleonora sorriu. Mas dessa vez, não foi só provocado. Havia ali algo mais sutil. Mais íntimo. — Espero que seja no bom sentido — ela provocou baixinho. Adrian respirou fundo, como se quisesse dizer algo mais… Mas o som de outro vigilante ecoou ao longe, chamando nomes. Ele segurou a mão dela de novo. — Vem. Vamos sair daqui antes que mais alguém apareça. — Agora você quer fugir comigo? — ela riu baixo. — Que romântico. — Cala a boca, Eleonora. — Com prazer. Ele puxou-a pelo corredor estreito que levava aos dormitórios, sempre atento aos passos e lanternas. Eleonora, apesar de provocadora, seguia o ritmo dele. Quando chegaram à escada final separando o dormitório masculino e o feminino ele soltou sua mão devagar. — Vai pro seu quarto. E não sai mais hoje. — Vai mandar em mim até quando? — Até você parar de quase destruir sua própria vida por diversão. — Adrian, você também estava lá. — Mas... — Mas nada, Adrian. Ela parou no primeiro degrau e olhou para ele como se o enxergasse de verdade. — Por que você fala como se eu importasse ? Ele hesitou. — Não me importo. Só não quero que dê problema. Ela sorriu daquele jeito brilhante, perigoso. E subiu um degrau. Depois outro. Mas antes de desaparecer na curva da escada, virou-se para ele: — Boa noite, Ad. Ele ficou parado, tenso, ela usou o apelido de infância por pura provocação. — Boa noite, Eleonora. E quando ela sumiu, ele passou a mão no cabelo, irritado… e igualmente inquieto. Porque o que sentia não era raiva. Não apenas.
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