O dia seguinte começou caótico para Eleonora.
O despertador tocou três vezes, ela ignorou.
O uniforme simples e sem glamour demorou mais do que deveria para ser vestido.
Ela ainda tentou passar rímel, mas a luz fria do banheiro a irritou.
Resultado: estava atrasada para a primeira aula.
Com o coração acelerado, correu pelos corredores, salto baixo batendo no piso, o cheiro leve de perfume francês preenchendo cada passo. Os alunos se viravam para olhar alguns admirados, outros divertidos.
Quando virou a esquina com pressa, colidiu diretamente com alguém que estava saindo de uma porta de vidro marcada como
“LABORATÓRIO T-04”.
O impacto quase fez os livros dela caírem.
— Olha por onde anda! — ela soltou instintivamente, ajeitando o cabelo.
Mas quando levantou o olhar…
Parou.
Adrian.
Ainda mais alto do que ela lembrava.
Camiseta preta do laboratório, crachá pendurado, cheiro de metal, fios e café.
E aquele olhar sério, sempre analisando tudo.
Por um segundo, Eleonora ficou sem reação.
— Eleonora. — ele disse, surpreendentemente calmo.
Ela pigarreou, tentando recuperar a compostura.
— Adrian… — respondeu, educada, até simpática. — Perdão. Estou atrasada para a primeira aula e—
Ele ergueu a sobrancelha.
— Eu imagino. Você está correndo como se fosse uma emergência.
Ela deu um sorrisinho tenso.
— Sim, acontece. Primeiros dias.
Adrian cruzou os braços.
— Primeiros dias não são desculpa para atraso. Aqui você precisa se ajustar, Eleonora.
O sorriso dela se desfez imediatamente.
Aquela frase.
Aquele tom.
Arrogante.
O mesmo Adrian de sempre só que mais confiante, mais mandão, mais… irritante, e mais bonito também.
— Desculpa? — ela estreitou os olhos. — Você virou monitor da pontualidade agora?
Ele respirou fundo, como quem fala com uma criança mimada, que é exatamente o que ela era.
— Não. Mas aqui não é Paris. Ninguém vai esperar você se maquiar por duas horas antes das aulas.
Eleonora arregalou os olhos, ofendida.
— Primeiro: eu não me maquio por duas horas. Segundo: você não sabe nada da minha rotina, então por favor não finja que sabe.
Adrian arqueou um canto da boca.
— Eu sei que você está atrasada. E sei que vai tomar advertência se continuar assim.
— E eu sei que você continua metido e mandão como sempre foi. — ela rebateu, dando um passo à frente.
Os dois ficaram próximos demais.
Eleonora parecia uma chama prestes a incendiar.
Adrian, um bloco de gelo provocante.
— Você deveria levar isso aqui a sério, Eleonora. — ele disse mais baixo. — Se não fizer isso por você, faça pelos seus pais. Eles te mandaram pra cá por um motivo.
Ela soltou um riso debochado.
— Ah, por favor. Não venha bancar o conselheiro. Você não sabe nada sobre mim, não mais.
— Sei o suficiente. — Adrian respondeu.
— Mesmo? — ela cruzou os braços. — Então me diga: o que você acha que sabe?
Ele deu um meio sorriso, irritante.
— Que você vai ter problemas se continuar achando que o mundo gira ao seu redor.
Ela abriu a boca, indignada.
— Você é ridículo!
— E você é previsível. — ele completou.
Eleonora estreitou os olhos, virou nos calcanhares e saiu pisando forte, sem olhar para trás.
Mas Adrian observou ela ir embora, com um meio sorriso no canto dos lábios.
— Bem-vinda ao internato, Eleonora.— Murmurou para si mesmo.
Mal sabia ele: isso era só o começo