Malva Denaro
Dia seguinte....
Chego no meu curso de administração só o farrapo. Pela forma como Isadora olha para mim; sei que estou só o bagaço. Mas como não estaria? Eu não consegui dormir, minha mente não desligava por nada, ficou reprisando as cenas calientes que vi a olho nu. Tentei distrações e me lasquei foi mais. Primeiro fui atrás de um livro; faltou-me concentração ainda mais na parte em que a mocinha queria porque queria ganhar um beijo do personagem que ela descrevia como sendo um Deus grego. Fechei o livro e o coloquei na mesinha de cabeceira. Tentei ouvir alguma música, mas não tive paciência para procurar pelos meus fones; meu quarto precisa de uma boa organização.
Por fim, fiz o que muitas pessoas fazem, fui para a internet e futicando daqui, mexendo dali, quando dei por mim, estava dentro de uma página social do Maledite, não uma página onde o mesmo exponha sua vida pessoal. Se tratava de uma página profissional, o desgraçado tem uma empresa que fabrica Uísque. Meus olhos correram a matéria onde falavam sobre o seu empenho em fazer crescer a nova marca da bebida single malt denominada Mallow.
A bebida foi descrita como aromática, amadeirada e com uma leveza sensorial do álcool; fresca, suave e bastante frutado. Sua cor era descrita como sendo dourada.
Li sobre a maturação da bebida que é feita em barris de carvalho, mas o que deteve a atenção foi a foto do Maledite. Meus olhos não desviaram dele, vestido de terno escuro cabelo impecável e olhar penetrante.
Fui sair da merda e cai na fossa! Fiquei com tanta raiva de mim que soquei o meu travesseiro.
E o universo, quando quer é bem filho de uma chocadeira. Acredito que ele achou que tudo o que eu passei foi pouco e disse :" Vamos arrasar com ela!"
E arrasou!
Depois que deixei o quarto dos maníacos, ao chegar no exterior da casa, nem sei como desci a escada porque minhas pernas pareciam duas gelatinas, dei a má sorte , nem falo mais azar, porque esse parece que encrespou comigo, de esbarrar justamente em quem? Exatamente, Ettore!
Eu estava atônita com tudo o que tinha visto; minha mente vagando. Aquela coisa imensa não deixava os meus pensamentos.
Não vi por onde estava indo, só queria um pouco de vento fresco porque o calor estava de matar. De repente, recebi o banho de alguma coisa depois de esbarrar em alguém. Parecia cena de filme, o copo voando e o líquido caindo sobre meu corpo.
O cheiro de álcool subiu forte enquanto a minha pela ganhava a mistura de suor e bebida.
Olhei na direção da pessoa; fiquei estática ao ver de quem se tratava. Minha boca abriu e fechou várias vezes, eu estava feito um peixe fora da água.
_ Scusa ragazza, eu....
_ Não toque em mim! - berrei alto, me afastando dois passos do garanhão. Meus olhos assustados foram de encontro aos dedos longos e generosos. Eu não queria aqueles dedos encostando em mim; ainda mais depois de ver onde eles entraram e saíram. Maledite não devia nem ter lavado as mãos, os fluídos da tal Caterina deveria estar presentes em várias partes do homem!Que nojo!
Ettore franziu a testa, tentou mais uma vez se aproximar e eu recuei outro passo.
O homem riu, ele não entendia, mas eu sim. Ele olhou para trás e foi nesse momento que perdi o resto da cor que ainda me restava nas maçãs do rosto. Meu pai fuzilava-me com os olhos e próximo a ele estava o Don, o Consigliere de Cosimo, os outros dois princesos da Cosa Nostra e alguns caporegime. Todos olhavam para a cena com seus semblantes impassíveis; não só eles como os outros convidados.
Faltou pouco para meus olhos pularem para fora das órbitas. Eu tinha feito uma merda do c*****o! Gritei com o subchefe do clã na frente dos demais e pior, ninguém iria entender as minhas razões. Acontece que não foi proposital e sim uma reação rápida que tive.
Eu não percebi que gritei alto, bem alto, com o futuro Don, na frente de um bando de pessoas.
_ Desculpe o comportamento da minha filha, subchefe. Malva é um tanto tímida. - meu pai arranjou uma explicação que não tinha nada haver com o contexto da situação; ele não sabia.
_ Sua filha, Orazio? - Ettore, indagou erguendo rapidamente as sobrancelhas.
_ Sim. - respondeu com desconcerto meu pai.
Ao longe vi a loira passar e o seu olhar foi feito flecha com destino certo: o local onde estavamos.
Dona Giovanna tratou de me tirar daquele enrosco todos; porque fiquei tão nervosa que me esqueci até como é que se andava. Na primeira puxada que recebi pelo braço, meus joelhos curvaram-se.
_ Recomponha-se! Está protagonizando um papel vexatório! Gritou com o filho do Don! Ettore é o sub feche dessa família, se você não sabe! Que falta de respeito foi essa? Seu pai está com a cara no chão!- eu também estava e ela não fazia a menor idéia-Sabe lá o que estão pensando de nós, de você! Deu munição para aqueles que querem nos ver pelas costas! - meus ouvidos não foram poupados; o ralhar continuou conforme minha mãe arrastava-me para longe - Alias, mocinha, por onde esteve esse tempo todo? - se ela soubesse iria me esganar.
_ Lá....lá na sala; senti dor de cabeça e procurei um lugar tranquilo para descansar. - menti.
_ Dio Santo, Malva! Poderia ter me avisado! Fiquei feito uma louca te procurando pelos jardins dessa casa! - minha mãe estava muitíssimo irritada.
Não demorou para meu pai se juntar a nós duas, trazendo consigo uma carranca enorme no rosto. A simpatia que o senhor Orazio carregava tinha evaporado.
Eu só pensava em qual seria o meu castigo dessa vez. A eternidade sem chegar perto dos Falzones? Não seria nada r**m.
Recebo um abraço de Isadora que me traz de volta ao presente.
_ A festa foi boa; está com olheiras enormes! - minha amiga faz círculos invisíveis ao redor dos seus olhos para evidenciar sobre o que fala.
_ Foi péssimo, isso sim! Pessoas esnobe; um i****a derrubou bebida em mim...- escondo os detalhes sórdidos.
Isadora segura em meu braço e abre um sorriso gentil.
_ Vamos tomar um café para melhorar o humor .- sorrio sem mostrar os dentes para a ruiva dona de cabelos curtos.
Penso que um pouco de cafeína vai me fazer bem. Ajudar o meu corpo a ficar mais desperto.
Ao chegarmos na cafeteria do prédio onde estudamos, procuramos uma mesa para nos sentarmos. Isadora rapidamente faz nossos pedidos, enquanto eu bocejo sentada na cadeira, doida para deitar minha cabeça no tampo da mesa e fechar os olhos.
_ O que houve? Você parece que retornou de uma guerra? - pergunta Luigi, um amigo gay com o qual me dou muito bem; cursamos o mesmo período juntos.
Ergo meu olhar para o rapaz.
_ Disse que foi a festa r**m que foi ontem, mas não acredito que seja só isso. Se conseguir descobrir, não esquece de me contar, Luigi. - Isadora diz colocando os nossos pedidos sobre a mesa.
_ Insônia, pessoal. Somente isso! - desconverso; não quero comentar que fiquei rolando na cama lembrando da grandeza do Ettore. E põem grandeza nisso!
_ Compreensível, querida. - murmura Luigi - Eu só tenho problemas com insônia quando Lucero quer abrir o cadeado e eu não estou muito afim . Pensa num homem chato que fica o tempo inteiro alisando a minha b***a? Não aguento e deixo ele sozinho na cama, vou para o sofá. Como resultado não consigo dormir. - Isadora sorri da fala de Luigi.
Por alguns minutos conversamos sobre assuntos aleatórios. Isso até que é bom porque distrai os meus pensamentos. Ouço a ruiva comentar sobre as últimas fofocas que rola pelos corredores. Luigi faz caras e bocas, se mostrando muito interessado nos assuntos.
Entre algumas risadas e os novos tópicos que surgem o tempo vai passando. Até que ao olhar para o relógio de pulso, Isadora leva um susto.
_ Pessoal está na nossa hora! Vamos que hoje teremos a visita de um benfeitor da faculdade. E eu não quero fazer parte da lista n***a do reitor por chegar atrasada bem no dia em que ele recebe uma ilustre presença de um filantropo. O senhor Joseph, só falta matar um quando algo sai errado.
_ Lembra da Francesca que chegou atrasada e acabou atrapalhando a apresentação daquela visita no meio do ano? Dizem que o reitor começou a persegui-la por conta disso. - meus amigos se entretêm ao falar sobre o reitor carne de pescoço.
Bebo um gole do meu café, que não é dos melhores.
_ Terminei, podemos ir. - aviso pegando a minha bolsa.
Nós três nos levantamos e saímos da cafeteria. Para chegarmos a nossa sala, precisamos embarcar no elevador, isso porque estudamos no décimo andar do prédio que está localizado no centro da Catânia, uma comuna italiana aqui da Sicília. Embarcamos entre risos e especulações sobre como serão as provas desse período. E para o nosso azar, quando as portas do elevador se abre, damos de cara com o nosso professor de gestão financeira.
O homem alto e magro, que mais parece um caniço( cana fina e comprida) dá uma rápida olhada em seu relógio de pulso, arruma os óculos e mantém a postura ereta.
_ Bom dia! - sauda-nos com o seu tom seco de sempre.
_ Bom dia, insegnante ( professor ) - respondo, sentindo o meu celular vibrar dentro da bolsa.
Sempre quando piso na faculdade coloco o meu aparelho no modo vibração, porque teve uma vez que o treco tocou no meio de uma prova e eu fiquei com uma nota zero, uma vez que as regras são claras nada de celular no momento das avaliações. Nunca mais, agora eu faço parte do grupo das precavidas!
Abro o zíper, resgato o aparelho. Meus olhos deslizam pelas várias notificações; todas são da minha mãe, muitas mensagens.
Leio a primeira rapidamente. Uma reclamação por causa de ontem; a falação já está rolando solta dentro da famiglia.
Desisto de continuar abrindo as demais. Óbvio que será mais do mesmo e tudo que eu mais desejo é esquecer e não ter motivos para recordar da noite de ontem.
Jogo o aparelho dentro da bolsa, nem tenho tempo para fechar o fecho, porque Isadora segura em meu braço e nos leva para fora. Adentramos na sala que está cheia; as mesas da frente estão todas ocupadas, não me resta escolha, terei de sentar nos fundos.
Luigi e Isadora tem mais sorte, uma vez que seus namorados, reservaram com antecedência lugares para os mesmos.
Sigo pelo corredor formando entre as mesas até chegar na última cadeira. Sento-me sem ânimo algum, é incrível como uma noite em claro faz o ser humano ficar numa merda no dia seguinte. Ainda mais quando se tem que ouvir glosas de um filantropo chato.
Um bom dia ecoa vindo lá da frente; o reitor anda com o seu terno impecável, ostentando um sorriso que quase rasga a boca de tão largo que é.
Desvio o meu olhar, olho para os meus tênis cor de rosa com cadarços lilases.
_ Hoje temos conosco a presença de um ilustre empresário. Acredito que muitos se espelham nele.... - começa o elogios que são muitos, uma chatice. Faço um movimento com o as minhas costas e percebo que estou presa.
Puta que pariu! Isso não está acontecendo!
Tento mais uma vez e a comprovação é certa, meu casaco de lã está preso em alguma coisa.
Cazzo! Como isso foi acontecer?!
Não presto mais atenção depois que o reitor fala sobre a integridade do caráter da pessoa em questão. Para completar a confusão meu celular começa a vibrar incansavelmente dentro da bolsa.
Qual foi o pé que usei para levantar da cama hoje? Não me lembro, mas definitivamente não foi o direito!
Continua.....