OLIVER
Eu nunca acreditei em destino e esses tipo de coisas, para mim o destino é como uma tempestade de areia vindo em nossa direção, esfregando em nossa cara o desejo de ser diferente daquilo que somos , e essas é uma das piores tragédias de como o destino pode castigar o homem, o desejo de ser outro diferente daquilo que somos, não pode arder um desejo no coração humano mais doloroso do que esse, porque não é possível suportar a vida de outra maneira apenas sabendo que nos conformamos para nós próprios e para o mundo, temos de nos conformar com aquilo que somos e ter a consciência quando nos conformamos de que em troca dessa sabedoria não recebemos elogios da vida, não nos põe no peito nenhuma condecoração por sabermos que somos vaidosos e egoístas, não temos que saber que por nada disso recebemos recompensas ou valores, temos de suportar esse é o segredo .
Antes de sofrer o maldito acidente que além de matar meu pai deixou-me cego, eu não era uma boa Pessoa, tão pouco sou agora.
Minha capacidade de ser bom naquilo que eu gostava de fazer, transformou-me em uma Pessoa orgulhosa e presunçosa, mesmo tendo diante de mim somente a fria escuridão, posso ver com clareza que eu não sou quem eu realmente gostaria de ser, é uma merda você ter que reconhecer que tudo o que viveu antes não passou de uma ilusão, fama, poder, dinheiro, beleza, ardentes paixões, não têm nenhum valor agora.
Afastei-me das pessoas, por que não queira sentir sua pena e compaixão, em minha cabeça eu as ouvia dizer: coitadinho do Oliver , tão jovem , tão lindo e inteligente mas agora não pode fazer mais nada.
Agora percebo que esse maldito pensamento só estava em minha cabeça.
Foram necessárias umas poucas semanas ao lado de uma Pessoa irritantemente persistente e insuportavelmente tagarela, para quebrar o muro de pedras que eu ergui ao redor de mim, Felicity uma voz sem rosto, meu grilo falante, essa garota não faz idéia da confusão que causou dentro de mim, me expus a ela mas do que a qualquer outra pessoa, ela foi a única que me viu chorar dessa forma tão desarmada , eu não sei explicar, têm algo nela diferente de tudo o que eu já senti antes, por um momento eu sentir vontade de ser diferente, de pensar diferente, quando seus braços envolveram-me em um abraço apertado e cheio de ternura e carinho, senti que estava no lugar certo , que aquele abraço sempre fora meu, de alguma forma Felicity alcançou-me, não sei como, mas quando senti seus lábios juntos aos meus, sentir como se eu estivesse beijando o próprio sol, e foi nessa hora que eu desejei com todas as minhas forças ser outra pessoa, muito melhor do já fui um dia , e com certeza melhor do que sou agora.
Depois do nosso momento no piano, Felicity não disse nada, e dessa vez seu silêncio doeu, nunca pensei que chegaria o momento em que seu silêncio me deixaria tão triste, agora tudo o que eu mais queria era ouvir sua irritantemente porem, doce voz.
— Oliver... a ouvi me Chamar,
Sentir meu coração acelerar, demorei um pouco para atender, minha mente ultimamente me pregava peças.
— Oi , respondi timidamente.
— Algum problema? perguntei exitante.
— Podemos conversar? ... eu sei que você não gosta de conversar...
— Tudo bem, pode entrar, a interrompi. Ouvi seus passos caminharem lentamente em minha direção , a cada passo que ela dava meu coração acelerava um pouco mais.
Me afastei um pouco na cama esperando que ela sentasse ao meu lado, mas ela não o fez, isso também me incomodou.
— Se é sobre o beijo...
— Não precisamos falar sobre isso, interrompeu-me, assenti tristemente, eu queria falar sobre como seus lábios tão doce ascendeu algo dentro de mim.
— Quer falar sobre o que então? perguntei curioso.
— Na verdade tenho duas coisas pra falar com você , sorrir minimamente, não seria ela se não tivesse mais de uma coisa pra falar.
— Tudo bem, estou ouvindo, falei educadamente, até senti-me estranho por isso.
— Primeiro queria saber de você... , começou exitante.
— Você não gostaria de falar com um especialista pra ver se ele têm um parecer diferente dos outros médicos...
— Já fiz tudo o que estava ao meu alcance Felicity! a interrompi.
— Talvez ainda dê pra fazer alguma coisa Oliver, você não ouviu todos os especialistas...
— Ouvi o suficiente, eu já estou conformado, respondi amargamente e um suspiro pesado escapou de sua garganta.
— Qual a outra coisa que você queria falar? perguntei tentando mudar o rumo da conversa.
Felicity ficou em silêncio por alguns segundos, eu não podia vê-la, mas sabia que encarava-me nervosa, seus batimentos cardíacos estavam acelerado.
— Minha madrinha disse que hoje é seu aniversário, falou timidamente.
— Eu estava pensando se não podíamos ir até a cidade ver a sua família...
— Não! respondi de imediato e com a voz já alterada.
— Oliver você precisa... tentou argumentar mas a impedi.
— Não quero vê-las, não do jeito que eu estou, fui sincero.
— Por que? ouvi seus passos se aproximando de mim.
— Eu as magoaria, e elas não merecem, desabafei.
— Eu não as conheço, mas sei que elas sentem sua falta, assim como eu sei que você sente a falta delas.
— Como você pode saber o que eu sinto? fui ríspido.
— Quando estávamos tocando piano eu te vi Oliver! não estou falando da sua figura física, estou falando da sua alma, você sofre...
— Não sei do que está falando a cortei.
— Você sente culpa, pela morte do seu pai, ele gostava de tocar piano como você...
— Como você sabe disso? perguntei alarmado, como ela podia saber tanto sobre mim? logo eu que tentava a todo custo me esconder.
— Isso não importa agora Oliver!
— Eu estava pensando ... , talvez seu problema seja mais fácil de resolver do que pensa...
— Felicity eu não estou gostando do rumo dessa conversa, a interrompi.
— Oliver você pode até me mandar embora, mas você vai ouvir o que tenho pra falar...
— Está se excedendo e isso não será bom pra nenhum de nós dois, a advertir.
— Pode ser, mas vou me arriscar mesmo assim, respondeu corajosa.
— Te conheço a menos de um mês, mas parece que te conheço a anos Oliver, por que eu sentir a sua dor... , senti o quanto você sofre e sei o quanto a solidão te machuca.
— Você não percebe o que está fazendo com você mesmo né? você está se punindo Oliver, por algo que não foi sua culpa.
— Era eu que estava no volante aquela noite Felicity! gritei.
— Ele me pediu pra diminuir a velocidade e eu o ignorei ... e pra o chatear aumentei cada vez mais... admiti em prantos.
— Foi minha culpa, desisti de voltar a enxergar quando reconheci que eu podia ter evitado o maldito acidente, eu não me lembro sobre o que discutiamos, mas eu sei que a culpa foi minha, confessei, minha voz não passava de um sussurro sofrido.
— Eu mereço isso, mereço a solidão...
— Ninguém merece viver sozinho Oliver! interrompeu-me.
— Até por que você não é o único a sofrer, seus amigos e sua família sofrem tanto ou mais que você, você nunca parou para pensar nisso?
Elas não perderam só o seu pai Oliver, perderam você também.
Reprimi meus soluços, Felicity mais uma vez estava certa, como sempre fui egoísta e pensei só em mim.
Senti o leve toque dos seus dedos secarem minhas lágrimas, como Felicity conseguia me alcançar dessa forma.
— Me abraça... pedi entre lágrimas, seu abraço era tão aconchegante , tão quentinho, era como um porto seguro para mim.
Felicity então abraçou-me, e mais uma vez desejei não ser mais eu, e sim outra pessoa, uma pessoa muito melhor do que eu jamais fui.
FELICITY
Ninguém avança na vida em linha reta, muitas vezes não paramos na estação indicada no horário certo, por vezes saímos do trilho, por vezes perdemos o voo e desaparecemos como pó simples assim.
Percebi no instante em que as lágrimas de Oliver caíram sobre suas mãos enquanto dedilhava o piano, que sua dor tinha uma raiz, e ela estava tão profunda dentro de si que seria difícil arrancar, sabe o ditado que diz, que o pior cego é aquele que não quer ver? ele é muito verdadeiro é faz todo sentido, conversando com minha madrinha, cheguei a conclusão que Oliver sentia culpa e estava se punindo, dava pra ver que ele não era uma má pessoa, e que no fundo tinha bom coração como minha madrinha disse, mas eu precisava fazê-lo enxergar a si mesmo como eu o via, uma pessoa como todas as outras , com defeitos e qualidades .
Nossa conversa estava sendo bastante reveladora, Oliver podia até tentar mas não conseguia esconder suas emoções de mim por muito tempo, meu coração apertou-se quando em lágrimas ele pediu-me um abraço, imediatamente o abraçei tão forte que senti cada célula de seu corpo respirar aliviada.
— Está tudo bem Oliver! não precisa sentir-se envergonhado por chorar ...
— Que feitiço você jogou em mim Felicity? por que não consigo me esconder de você?
Sua voz saiu arrastada por conta do choro.
— Eu causo esse efeito nas pessoas, brinquei sorridente.
— Eu pedi pra Raissa fazer um jantar especial pra comemorarmos seu aniversário, te esperamos as oito em ponto no salão principal ...
— Se eu me recusar a ir você vai trazer essa comemoração até aqui né? interrompeu-me.
— Olha só! você ja me conhece tão bem, estou orgulhosa de você, brinquei tocando levemente seu ombro e finalmente ele ofereçeu-me um meio sorriso.
— Correndo o risco de você gritar comigo etc... e tal ...
— Já está mais que provado que você não têm medo de mim e consequentemente meus gritos não a assustam mais, comentou em um tom descontraído.
— Verdade , concordei confiante.
— Peça Felicity , falou sério.
— Eu quero que ligue para a sua mãe, falei exitante e o senti vacilar.
— Ela ja deve ter ligado para a Raissa, eu sei que ela sempre liga, respondeu de imediato, suspirei cansada.
— Você podia surpreendê-la ligando você mesmo, seria um presente para você mesmo Oliver! não quer ouvir a voz dela e saber como ela está? perguntei temerosa.
— Sim! respondeu tão baixo que fiquei na dúvida se tinha escutado direito.
— Então por que não liga, não será bom somente para ela, você com certeza será o mais beneficiado ....
— Tudo bem, mais tarde quando eu descer eu tento ligar, é um pouco difícil conseguir uma ligação daqui de onde estamos...
— Eu já trouxe o telefone, Raissa me deu o número, falei enquanto digitava...
— Você é incrível! falou em um tom de repreensão, o ignorei completamente.
— Olha já está chamando, coloquei no viva voz, vou sair pra você ficar mais a vontade...
— Não saia, fique, por favor, pediu-me com uma voz tão doce que até arrancou-me um sorriso emocionado.
— Alô, parei de respirar assim que ouvi a voz feminina do outro lado.
— Alô, têm alguém ai, a voz que eu ainda não sabia a quem pertencia, perguntou impaciente, toquei no braço de Oliver pra que ele dissesse alguma coisa antes que a pessoa desligasse.
— Olha só eu vou desligar tenho mais o que fazer...
— Oi Speedy, Oliver finalmente encontrou coragem pra falar.
— Ollie! aí meu Deus é você mesmo? ... mamãe é o Ollie no telefone, fiquei surpresa e emocionada ao ouvir a animação da garota do outro lado da linha.
— Filho, Oliver é você?
— Oi mamãe, percebi os lábios de Oliver tremer tamanha era sua emoção.
— Meu menino lindo, estou com tanta saudades de você, levei a mão a boca tentando assim abafar meu choro quando percebi uma lágrima solitária rolar no rosto de Oliver.
— Eu também sinto saudades mãe, liguei só pra dizer que estou bem e pedir pra não se preocuparem comigo...
— Ollie quando você vai voltar pra casa? sinto sua falta ...
— Não sei Thea, eu também sinto sua falta maninha, Oliver tentava engolir com muita dificuldade sua própria emoção.
— Feliz aniversário filho, queria tanto te abraçar meu menino lindo...
— Eu também quero te abraçar Ollie, amamos muito você está ouvindo?
— Eu também amo vocês duas , nos falamos depois..
— Tchau Ollie , tchau querido, assim que as duas se despediram , Oliver finalmente desmoronou, como eu disse, ele era o que mais sofria com a distância que ele mesmo impôs.