Rei do Morro

991 Words
TITO Me chamo Evandro, mas nessa quebrada todo mundo treme quando ouve o meu vulgo Tito. Sou eu, p***a! O dono desse morro todo, do asfalto até o céu. Aqui, quem manda sou eu, e comigo não tem essa p***a de mimimi não. Aqui é na base do olho por olho, e a bala come na menor das vacilações. Sou bruto, impiedoso, e se tem uma coisa que eu não tenho é sangue fraco. Vacilou, morreu. Simples assim. Peguei a Soraia pra mim. A mina mais gata desse morro, aquela gata selvagem, branquinha, de cabelo preto, do corpo perfeito que deixa qualquer maluco de queixo caído. Ela nunca me disse "sim", beleza. Quando vi que não ia ser no jeito convencional, fui na maldade mesmo. Mandei buscar, trouxe pra cá, e falei: "A partir de hoje, você é minha mulher." Fim de papo. Não gostou? O portão tá aberto, mas ela sabe o que tem do outro lado. Aqui dentro ela tem roupa de marca, comida farta, um teto. Lá fora, o que ela tem? Nada. Então melhor ficar quietinha. Mas parece que é carma, véi. A desgraçada não engravida de jeito nenhum! Já tentei de tudo, até pra médico já levei, mas nada nesse ventre dá sinal de vida. O meu sonho sempre foi encher minha casa de molecada, ter meus filhos, uma porrada deles, pra deixar meu legado. E logo a mina que eu escolhi, a mais bonita, a mais gostosa, parece que veio estéril do céu. Às vezes fico pensando se o problema não sou eu... mas nah, não pode ser. Eu sou o Tito, p***a! Sou forte, sou saudável. O problema deve ser ela, que vive com essa cara de cu, estressada, com medo. Medo de mim, seu próprio marido! Mas o que ela esperava? Que eu ia ser um príncipe encantado? Aqui é mundo cão, mulher! Tem que ser dura. E o bebê, meu moleque, não vem. Até agora, nada. Aí, uns meses atrás, deu uma parada que eu vi que era a oportunidade da minha vida. Um SUV, desses de playba, entrou no morro por engano. A mulher no volante, branquelinha, com uma criança no banco de trás. Na hora, eu vi a chance. Mandei os meus vapô cercar o carro e trouxe os dois pro topo, mãe e filho. A mulher era chata pra c*****o, não parava de chorar, de gritar, dizendo que tava grávida, que não queria morrer. Foda-se. Nem quero falar muito dela, o assunto é pesado até pra mim. Mas o filho dela, o Miguel... aquele moleque era bonitinho, saudável. Peguei ele. Antes de levar pra casa, deixei ele pianinho. Cheguei perto e falei baixinho, no ouvido: "A partir de hoje, seu nome é Evandro Júnior. Você é meu filho. E se você abrir o bico, se contar pra alguém, eu mato a sua mãe na tua frente. Entendeu?" O moleque ficou branco, mas balançou a cabeça. A criança é fácil de amedrontar. Daí, levei ele pra Soraia. Joguei o moleque no colo dela e falei: "Cuida dele. É teu filho agora. O nome é Evandro Júnior." Claro que ela questionou, essa desgraçada sempre questiona. "Tito, é teu filho? De quem?" Quase mandei ela calar a boca na hora, mas segurei. Ela sabe que não deve me irritar. No fim, aceitou. Mulher tem esse instinto, né? De cuidar. E o moleque é de boa, obedece direitinho porque sabe o que acontece se não obedecer. Agora, tô com a minha família completa. Torta pra c*****o, eu sei. Mas eu nunca fui normal mesmo. Então, f**a-se. O importante é que eu tenho meu herdeiro. Meu Evandro Júnior. Ontem, cheguei no baile com a minha fiel. A Soraia tava linda pra c*****o, de vestido colado, aquele corpo que eu não me canso de olhar. E olha que ontem mesmo eu dei um p*u nela, bati até cansar. Ela tava me irritando, com essa cara de derrotada, aí perdi a cabeça. Bati, xinguei, ela chorou, eu bati mais. Sei lá, às vezes o ódio sobe e eu não consigo controlar. E sim, eu me arrependo. Não é legal falar isso, mas tenho medo de perder o controle e acabar matando ela sem querer. Aí, o que seria de mim? Não sei viver sem ela. Ela é minha, p***a. Minha mulher, minha gata, minha propriedade. No baile, subimos no camarote, lá na quadra. Os cara tudo de olho nela, é claro. A mina é perfeita, chama atenção mesmo. Mas é minha. Pra deixar bem claro, puxei ela e dei um beijão, daqueles de marcar território. Que os otários vejam e saibam quem é que manda. Depois, peguei a garrafa de Ballena e enchi o copo dela. Sei que ela gosta, e eu gosto mais ainda porque quando ela bebe, fica soltinha, me dá gostoso, sem eu precisar forçar nada. É a única hora que ela parece se entregar de verdade. Fiquei a noite inteira do lado dela, de olho em todo mundo. Ela foi bebendo, foi soltando... chegou uma hora que até arriscou rebolar, coisa rara pra ela. Eu gosto quando ela se solta assim, parece que esquece um pouco o medo. Um dia, ela vai me amar de verdade, eu sei. Vai ver que tudo que eu faço é por nós, pela nossa família. Eu construí um império pra ela, pro nosso filho. Mas se um dia... se um dia ela ousar amar outro... se ela trair a minha confiança... ai, meu parceiro. Ela e o talarico vão morrer nas minhas mãos. Lento e doloroso. Porque ninguém me desrespeita. Ninguém. A noite tava só começando. A música alta, a galera curtindo, eu no controle de tudo. Dei três tiros pro alto, só pra lembrar pra geral quem é que tá no comando. Esse morro é meu, a mulher é minha, o filho é meu. E quem não gostar, pode vir conversar com a minha .40. Aqui, o jogo é jogado do meu jeito. Sem piedade.
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