capítulo 02

1135 Palavras
Maria Teresa Narrando Descanso, coisa que eu nunca tive, nunca conheci essa palavra, eu nasci e cresci pra viver na atividade, pra ser forte e me blindar de tudo, sempre foi assim e não era agora que eu iria baixar a guarda e descansar como todos sempre falam pra mim. Lembranças on Desde que vim ao mundo minha vida não foi fácil, meus pais biológicos nunca conheci, desde que me entendo por gente fui criada num orfanato. Estudei como pude, completei o ensino médio a duras penas, quando completei a maioridade eu tive que sair de lá e fui pras ruas. Vendi bala em sinal, água mineral na praia, morei debaixo do viaduto, até engajar nessas campanhas políticas e começar a ganhar um dinheirinho e promessas que graças ao maior lá de cima deu certo. No meio disso fui me aprumando e me organizando financeiramente até sair do barraco aonde eu estava e alugar um quarto, era só pra mim e era o suficiente. Mas, em uma dessas campanhas conheci o genitor do Bento. Assim como eu o Raul era jovem, cheio de planos, era cheio de mulheres mas quando bateu os olhos em mim já era. Ele com sua lábia e eu vulnerável me levou no bico, eu era esperta para muitas coisas, menos pra essa merda de sentimentos, que graças a Deus hoje eu sou blindada. A gente se envolveu, ele foi o meu primeiro, começamos a fazer planos, mas ele viajou assim quando eu engravidei, eu nem sabia que estava grávida, quando eu descobrir ele já tinha ido e tinha dito que não iria demorar a voltar. Me deixou em uma de suas casas, me deixou com dinheiro e foi embora. Nos primeiros dias nos falávamos todos os dias, mas depois ele sumiu, eu tentava contato com ele e nada. Mas aí veio a bomba, eu com quase cinco meses de gestação recebi a inesperada visita de uma mulher dizendo que era a dona da casa e eu neguei e foi aquela briga até ela dizer que ele era o seu Marido, ele tinha casado e mandou ela cuidar das coisas dele no Brasil. Meu mundo acabou ali, eu saí daquela casa sem forças e sem nada só com a roupa do corpo. Sai vagando pelas ruas do Rio, eu não raciocinava direito, eu não tinha ninguém além dele, não tinha pra onde ir mais uma vez e dessa vez eu estava grávida. Cheguei no pé do morro do Cantagalo e debaixo de uma coberta que tinha por perto eu me sentei, suja, com fome, meu filho me chutando com fome e eu só sabia chorar. A chuva estava forte aquela noite e estava muito frio, era inverno e eu não estava passando bem e antes de eu ver um vulto eu desfaleci. Acordei horas depois no hospital, cheia de aparelhos e acesso com soro na veia. Eu nem sabia aonde eu tinha ido parar e as lágrimas automaticamente rolaram no meu rosto e automaticamente coloquei a minha mão na barriga e o meu bebê mexeu e agradeci a Deus por ele está ali ainda firme comigo. A porta do quarto se abriu e passando por ela um homem alto, forte, já com um pouco de idade e com seus olhos pesados de cansaço. Ele se apresentou como Rui, ele era o dono do morro e os seus soldados e o Chico seu sub tinham me encontrado e ele veio aqui me ver, ele me deu abrigo, cuidou de nós dois, vibrou quando descobriu que era um menino e na mesma época a filha dele a Mirela estava grávida da Mayra e ele estava no céu, o Rui foi o pai que eu nunca tive e ele amava os netos. As crianças nasceram e já estavam com um pouco mais de um ano, foi quando houve uma invasão aqui. Ele e o Marido da Mirela foram atingidos, foi desesperador, o Chico sempre esteve por perto ele era o braço direito do Chefe como todos chamavam ele, o Luiz morreu no confronto ele era gerente de uma das bocas e o Rui ainda foi socorrido mas não resistiu, ele morreu e uma parte de mim foi junto. A Mirela não quis assumir, eu não sabia, mas ele tinha conversado com ela e tinha dividido tudo que ele tinha dentro e fora do morro pra nós duas, tinha alinhado com o Chico que ele seria o braço direito e esquerdo de quem assumisse o morro e a Mirela não quis e eu tomei a decisão de assumir o morro. Fui treinada em tudo, me dividia entre a maternidade e o morro, até que coloquei uma senhora dentro de casa pra cuidar das coisas, confiei, p***a era uma senhora, mas aí a filha da p**a tava me roubando e ainda mais descobri que ela estava negociando o meu filho pra venda, ela foi a minha primeira morte e matei com gosto sem pena e sem remorso é por isso que não confio em ninguém dentro da minha casa, da casa que era do meu pai que eu fiquei morando depois que ele se foi. Eu e a Mirela sempre fomos amigas, desde que nós nos conhecemos, cada uma com suas dores, mas, sempre uma sustentando a outra. Hoje eu tenho quase trinta anos, quase dois anos e meio no comando do morro e eu só queria meu pai aqui comigo, foi ele quem me transformou nessa mulher forte que sou hoje, na dona do morro f**a. Lembranças off Mt - Eu acho que se eu parar eu morro, eu aprendi com o melhor o que é dormir com um olho aberto e outro fechado, aprendi que o que engorda o negócio é o olho do dono. Eu não posso piscar Chico e nem vacilar, essas sempre foram as palavras dele e as suas pra mim e eu aprendi direitinho. - falo pra ele que concorda pensativo. Chico - Você sabe que tem que recomeçar, em algum momento você tem que recomeçar. - ele fala e eu n**o na hora. Mt - Tô bem assim, tô blindada, eu tô bem com meu morro, com o Ben e com vocês comendo o meu juízo. - falo pra ele que n**a rindo e eu olho a hora e vejo que o tempo passou que eu nem percebi. - Já que está tudo organizado, vou me dar ao luxo de ir no salão e mais tarde a gente se encontra no baile. - falei com ele me levantando e desligando tudo, acabou que eu nem olhei nada. Fiz o toque com ele e sai da boca em direção ao salão da Sol, eu mandei já uma mensagem pra ela me arrumar um encaixe e ela mandou eu ir, hoje, só por hoje vou me permitir a relaxar um pouco.
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