Armadilhas Silenciosa

832 Palavras
A nova holding m*l havia completado uma semana quando o primeiro golpe chegou — e não veio do mercado. Veio da justiça. Naquela manhã, Karen recebeu uma intimação oficial. A acusação era grave: fraude fiscal, formação de quadrilha e desvio de capital internacional. Tudo arquitetado com documentos falsos, testemunhas “fantasmas” e e-mails forjados. Ela largou o papel sobre a mesa, respirando fundo. — Ele foi longe demais — murmurou. David pegou o envelope, indignado. — Isso é loucura. A gente fez tudo limpo, com auditoria, consultoria jurídica… isso é uma armação, Karen. — E das boas. Porque agora, a imagem da nossa holding está sob ataque. Não importa se é verdade ou não, David. O estrago está feito. E foi isso que ele quis. — Thomas Grey… Karen assentiu. Pela primeira vez, David viu um lampejo de medo nos olhos dela. — Ele quer nos destruir, David. Não só os negócios. Quer a minha reputação. Quer você vulnerável. Quer ver a gente cair... pra então esmagar. --- Naquela noite, Karen recebeu uma ligação inesperada. Um número não identificado. Ao atender, ouviu uma voz metálica, distorcida por algum programa de modulação. — Cuidado com o que confia. Às vezes, o inimigo já está dentro. — Quem está falando? — Um velho conhecido… ou uma velha sombra. A ligação caiu. Karen sentou-se lentamente. Aquela voz ativou memórias antigas — um nome que ela nunca quis ouvir de novo. Um nome que a avó dela havia mencionado em sussurros antes de morrer. Um homem que tinha traído os pais dela no passado. Um nome enterrado com os cacos da infância. Roberto Vasconcellos. O ex-sócio do pai. Desaparecido após o acidente de carro que tirou a vida dos dois. Um homem que havia sumido do mapa — e que agora, aparentemente, ressurgia. --- Na manhã seguinte, a bomba estourou na mídia. > “Executiva brasileira Karen Diniz é investigada por fraude e evasão fiscal internacional.” “Diniz & Foster Global em crise de credibilidade: ações despencam.” David entrou na sala de reuniões e encontrou Karen olhando fixamente para o notebook, imóvel. — Precisamos fazer algo — disse ele, puxando uma cadeira. — Negar. Ir à imprensa. Expor Thomas. — Isso não será suficiente — ela respondeu. — Ele é bom. Muito bom. Estamos lidando com alguém que pensou nisso meses antes de dar o primeiro passo. — O que você propõe? Karen girou a tela do notebook e mostrou algo que David não esperava: fotos. Câmeras de segurança. Um armazém abandonado na Zona Oeste. — Isso aqui foi filmado há três noites. Um carregamento que deveria ter sido entregue à nossa nova filial em Miami. Mas foi desviado. E registrado como entregue. David franziu a testa. — Isso é roubo. — Não só roubo. É uma encenação. Alguém está falsificando operações para justificar a tal "fraude" da qual me acusam. Eles criam o rombo, depois me acusam de ter desviado. — E você descobriu sozinha? — Com ajuda de Heitor. E de uma fonte anônima que me ligou ontem. — Essa tal sombra? — Exato. David esfregou as têmporas. — Isso está ficando mais sombrio do que imaginei. — Está. E vai piorar. Porque agora eu quero ir até o fim. Quero puxar cada fio desse novelo até descobrir onde está o verdadeiro centro da teia. — Mesmo que isso te coloque em perigo? Karen o encarou com firmeza. — Eu não cheguei até aqui pra recuar. Se alguém tem que cair, não serei eu. --- Do outro lado da cidade, Thomas Grey assistia às notícias com um copo de uísque nas mãos. — Ela vai lutar — comentou, olhando para o homem que estava à sua frente. — Sempre lutou — respondeu Roberto Vasconcellos, com um sorriso torto. — Mas agora, ela tem mais a perder do que nunca. — E quanto ao arquivo? — Já estou providenciando. Se ela cavar demais, vai descobrir sobre a morte dos pais. E se descobrir… tudo muda. Thomas estreitou os olhos. — Então enterre isso de novo. E se não puder enterrar… destrua. --- No dia seguinte, Karen acordou com um envelope anônimo sob a porta. Dentro, havia uma única folha com uma frase escrita à mão: > “Você acha que perdeu seus pais num acidente. Mas o carro foi sabotado.” O mundo dela girou. Ela se sentou lentamente, encarando aquela frase como se fosse uma sentença. As mãos tremiam. O coração batia descompassado. David entrou na sala e a encontrou assim — pálida, em choque. — O que houve? Ela entregou o bilhete sem dizer uma palavra. Ele leu. Ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, sentou-se ao lado dela. — Vamos descobrir a verdade, Karen. Juntos. Ela o olhou com olhos marejados, mas a raiva crescendo por trás. — Se ele destruiu minha família… eu vou destruir tudo o que ele ama. Tudo. E naquela manhã, Karen Diniz deixou de ser apenas uma empresária atacada. Ela se tornou a caçadora.
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