JACE
A Isabela tava me deixando maluco. Desde que a gente começou a trocar ideia, ela vinha se soltando mais, mandando umas mensagens que me faziam rir no meio do nada.
E naquela noite, resolveu inovar. Do nada, me chamou pra uma chamada de vídeo. Fiquei até surpreso, mas nem pensei duas vezes antes de atender.
A tela carregou e, quando atendi, a primeira coisa que vi foi a mão dela tampando o rosto. Soltei uma risada.
— Qual foi, mulher? Cê me chama pra video e nem mostra a cara?
— Tô com cara de sono, Jace. Toda amassada, não quero que me veja assim.
Revirei os olhos, rindo baixo.
— Deixa de caô. Sei que cê é gata de qualquer jeito.
Ela resmungou alguma coisa, ainda escondendo o rosto, e eu só consegui reparar no fundo da chamada. Isabela tava deitada na cama, e o cabelo preto e liso dela tava todo jogado no travesseiro de fronha branca.
O contraste ficou maneiro demais. Ela tava na dela, relaxada, e, mano, aquilo me pegou de um jeito que eu não esperava.
— Isabela... na moral, para de onda e me deixa te ver.
Ela suspirou, e, depois de um tempinho, finalmente tirou a mão do rosto. E aí, parceiro... eu travei. Sem maquiagem, sem nada.
Só ela.
Os lábios carnudos e rosados, os olhos grandes e expressivos, encarando a câmera meio sem jeito. O tempo deu uma desacelerada na minha cabeça. Era uma beleza tão natural que me prendeu ali, me fez esquecer até do que eu ia falar.
Ela franziu a testa. — Que foi?
Dei um sorrisinho de canto.
— Nada, só to te olhando.
Ela revirou os olhos, meio sem graça. Porque Isabela, no dia a dia, tinha uma marra daquelas, não dava a******a fácil. Mas ali, na cama dela, de cara limpa, me deixando entrar um pouquinho no mundinho dela... mano, aquilo foi diferente.
— Cê fica me encarando assim por quê?
Ajeitei o celular na mão e passei a língua nos lábios antes de responder.
— Porque cê é linda pra c*****o, Isabela. E nem vem dizer que é papo furado, porque tô falando sério.
Ela soltou uma risadinha tímida, mordeu o lábio de leve e balançou a cabeça.
— Sei lá por que aceitei essa chamada.
Cruzei os braços e encostei na cabeceira da minha cama, sem desviar o olhar dela.
— Porque no fundo cê gosta de falar comigo, só não quer admitir.
Ela riu de novo, me mandou calar a boca e mudou de assunto rapidinho. Mas eu saquei. Ela podia negar o quanto quisesse, mas já tava envolvida. E eu? Eu já tava na dela fazia tempo.
O papo tava fluindo bem melhor do que por mensagem. Ela começou a falar sobre a infância dela, sobre ter sido criada em um orfanato. Quando contou isso, a voz dela deu uma falhada, e vi os olhos dela brilharem um pouco. Parecia que tinha mais coisa nessa história, mas eu não quis apertar.
Não queria fazer ela chorar.
Pra quebrar o clima, comecei a contar umas histórias engraçadas. Falei de uma vez que, depois de um show no interior, fui pro hotel achando que ia descansar, e quando entrei no quarto, tinha mãe e filha escondidas lá dentro, me esperando.
Isabela arregalou os olhos e, depois de um segundo, caiu na gargalhada. A risada dela era um negócio viciante, daquelas que fazem a gente rir junto sem nem perceber.
Aquilo me deixou satisfeito. Ver ela sorrindo era maravilhoso. Ela me olhou ainda rindo, balançando a cabeça.
— Jace, cê atrai umas doidas, hein?
— Fazer o quê? Vida de artista tem dessas. Mas ó, que bom que cê riu. Fica bem mais bonita assim.
Ela tentou esconder o sorriso, mas falhou miseravelmente. E eu? Eu só queria ficar ali, naquela chamada, ouvindo ela rir, pelo resto da noite.
A conversa foi tomando outros rumos e, num momento de silêncio, soltei a pergunta.
— E o teu namorado?
O riso dela morreu na hora. Ela ficou em silêncio, como se não soubesse o que responder. Se fosse por mensagem, era capaz de mudar de assunto rapidinho, mas ali, por chamada de vídeo, não tinha como fugir. Depois de um tempo, ela respirou fundo e disse.
— Ele tá viajando.
A resposta dela soou estranha. Parecia ensaiada, uma mentira m*l contada. Eu não conhecia ela tão bem ainda, mas sabia quando alguém tava tentando despistar.
Na hora, lembrei do story que ela postou um tempo atrás, com o rosto marcado. Será que ela terminou com o cara por causa daquilo? Será que ele encostou nela? Era só suposição, mas a ideia me deixou incomodado.
Antes que eu pudesse pensar mais nisso, ela revidou.
— E você, Jace? Tá solteiro ou tem alguma fã te esperando em algum quarto de hotel?
Soltei uma risada e ajeitei o celular na mão.
— Solteiro, livre e desimpedido. Pode procurar, não tem ninguém me esperando em canto nenhum.
Ela sorriu de leve e balançou a cabeça.
— Sei...
— Tá duvidando de mim?
Ela riu, me zoando.
— Vai saber, né? Tu atrai cada figura...
Revirei os olhos, rindo junto.
— Mas ó, pra sua informação, tô tranquilão. E é bom saber que cê tá rindo de novo.
Ela baixou um pouco o olhar, meio sem jeito, mas o sorriso ainda tava lá. E eu? Eu só queria fazer ela sorrir mais vezes.
De repente, a chamada mudou de tom. Do nada, alguém surgiu e puxou o cabelo da Isabela com força, fazendo ela cair da cama. O celular girou, e tudo que eu vi foi o teto do quarto dela. Meu coração disparou.
— Isabela?!
Do outro lado da chamada, ouvi um homem gritando e xingando ela. Depois vieram os tapas. Meu sangue ferveu, mas eu não tinha como fazer nada.
— Seu filho da p**a! Deixa ela em paz! — Comecei a gritar com ele, para ele deixar ela em paz.
O barulho cessou por um segundo, e então a tela do celular mostrou um rosto masculino. O cara pegou o celular e disse, com raiva.
— Vai se f***r, seu merda. Tá achando que pode falar com a minha mina? Ela agora vai apanhar pra aprender. Você, eu pego depois. — o namorado dela me ameaçou.
E desligou.
Fiquei imóvel, segurando o celular como se pudesse fazer alguma coisa. Minha mente corria, tentando imaginar o que tava acontecendo com Isabela naquele momento. O problema?
Eu não sabia onde ela morava.
Não tinha como chamar ninguém.
E isso me deixou desesperado.