Lorena Gonçalves
Eu sem dúvidas amava aquelas crianças, amava aquela casa e sempre amei, eu sempre gostei de cuidar de quem precisava, seja ela criança, adulto ou senhores, até por que sempre foi uma paixão minha ajudar as pessoas.
E como já falava aquele ditado "Fazer o bem sem olhar a quem", e a Renata minha amiga e que era dona do abrigo sempre falava que eu já tinha um lugar garantido no céu, eu sempre fui uma pessoa bem apegada nas crianças ainda mais na Cecília e o meu maior sonho era adotar ela.
Mas o Luciano só faltou me expulsar de casa quando havia achado ela e levei ela lá para casa, ele não é um bom marido, eu conheci ele quando ainda era novinha e então me apaixonei, eu larguei tudo por ele, meus pais e amigos, e como sempre falam nem tudo é flores e depois sempre vem as dores.
E depois que passa essa fase do amor e carinho vem os tapas, os socos,os chutes e depois de algumas vezes eu já estava acordando no posto toda vez que ele chegava bêbado em casa, e eu já perdi as contas de quantas vezes eu denunciei ele ou tentei denunciar ele para o José.
Mas ainda assim é a mesma coisa que nada, José sempre dizia que eu tinha que aguentar aquilo por ser mulher dele e que mulher folgada tinha que apanhar mesmo, aquele velho nojento, e todo mundo odiava o José nessa favela, e alguns vapores até tentaram dar um susto no Luciano.
Mas não adiantava muito por que no dia seguinte ele já estava me agredindo novamente, e eles também não podiam matar por que se não eles iriam morrer até por que ninguém tinha dado o aval para aquilo, e eu não queria sair daqui, eu não tinha casa e muito menos dinheiro por que segundo o Luciano eu tinha que ficar em casa fazendo comida pra quando ele chegasse.
E eu odiava isso até por que eu sempre gostei de trabalhar para conseguir o meu dinheiro e não ter que depender de ninguém, mas eu também não queria sair daqui por causa das crianças, não queria deixar a Cecília sozinha, ela era uma criança batalhadora com tão pouca idade.
Ela conseguiu sobreviver nas mãos daquela vagabunda da mãe dela, e todo mundo conhecia a mulher, mas ninguém sabia que ela tinha uma filha pequena, e tanto ela quanto o Heitor criaram um vínculo muito forte, eles eram melhores amigos e eu simplesmente achava lindo.
Ele defendia ela de absolutamente qualquer coisa, e eu até confesso que fiquei bem apreensiva quando o casal veio adotar alguma das crianças, mas eles ficaram olhando bastante para o Heitor, e claro que ele merece uma família ele também já sofreu demais, mas a Cecília irá ficar arrasada se ele for embora.
A Renata não pode vir hoje por que o filho dela está doente então pediu para que eu ficasse no abrigo, e acho que foi bom por que pelo menos eu irei estar ao lado deles.
— E então vocês ficaram interessados em alguma criança ? — pergunto sorrindo apreensiva e vejo os dois sorrirem
— Pra falar a verdade sim, nos gostamos bastante do Heitor, mas não tivemos muito tempo para conversarmos com ele, até por que as crianças são bem animadas — Erica fala sorrindo e eu solto um suspiro discreto
— É eu imaginei que vocês ficariam interessados nele, o Heitor é um menino muito bom, e bastante inteligente, tem 16 anos, e ele tem um laço bem forte com uma das garotas que vive aqui, a Cecília eles estavam juntos lá na sala
— Sim nós percebemos isso, mas nós ficamos bem interessados nele — Thiago fala e vejo ele sorrir
— E como ele chegou aqui ? — Erica pergunta e eu vejo os dois se olharem e depois me olham e eu franzo o cenho mas disfarço
E aquilo era normal, era um casal que queria saber como a criança chegou aqui.
— O Heitor já sofreu muito, ele era criado pela avó que acabou falecendo um tempo depois, e então queriam levar ele para um reformatório e ele acabou fugindo, viveu nas ruas por alguns anos e até passou fome, até que ele passo na frente do morro e o José dono daqui trouxe ele pra cá — e nesse dia eu até achei estranho por que o José nunca ajudou ninguém
Ficamos conversando por mais um tempo e depois eu saí para buscar o Heitor, entro na sala e vejo as crianças brincando e eu solto um suspiro vendo a Cecília e o Heitor em um canto da sala conversando.
— Heitor eu posso falar com você por favor ? — pergunto e ele me olha sério
— Eu não vou falar com eles Lorena— ele fala sério e eu solto um suspiro vendo a Cecília me olhar
— Heitor é uma família que está querendo te adotar — falo tentando fazer ele compreender, e não era todo dia que vinha alguém aqui para adotar as crianças ainda mais sendo as mais velhas
— Eu não vou não, eu não quero ir — ele fala olhando para o outro lado
— Vai lá Heitor, é uma família — Cecília fala dando um sorriso de lado, mas que ainda assim era triste e eu vejo ele soltar um suspiro
— Eu vou lá falar com eles, mas eu não vou embora não — ele fala e me segue