Episódio 5

1409 Palavras
Sônia Agora estou literalmente morando num quarto de hospital. Anna disse que preciso de paz, tanto física quanto emocional. O sangramento não voltou e agora Anna cuidadosamente considera a minha condição satisfatória. — Bem, o pior já passou, mas vou ser sincera. A ameaça não desapareceu e podemos chegar à sala de operações a qualquer momento. Então vou chegar a um acordo com você. Imagine que você é um vaso. Feito de vidro fino e delicado. E com qualquer movimento descuidado você pode se desintegrar. Então se você quiser ver o rosto do seu bebê você precisa se cuidar. Confio nela incondicionalmente, então faço tudo como ela diz. Não saio da cama a menos que seja absolutamente necessário. Como tudo e tomo as vitaminas e, embora não tenha apetite nenhum, como tudo sem deixar vestígios. No resto do tempo, tudo o que posso fazer é ficar ali deitada e pensar. O meu coração bate mais rápido e mais forte quando penso em quem está crescendo dentro de mim. Ele é apenas um pequeno ponto ainda, mas já se tornou a parte mais importante da minha vida. Tenho medo de perder o meu filho, estou esperando por ele há tanto tempo e sonhei tanto com ele. Ele é muito pequeno e frágil, mas farei todo o possível para ajudá-lo a nascer e crescer saudável e forte. Sinto-me inundada de amor e ternura sem limites quando converso com ele. Anna me ensinou isso também. Posso conversar com o meu bebê por horas. Afago a minha barriga e digo como viveremos quando ele nascer. Prometo ser a melhor mãe do mundo para que ele nunca se arrependa de ter me escolhido. Estou pronta para lutar por ele com o mundo inteiro. Odeio o meu próprio corpo porque ele rejeita o meu filho. Não quero pensar que não terei sucesso. Eu nem permito que tal pensamento ocorra. Continuo esperando desesperadamente que tudo dê certo e, embora pareça fraca e indefesa por fora, na verdade, estou fazendo todo o possível para salvar o meu bebê. Mesmo que isso signifique ficar ali deitada e pensando. Limitar-se fisicamente não é nada difícil. Mas quando se trata de emoções, é muito mais difícil para mim. Milhões de vezes. A incerteza dá lugar à ansiedade, a ansiedade à desesperança. Os meus pensamentos vão da esperança ao desespero e tenho grande dificuldade em lidar com eles. É muito difícil me forçar a não pensar em como seria bom ficar deitada em casa assim, para que o meu marido cuidasse de mim. Ele consegue fazer isso como ninguém, muito melhor que a minha mãe. Quando eu estava doente, ele me colocou na cama mesmo com febre baixa. E me banhei no seu cuidado e atenção. Agora ele tem alguém para cercar de atenção e carinho. Mas aqui tudo se torna completamente insuportável, porque qualquer lembrança de Leo perfura o coração com uma faca afiada. Eu luto comigo mesma, tentando não chorar, não perseguir arrependimentos dolorosos sobre o nosso passado. A nossa familiar feliz. Ontem Leonardo voltou, esta é sua terceira visita. Até agora sem sucesso, mas não sei por quanto tempo a equipe conseguirá mantê-lo afastado. Suspeito que ele ainda não conseguiu subornar ninguém só porque os funcionários têm medo do marido de Anna, o médico-chefe do hospital. E da própria Anna também. Da última vez ele não teve permissão para entrar no departamento, mas ontem conseguiu chegar até a porta do meu quarto. Ele tentou entrar à força, mas reuni forças e gritei que não queria vê-lo. Não sei se ele ouviu ou não, mas tudo ficou quieto do lado de fora da porta. Então ouvi passos pesados ​​​​se afastando pelo corredor e as minhas entranhas começaram a ferver, como se estivesse numa caldeira a vapor superaquecida. É verdade, não quero vê-lo porque tenho medo. Tenho medo de ver o seu rosto, de olhar nos seus olhos. E definitivamente não serei capaz de resistir ao toque dele. Ele destruiu tudo o que havia entre nós, m*al consigo imaginar como continuarei a viver. Aquele que eu amava e confiava revelou-se um simples enganador. Ele traiu a mim e ao nosso casamento. Tudo em que eu acreditava estava quebrado naquele quarto junto com aquele copo. E cada tentativa que ele faz para entrar no meu quarto mostra toda a minha vulnerabilidade. Anula todos os esforços para pacificar pensamentos e lidar com emoções. A dor que eu vinha empurrando diligentemente para as profundezas, desperta novamente no meu peito. Agora parece que nunca mais irá embora. Não sei como lidar com toda essa dor e angústia, mas tenho certeza que Leonardo não deveria me ver assim. Claro, teremos que encontrar com ele, pelo menos para nos divorciarmos. Ele já tem uma nova família, uma amada mulher, para carregar nos braços. Uma criança está a caminho, um filho tão esperado. Bem, por que ele precisa de mim? Como disse Lisa, de uma flor estéril? E tenho que me divorciar antes que a minha barriga comece a crescer, e realmente espero que o nosso divórcio não demore muito. Mas Leonardo não deveria ver o quanto estou machucada. Não quero que ele veja as lágrimas no meu rosto e a dor nos meus olhos. Não quero que ele saiba o quanto estou sofrendo. E que a sua traição me destruiu. Me sinto refém dos meus próprios sentimentos, tentando sobreviver nessa situação maluca. Preciso de tempo para me cuidar, é uma pena que tenho muito pouco tempo... — Sonia, filha. Ouço a voz da minha mãe, cheia de amargura e arrependimento. Abro os olhos. Eu nem percebi como adormeci. Mamãe olha para mim com a cabeça baixa e lágrimas nos olhos. ‎ ‌​​​‌‌ ​‌‌​‌A gratidão vem numa onda. Mamãe está do meu lado, o que significa que posso confessar a ela. E sinto um alívio sem precedentes, afinal, este é um fardo muito pesado apenas para mim. Não suporto mentiras de jeito nenhum. Mas se a minha mãe me ajudar, será muito mais fácil para mim me esconder do Leonardo com a criança... — Bem a sua saúde está tão delicada que você perdeu o bebê? Bem, está tudo bem, você precisa engravidar de novo rapidamente para que essa vagabun*da não pegue o seu marido. Diz a minha mãe, e eu abro os olhos em estado de choque. — Mãe? Pergunto, me apoiando nos cotovelos. — Como você sabe?.. Não me atrevo a dizer “sobre a amante”, mas posso ver pelos olhos da minha mãe que ela me entendeu perfeitamente. — Leonardo me contou. Você sabe… Ela suspira e se aproxima da cama. — Ele veio até mim ontem tão arrasado. Ele disse que você não o deixaria entrar e me pediu ajuda. Fiquei com muita pena dele... — Pena dele? E ele disse porque eu não deixaria ele entrar? Sinto uma onda furiosa subindo de dentro, e com um esforço de vontade me forço a me acalmar. — Ele disse por que não quero vê-lo? — Sim. Fica claro que a mãe estava esperando por essa pergunta e se preparou. Ela pega a minha mão e fala rápido para que eu não tenha tempo de interrompê-la. — Sim, ele me contou tudo, Sónia. Conversamos durante três horas e você mesma sabe o que isso significa para seu marido. É verdade, Leonardo dificilmente pode ser chamado de falador. Anteriormente, isso não me parecia uma desvantagem, mas agora... Agora eu não deveria me importar. Não quero saber do que estavam falando, mas minha mãe continua a falar hesitante e apressada: você me conhece, estou sempre torcendo por você. Quando descobri que você teve um aborto espontâneo, pensei em matá-lo. Mas ele me implorou para ouvi-lo. Pelo bem da sua família. Sinto que a minha mãe está me contando o enredo de um dos melodramas que passam sem parar na TV e que ela adora. A minha mãe está aqui por mim? A minha mãe estava pronta para matar Leonardo por minha causa? Ele implorou para que ela o ouvisse? Isso não é mais melodrama, é fantasia. Talvez a Netflix tenha filmado uma nova série e a minha mãe esteja recontando o próximo episódio para mim? — Foi quando ele admitiu que te traiu, que a amante dele estava grávida. E você descobriu isso e perdeu o filho que estava esperando. E agora você não quer vê-lo. — Ele me trai... Grávida...
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