Chegamos no restaurante e por coincidência é o meu preferido desde criança.
Entramos e pedimos uma mesa.
- Senhorita Vitti, quanto tempo, nao esta mais gostando da nossa comida ? - Disse Senhor Gaspar, o dono do restaurante .
- Nao fale besteira Gaspar, sabe que eu sou uma apreciadora fiel do Royal. - Ele ri e nos acompanha até a mesa. - Eu quero o de sempre, por favor. - Digo quando ele entrega o cardápio.
- Claro, e os senhores?
- Vou querer o mesmo que a Lau. - Disse maddie sem nem abrir o cardápio, com sorriso enorme e convincente no rosto.
- Eu vou querer salmão cítrico e macarronada com molho branco. - Vítor pede bastante sério
Ele parecia não ter dentes. O homem nunca sorria
- Em instantes volto com os seus pedidos, com licença. - Gaspar saiu e Vitor me olhou estranho.
- Entao... - Ele diz pondo as duas mãos no queixo. - Você vem muito aqui ?
- Sim, meus pais são amigos do Gaspar. - Digo pondo o guardanapo de pano em minhas coxas.
- Que surpresa, uma babá que não precisa do salário. - Quanto sarcasmo, credo!
- Verdade, mas nem tudo é sobre o dinheiro, certo ? - Respondo com ironia vendo seus olhos soltarem fogos em minha direção.
- Certo. - Ele silábica as palavras e o vejo sorri ironicamente sem mostrar os dentes.
O silencio toma conta da mesa e Vítor nao desviava os olhos de mim, eu retribuía da mesma forma, parecia que estávamos em um jogo e quem piscasse primeiro seria o perdedor.
Nossos pedidos chegaram, eu não queria parecer a chata do local então iniciei uma conversa com a Maddie e quando me dei por conta estávamos todos os três rindo.
Dentes, finalmente vejo o seu sorriso tímido, sua risada era baixa mas gostosa de se ouvir. Ele tinha uma rasa covinha do lado esquerdo, sua boca era rosada e convidativa.
Mexo a cabeça afastando tais pensamentos e volto a prestar atenção em meu prato. Massa é o meu ponto fraco.
Eu não sei o por que, mas queria muito que ele gostasse de mim.
Voltamos para casa, Maddie dormiu o caminho inteiro, quando chegamos Vitor a pega no colo e leva até a cama, eu tiro seus sapatos e a deixo com o vestido, não queria acordar aquele anjinho so para vestir um pijama.
Tiro minhas sandalias e vou ao jardim.
- O aroma das flores desse jardim é o melhor do mundo. - Falo enquanto encosto meu nariz próximo as rosas brancas e violetas.
- Sim, concordo com você. - Escuto sua voz atrás de mim, um ar quente encosta em meu pescoço, sinto meu corpo tremer com aquela proximidade.
- Não me assuste desta forma. - Me viro para ele, seus olhos novamente pesam em mim e permanecem. - Tenho a impressão de que você já decorou cada parte do meu corpo de tanto que me olha, sabia?
- É proibido ? - disse rispidamente.
- Não, não é. Mas, tem algo errado comigo ? - Procuro em mim alguma sujeira, passo a mão no meu rosto tentando limpar, mas minhas mãos aparecem limpas.
- Errado? Não. - Vítor mexe a cabeça em negativa. Eu não sei explicar, mas há algo em você, como um ímã, sabe ? Atrai meus olhos até os seus. - Um sorriso de canto aparece em seus lábios.
- Acho que sei - Digo em tentativa de sussurro.
- Como? - Ele diz com os olhos cerrados e sobrancelhas comprimidas, tentando forçar o ouvido a ouvir meu sussuro
Meus olhos piscam rapidamente, olho em volta procurando algo que me tirasse daquele constrangimento.
- Esse jardim, ele é muito bonito. - Mudo de assunto tirando o clima intenso que se estabelecia naquele momento.
- Foi a mãe da Maddie quem fez. Ela fez tudo sozinha, não nos deixou ajudá-la em nenhum momento. - Abro a boca sem palavras e engulo seco.
- Ela tem um ótimo dom. Me pergunto onde ela está agora.
- Fugiu ou foi embora, a explicação da no mesmo. - As palavras saem com rancor da sua boca, mas sua feição não parecia afetada.
- Fugiu? Como foi isso? - Me mostro interessada mesmo percebendo que estava entrando em um assunto, que novamente, não era da minha conta.
- Ela fugiu, escreveu uma carta dizendo que não poderia mais fazer aquilo, e ela usou a palavra aquilo para se referir a ser mãe, mas isso. - Ele pausa, respira fundo, me olha novamente nos olhos, sua boca estava encolhida pra dentro. - Realmente não é da sua conta.
Que ser humano mais arrogante.
- Realmente nao é da minha conta. - Ele tinha razão, eu deveria parar de me intrometer onde nao era chamada, eu estou aqui há poucos dias e já me meti em mais enrascada do que na minha vida toda.
Ele concordou, ficamos parados no jardim e o silencio estava constrangedor, não havia mais palavras apenas dois pares de olhos tentando entender a alma um do outro.
Em um movimento involuntário nos aproximamos na mesma hora, ele coloca uma mão em meu rosto fazendo carinho com o polegar na minha bochecha.
Vitor da mais um passo chegando mais próximo de mim, seu pescoço curva pra baixo. Ele iria me beijar?
Inconscientemente eu impeço o que fosse que iria acontecer ali. Coloca as duas maos em seu peito e o afasto.
- Não. - Fecho meus olhos com força e respiro fundo. - Nao faça isso .
- Nao fazer o que ?
- Não seja essa pessoa. Não mexa comigo, você já fez isso muito em um único dia. - Saio o mais rápido de lá.
- Laura. - Escuto sua voz rígida e alta me chamar, meus pés me fincam na grama, penso em olhar pra trás e dar meia volta.
Mas, ao invés disso, volto a andar, abro a enorme porta e vou até o quarto de Madeline e a espero acordar.