ISABELA
Eu e o Jace távamos praticamente casados já, vivíamos grudados, dividindo cama, rotina… tudo.
Só que, cê sabe, a vida de artista é doideira, né?
E a minha também não ficava atrás.
Faculdade, trabalho… às vezes, nossos horários não batiam e a gente acabava ficando dias sem se ver direito.
Teve uma semana que foi f**a.
Mal trocamos mensagem, ele viajando pra show, eu atolada em prova e trampando até tarde.
Quando vi, a saudade já tava apertando, mas também bateu aquele medo bobo... tipo, será que ele ainda tava na mesma vibe que eu?
Chegou o fim de semana e eu tava animada achando que ia matar a saudade, mas aí... ele me falou dos shows e da tal festa dos boleiros.
Final de campeonato, festa ia rolar de qualquer jeito, vitória ou derrota. E claro que chamaram o Jace pra cantar. Ele era brother de vários deles, não tinha como negar.
Eu queria muito ter ele só pra mim, mas entendi.
Não dava pra segurar o cara.
— Vai, amor… se joga lá, canta, curte. — falei tentando ser a parceira compreensiva.
Ele me olhou meio sem jeito.
— Tu tem certeza, anjinha? Eu queria ficar contigo…
— Eu sei, mas cê também tem a tua carreira. Depois a gente recupera o tempo perdido — dei um sorriso, mas por dentro queria mesmo era um fim de semana só nosso.
Ele me abraçou forte, beijou meu pescoço e sussurrou:
— Tu é braba… minha mulher f**a. Vou te recompensar, cê vai ver.
Sorri.
Foda mesmo… era aguentar a falta que ele ia fazer naquela.
O que eu não imaginava era o baque do dia seguinte. Acordei com o celular vibrando sem parar na cabeceira.
Era ligação atrás de ligação, tudo do Jace.
Atendi, ainda sonolenta, e ele tava… chorando?
— Anjinha… pelo amor de Deus… não acredita em nada do que tão falando… eu tô voltando pro Rio agora… eu te juro, não é o que parece… — a voz dele tava tremida, desesperada.
Eu nem consegui responder, só fiquei muda, confusa… que p***a era aquela?
Desliguei sem entender nada.
O coração já apertando no peito.
Peguei o celular tremendo e fui abrir minhas redes… a notificação tava estourada. Caixa de mensagem lotada.
Até aí, normal… desde que a gente assumiu namoro, sempre vinha um monte de mensagem. Algumas fãs xingando, outras puxando meu saco, vários caras aleatórios tentando pagar de gostosão… normal.
Mas aquele dia tava diferente.
Tinha muita mensagem… coisa absurda.
Abri a primeira.
"Se valoriza, garota… ficar com um merdinha desses? Tá desesperada?"
Travei.
A segunda.
"Imagina ser traída com aquilo… misericórdia."
Minha mão começou a suar. O coração acelerou de um jeito que parecia que ia sair pela boca. Abri o link que uma menina mandou, com o dedo tremendo.
E lá estava ele… meu Jace… na tal festa dos boleiros… beijando uma mulher… descarado, sorrindo, como se eu nem existisse.
O vídeo ainda tinha legenda.
"As garotas de programa fizeram a festa com os famosos ontem e saíram cheias de grana."
Meu mundo caiu.
Eu congelei.
O estômago embrulhou.
Joguei o celular longe e desabei, chorando igual criança.
Sabe quando você sente o peito rasgar?
Era isso.
Eu só conseguia pensar.
"Por quê, Jace? Por quê?"
Eu tava desnorteada… não sabia o que pensar, o que sentir… só sabia que precisava sair dali.
Peguei uma bolsa, joguei umas roupas dentro, carteira, celular… e saí do quarto com o coração disparado, a cabeça fervendo.
Quando cheguei na porta do apartamento, o segurança ficou na minha frente.
— Dona Isabela, o Jace mandou eu não deixar você sair… — ele falou, com aquela voz educada, mas firme.
Revirei os olhos, respirei fundo e soltei:
— Se tu não sair da minha frente agora, eu juro que ligo pra polícia dizendo que tô sendo mantida em cárcere privado. — Falei com uma calma que eu nem sabia de onde tirei.
Ele ficou sem graça, abriu espaço e eu passei. Ouvi ele pegando o celular na hora e falando baixinho:
— Patrão… ela saiu… — mas eu já tava no elevador, descendo.
Quando a porta abriu, senti o ar gelado bater no rosto… parecia que eu tava respirando de verdade pela primeira vez depois de horas.
Lá fora, o sol já brilhava… domingo de manhã… e eu?
Sem rumo, sem ideia do que fazer.
Saí andando… só andando… até achar uma padaria na esquina. Entrei, sentei num cantinho, pedi um café com leite e um pão na chapa, mas a comida travava na garganta.
Fiquei ali, olhando o movimento da rua, vendo famílias rindo, casais de mãos dadas… e eu, sozinha, com o coração em pedaços, sem saber qual seria meu próximo passo.
Depois daquele café que m*l desceu, levantei e fui andando sem destino. Andei, andei… até que meus pés me levaram pra praia.
Era estranho, parecia que o mundo tava seguindo normal, crianças brincando na areia, gente correndo no calçadão, casal deitado na canga trocando carinho... e eu ali, com a alma despedaçada.
Sentei na areia, tirei a sandália e fiquei olhando pro mar. As ondas iam e voltavam, calmas… e eu com o peito apertado, um nó na garganta e a cabeça a mil.
Como é que ele pôde fazer isso comigo?
Logo comigo, que só queria estar do lado dele, apoiar, cuidar…
Fiquei ali, encarando o horizonte, perdida nos meus próprios pensamentos.
Será que eu não era suficiente?
Será que tudo aquilo que a gente viveu não passou de um momento pra ele?
Tentei segurar as lágrimas, mas elas vieram… silenciosas, quentes…
As pessoas passavam, algumas olhavam rápido e desviavam, outras nem percebiam… e eu ali, sozinha, sentindo que o chão tinha sumido debaixo dos meus pés.
Respirei fundo, abracei minhas próprias pernas e só desejei uma coisa: desaparecer.
Fiquei ali, encarando o mar, e minha cabeça só martelava.
"Que burra, Isabela… que burra!"
Depois do Ryan, eu jurei pra mim mesma que não ia mais me envolver, que não ia deixar ninguém me machucar daquele jeito de novo.
E o que eu fiz?
Me joguei logo nos braços de um funkeiro galinha, rodeado de mulher o tempo todo. Eu achando que ia ser diferente comigo… que piada.
Ele dizia que eu era especial, que era a mulher da vida dele… mas na primeira oportunidade, foi lá e fez o que?
Me traiu!
Com uma garota de programa, numa festa cheia de jogador e gente rica… que palhaçada.
Eu me senti tão i****a… tão pequena.
O que eu esperava?
Que ele fosse o príncipe encantado?
Que ia largar a vida de fama, as festas, as tentações… tudo por mim?
Dei um sorriso amargo, limpando as lágrimas.
"Parabéns, Isabela. Caiu direitinho."
Me encolhi mais ainda na areia, abraçando meus joelhos, e naquele momento a vontade era sumir do mundo.
O celular não parava de vibrar na minha bolsa. Era mensagem atrás de mensagem, ligação atrás de ligação.
Jace desesperado, falando que não era o que parecia, pedindo pra eu ouvir ele… mas eu não queria saber!
Pra mim, já era.
Ele era só mais um cretino i****a, igualzinho a todos os outros.
Peguei o celular com raiva, abri o w******p e bloqueei. Fui no i********:, deixei de seguir ele na hora, bloqueei também e ainda coloquei meu perfil no privado.
Não queria ninguém invadindo meu espaço, não queria ver foto, vídeo, nada que me lembrasse aquele babaca.
A dor apertava no peito, parecia que eu ia sufocar… mas eu respirei fundo, tentando me manter firme.
"Acabou. Cê não vai mais me fazer de otária, Jace."
Fechei o celular, joguei na bolsa e continuei encarando o mar, tentando entender como eu tinha me deixado levar por um cara que no fundo… nunca deixou de ser o que sempre foi: só mais um moleque metido a gostosão, que não respeita mulher nenhuma.