A nova holding m*l havia completado uma semana quando o primeiro golpe chegou — e não veio do mercado.
Veio da justiça.
Naquela manhã, Karen recebeu uma intimação oficial. A acusação era grave: fraude fiscal, formação de quadrilha e desvio de capital internacional. Tudo arquitetado com documentos falsos, testemunhas “fantasmas” e e-mails forjados.
Ela largou o papel sobre a mesa, respirando fundo.
— Ele foi longe demais — murmurou.
David pegou o envelope, indignado.
— Isso é loucura. A gente fez tudo limpo, com auditoria, consultoria jurídica… isso é uma armação, Karen.
— E das boas. Porque agora, a imagem da nossa holding está sob ataque. Não importa se é verdade ou não, David. O estrago está feito. E foi isso que ele quis.
— Thomas Grey…
Karen assentiu. Pela primeira vez, David viu um lampejo de medo nos olhos dela.
— Ele quer nos destruir, David. Não só os negócios. Quer a minha reputação. Quer você vulnerável. Quer ver a gente cair... pra então esmagar.
---
Naquela noite, Karen recebeu uma ligação inesperada. Um número não identificado. Ao atender, ouviu uma voz metálica, distorcida por algum programa de modulação.
— Cuidado com o que confia. Às vezes, o inimigo já está dentro.
— Quem está falando?
— Um velho conhecido… ou uma velha sombra.
A ligação caiu.
Karen sentou-se lentamente. Aquela voz ativou memórias antigas — um nome que ela nunca quis ouvir de novo. Um nome que a avó dela havia mencionado em sussurros antes de morrer. Um homem que tinha traído os pais dela no passado. Um nome enterrado com os cacos da infância.
Roberto Vasconcellos.
O ex-sócio do pai. Desaparecido após o acidente de carro que tirou a vida dos dois. Um homem que havia sumido do mapa — e que agora, aparentemente, ressurgia.
---
Na manhã seguinte, a bomba estourou na mídia.
> “Executiva brasileira Karen Diniz é investigada por fraude e evasão fiscal internacional.”
“Diniz & Foster Global em crise de credibilidade: ações despencam.”
David entrou na sala de reuniões e encontrou Karen olhando fixamente para o notebook, imóvel.
— Precisamos fazer algo — disse ele, puxando uma cadeira. — Negar. Ir à imprensa. Expor Thomas.
— Isso não será suficiente — ela respondeu. — Ele é bom. Muito bom. Estamos lidando com alguém que pensou nisso meses antes de dar o primeiro passo.
— O que você propõe?
Karen girou a tela do notebook e mostrou algo que David não esperava: fotos. Câmeras de segurança. Um armazém abandonado na Zona Oeste.
— Isso aqui foi filmado há três noites. Um carregamento que deveria ter sido entregue à nossa nova filial em Miami. Mas foi desviado. E registrado como entregue.
David franziu a testa.
— Isso é roubo.
— Não só roubo. É uma encenação. Alguém está falsificando operações para justificar a tal "fraude" da qual me acusam. Eles criam o rombo, depois me acusam de ter desviado.
— E você descobriu sozinha?
— Com ajuda de Heitor. E de uma fonte anônima que me ligou ontem.
— Essa tal sombra?
— Exato.
David esfregou as têmporas.
— Isso está ficando mais sombrio do que imaginei.
— Está. E vai piorar. Porque agora eu quero ir até o fim. Quero puxar cada fio desse novelo até descobrir onde está o verdadeiro centro da teia.
— Mesmo que isso te coloque em perigo?
Karen o encarou com firmeza.
— Eu não cheguei até aqui pra recuar. Se alguém tem que cair, não serei eu.
---
Do outro lado da cidade, Thomas Grey assistia às notícias com um copo de uísque nas mãos.
— Ela vai lutar — comentou, olhando para o homem que estava à sua frente.
— Sempre lutou — respondeu Roberto Vasconcellos, com um sorriso torto. — Mas agora, ela tem mais a perder do que nunca.
— E quanto ao arquivo?
— Já estou providenciando. Se ela cavar demais, vai descobrir sobre a morte dos pais. E se descobrir… tudo muda.
Thomas estreitou os olhos.
— Então enterre isso de novo. E se não puder enterrar… destrua.
---
No dia seguinte, Karen acordou com um envelope anônimo sob a porta. Dentro, havia uma única folha com uma frase escrita à mão:
> “Você acha que perdeu seus pais num acidente. Mas o carro foi sabotado.”
O mundo dela girou. Ela se sentou lentamente, encarando aquela frase como se fosse uma sentença. As mãos tremiam. O coração batia descompassado.
David entrou na sala e a encontrou assim — pálida, em choque.
— O que houve?
Ela entregou o bilhete sem dizer uma palavra. Ele leu. Ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, sentou-se ao lado dela.
— Vamos descobrir a verdade, Karen. Juntos.
Ela o olhou com olhos marejados, mas a raiva crescendo por trás.
— Se ele destruiu minha família… eu vou destruir tudo o que ele ama. Tudo.
E naquela manhã, Karen Diniz deixou de ser apenas uma empresária atacada.
Ela se tornou a caçadora.