O salão da mansão Mazaki, decorado para o casamento que jamais aconteceria, estava tomado por tensão. Minay chorava no chão, o vestido amarrotado, soluçando como se o mundo tivesse acabado. A irmã biológica se contorcia de dor e indignação, completamente incapaz de perceber que sua própria culpa havia sido exposta para todos.
Kayo, a mãe, avançava de um lado para o outro, a voz aguda cortando o ar:
— “Você tem ideia do que fez, Linyin?! Você humilhou toda esta família! O seu casamento, a reputação da sua irmã… tudo! Como pôde expor nossa casa à vergonha pública?!”
Linyin permanecia sentada no sofá, as pernas cruzadas, fria e impassível. Observava a cena com a serenidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Nenhum tremor, nenhuma emoção fora de lugar.
— “Eu não humilhei ninguém, Kayo. Apenas mostrei a verdade que todos fingiam não ver.”
— “Chega!” — gritou Kayo, as mãos levantadas, pronta para intervir fisicamente se necessário. — “Você sempre foi ingrata! Sempre quis ser diferente da Minay!”
Foi então que a voz grave e firme de Hanzo, o pai adotivo, cortou a tensão:
— “Kayo! Basta!” — disse ele, caminhando lentamente até o centro da sala. — “Não vamos perder o controle agora. Linyin revelou apenas o que realmente aconteceu. Não culpe a criança por expor a verdade.”
Kayo estremeceu, mas permaneceu firme. Minay levantou o rosto, ainda chorando, os olhos marejados, buscando algum sinal de proteção ou compaixão.
— “Eu… eu não queria… foi um erro…” — gaguejou Minay, tentando parecer frágil, tentando fazer de si a vítima de todo o escândalo.
Linyin ergueu lentamente o queixo, observando a irmã biológica com olhos gélidos:
— “Um erro? Dormir com o noivo da própria irmã é um erro? Estranho… porque no vídeo parecia tudo muito consciente.”
Hanzo respirou fundo, a expressão séria, olhando para as duas filhas: a que chorava e a que estava imóvel.
— “Minay, você é culpada por isso. Mas Linyin não se enganou, e não se vingou de forma irracional. Ela apenas defendeu a própria dignidade.” — Sua voz era firme, quase um aviso.
Linyin se levantou calmamente, o som dos saltos ecoando no mármore, cada passo marcando sua autoridade silenciosa.
— “Eu fui levada do orfanato como uma criança. Ensinaram-me a obedecer, a sorrir, a ser fácil de enganar. Hoje, essa criança boba morreu.”
Minay tentou falar, mas as palavras se perderam em um soluço. Kayo recuou, assustada com a frieza que emanava da filha adotada.
Hanzo deu um passo à frente, tentando restaurar algum senso de ordem, mas sabia que não havia controle sobre o que Linyin já havia iniciado.
— “Agora vão se recompor. O que aconteceu, aconteceu. Mas lembrem-se: essa garota não é mais uma criança.”
Linyin cruzou a sala com calma, deixando Minay soluçando, Kayo atônita e Hanzo em silêncio, consciente de que sua filha adotiva havia mudado para sempre.
A mansão Mazaki parecia mais imponente do que nunca naquela manhã cinzenta. O sol se escondia atrás de nuvens pesadas, refletindo nas janelas de vidro e nas portas douradas, enquanto a vida de Linyin parecia ter mudado completamente nos últimos dias. Depois do escândalo do vídeo, da exposição de sua irmã adotiva Minay e do noivado cancelado, tudo havia se transformado.
Apesar de todas as intrigas e da humilhação pública, Linyin mantinha sua rotina. Ela era jovem, estudante de uma universidade pública, e, mesmo com toda a riqueza herdada da família adotiva, era idolatrada por sua força, coragem e independência. A mídia e os fãs a viam como um símbolo de resiliência — a garota que ousou enfrentar a família poderosa e ainda manter a própria dignidade intacta. Minay, por outro lado, começou a ser desprezada, alvo de comentários e críticas, enquanto Linyin ganhava cada vez mais respeito e popularidade.
Naquele dia específico, ela caminhava de volta da universidade, carregando livros e pastas, ainda imersa nos pensamentos sobre os eventos recentes. O estacionamento do seu carro parecia distante, e a rua estava relativamente vazia. Ela seguia tranquila, fingindo a habitual doçura que costumava exibir publicamente — sempre cuidadosa para não despertar suspeitas ou atrair atenção indesejada.
De repente, um rugido de motor cortou o ar. Uma moto desordeira surgiu do nada, desviando perigosamente entre os carros. Antes que Linyin pudesse reagir, tropeçou para trás, caindo sobre o chão áspero do estacionamento. O joelho bateu forte no cimento, rasgando a calça e abrindo um corte que imediatamente começou a sangrar. O choque e a dor fizeram-na gemer baixinho, mas a frustração subiu rápido: ninguém estava por perto, ninguém podia ajudá-la, e ela não podia simplesmente gritar ou xingar — precisava manter a fachada de inocência e gentileza.
Tentando ignorar a dor, tentou alcançar o carro, apoiando-se nos livros e na bolsa, mas a ferida no joelho queimava, dificultando cada passo. O motoqueiro, claro, já havia desaparecido, deixando apenas a confusão e o medo no ar.
Foi nesse momento que um carro preto parou ao lado, freando com elegância, quase de forma teatral. A porta se abriu, e ele apareceu. Um homem alto, maduro, com traços perfeitos, expressão firme e aura dominadora. Havia algo em sua presença que fez o mundo parecer se calar. Cada passo que dava era seguro, elegante, quase intimidante, e ele avançou para ajudá-la sem que ela precisasse pedir.
— Está bem? — perguntou, voz baixa, firme e profundamente calma. — Parece que se machucou bastante.
Linyin ergueu os olhos marejados, ainda fingindo dor e fragilidade. — Sim… obrigada… — respondeu, com um leve tremor na voz, o tom de doçura e inocência perfeitamente calculado.
Ele apoiou-a pelo cotovelo, ajudando-a a caminhar até o carro, cada movimento exalando poder e confiança. Ela não lembrava de tê-lo visto antes, mas algo em sua presença sugeria que não era apenas um desconhecido comum.
Horas depois, ela se encontrava numa mansão vastíssima, sentada em uma poltrona elegante, joelho ainda enfaixado e dor fingida evidente. Mantinha o semblante doce, calmo, com a postura impecável, enquanto ele, Kaito, tratava pessoalmente do pé ferido. Cada gesto seu era preciso, seguro, quase íntimo na atenção que dispensava, sem ser invasivo, mas deixando claro que ninguém poderia ignorar a força e o magnetismo daquele homem.
— Isso vai ajudar a reduzir a dor mais rápido — disse ele, ajustando cuidadosamente o curativo. A voz era calma, mas cada palavra parecia carregar um poder sutil de comando.
Linyin assentiu, o sorriso frágil e doce nos lábios, enquanto seus olhos escondiam a mente alerta, calculando, observando cada detalhe. Ela ainda era a jovem estudante e atriz doce aos olhos de todos, mas por dentro, cada movimento, cada gesto, era estratégia pura. E ali, naquela mansão silenciosa, com o homem misterioso ao lado, a sensação de que sua vida estava prestes a mudar completamente começou a se instalar.
Linyin permanecia sentada na poltrona enorme, o joelho ainda cuidadosamente enfaixado por Kaito. O curativo estava impecável, ajustado com uma precisão quase obsessiva, e cada gesto dele irradiava autoridade e domínio silencioso. Ela mantinha os olhos levemente marejados, o semblante delicado, o sorriso doce nos lábios — a perfeição da frágil jovem que todos acreditavam conhecer.
— Muito obrigada… — disse ela, a voz suave e cadenciada, quase um sussurro. — Mil vezes obrigada por ter me ajudado naquela tarde… se não fosse por você, não sei o que teria acontecido.
Kaito permaneceu em pé ao lado dela, mãos firmes enquanto conferia novamente o curativo. Não desviava os olhos dela, mas sua postura era calma, quase indiferente, carregando um magnetismo que parecia envolver toda a sala.
— Mocinha — começou, a voz baixa, firme — não gosto de ver ninguém sendo prejudicado. E, no seu caso… parecia que precisava de ajuda imediatamente.
Linyin inclinou levemente a cabeça, mantendo o sorriso doce, quase encantador, enquanto a mente corria a mil. Cada gesto, cada palavra, cada olhar dele continha uma força que fazia o coração dela acelerar discretamente, mas ela não podia demonstrar isso. Não podia deixar que percebesse qualquer vulnerabilidade real.
— Eu… — murmurou ela, ainda com aquele ar delicado e grato — realmente não sei como agradecer. Foi tão inesperado… tão gentil da sua parte.
Kaito ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso curvando os lábios. O ar dominante dele parecia preencher a mansão inteira, mesmo em silêncio, e ao mesmo tempo havia algo divertido na maneira como observava Linyin.
— Gentil? — disse ele, ironizando levemente. — Eu diria que você se arriscou bastante nessa rua… e ainda assim, mantém a calma e a graça. É raro encontrar alguém que possa fingir fragilidade e, ao mesmo tempo, ser… interessante.
Linyin piscou, mantendo o sorriso e o tom doce, mas uma pontada de curiosidade atravessou seus pensamentos. “Interessante… será que ele percebeu algo?” pensou, enquanto inclinava levemente a cabeça em agradecimento.
— É só… minha maneira de lidar com imprevistos — respondeu ela, suave, educada, quase tímida, mas mantendo aquele brilho calculado no olhar. — Nem sempre é fácil, mas… aprendi a não me deixar abater.
Kaito aproximou-se um pouco mais, examinando o pé dela com cuidado quase cirúrgico. A aura de poder e magnetismo não diminuía; pelo contrário, parecia crescer à medida que ele se movia.
— Hm — murmurou, quase para si mesmo — alguém tão jovem e… ainda assim tão audaciosa. Você lida com situações complicadas melhor do que muitos adultos que conheci.
Linyin baixou levemente os olhos, mantendo o sorriso doce e as mãos delicadamente cruzadas no colo. Cada palavra dele era como um teste, uma provocação silenciosa, mas ela sabia como reagir sem mostrar fraqueza, mesmo sentindo a tensão crescente de cada olhar que cruzava o dela.
Ela respirou fundo, ainda agradecendo com palavras suaves, mas por dentro sua mente calculava cada movimento futuro: como explorar a presença dele, como manter controle sobre Minay e Lin Hayato, e como garantir que ninguém, nem mesmo um magnata misterioso, pudesse atravessar seu caminho sem que ela soubesse exatamente o que estava acontecendo.
E assim, naquela mansão vasta, com o sol diminuindo lá fora e a aura dominante de Kaito preenchendo o espaço, Linyin percebeu algo claro: aquele encontro não seria apenas um acaso. Algo profundo e imprevisível começava ali, e ela precisava estar pronta para o jogo que acabava de começar.