JACE
Quando vi a notificação no celular, achei que fosse mais alguma fofoca b***a. Mas não... era ele.
O nome dele. A foto dele.
“MC Jace confirmado no ‘Love na Ilha’. Funkeiro mais polêmico do Brasil promete esquentar a nova edição do reality.”
Travei. Li de novo. E de novo.
A imagem dele sorrindo, aquele mesmo sorriso safado que ele deu quando me pediu pra ir pro apê dele... agora seria compartilhado com milhões de pessoas.
Mulheres de biquíni em volta. Tentando ele. E ele lá, todo soltinho, com aquele jeito que eu conheço bem.
Meu peito apertou. A boca secou.
Peguei o celular na hora e mandei a mensagem sem nem pensar muito.
“Parabéns, Jace. m*l voltou pra minha vida e já vai entrar num reality de pegação. Tá explicado o papo de saudade.”
Ele respondeu rápido, dizendo que nem tinha aceitado ainda, que só tava pensando. Mas aí que tava o problema: ele tava pensando.
Pensando se valia a pena entrar num reality cheio de mulher, cheio de exposição, mesmo sabendo que eu odeio isso.
Digitava e apagava. Digitava e apagava. O que eu queria dizer de verdade?
Queria dizer que tava magoada.
Que ele me faz sentir um monte de coisas ao mesmo tempo — t***o, carinho, medo, saudade, raiva. Que eu tava começando a me abrir de novo, a confiar, a sonhar… e ele simplesmente joga tudo pro alto por uma proposta de reality?
“Pensando? Já pensou em me avisar, então? Ou só ia esperar eu descobrir assim como todo mundo?”
Ele mandou outra mensagem. Palavras bonitas, de novo. Discurso pronto, aquele jeitinho doce que me desmonta.
Mas… eu não respondi.
Visualizei. Travei.
A verdade é que eu não sei lidar com isso.
Eu não sei se quero um namorado famoso. Não quero meu nome estampado em site de fofoca. Eu sou só a Isabela. A menina criada no orfanato, que batalha pra pagar a faculdade, que aluga um quartinho com uma desconhecida e se vira como pode.
Fiquei sentada na cama, olhando pro teto. O celular ainda vibrava com notificação sobre ele. Só ele.
E aí, eu pensei: será que eu sou só mais uma na vida dele?
Ou será que ele realmente quer algo sério?
Mas aí eu lembrei de uma coisa: palavras até convencem… mas atitudes gritam.
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Eu achei que ele ia sumir por uns dias, deixar eu esfriar, me entender… mas que nada.
Na manhã seguinte, ainda meio zonza com tudo que tinha rolado, fui pra faculdade de cara fechada. Me segurei pra não stalkear nada, mas no intervalo, claro, tava todo mundo comentando.
Até uma menina da minha turma me perguntou:
— Isa, cê viu que teu boy vai pro reality?
— Ele não é meu boy. — respondi seca, enfiando os fones no ouvido.
Saí de lá e fui direto trabalhar. No fim do expediente, cansada e de cabeça cheia, saí andando rápido, querendo só chegar em casa. E foi quando ouvi a voz dele atrás de mim:
— Bela… espera aí.
Travei. Virei devagar.
Jace tava ali, encostado no carro esportivo dele, com aquela expressão entre preocupado e determinado. O boné abaixado, camiseta larga e aquele olhar que sempre me desmonta, mesmo quando eu não quero.
— A gente precisa conversar.
— Acho que não, Jace. Já entendi o recado. A exposição sempre vem antes, né? — respondi cruzando os braços, mantendo distância.
Ele suspirou, deu a volta no carro e se aproximou.
— Não é isso, p***a. Tu tá me julgando como se eu tivesse te escondendo algo. Eu ia te contar, Bela. Tava pensando mesmo, mas não decidi nada. Eles tão me pressionando, jogaram na mídia antes da hora.
— E mesmo assim você pensou. Cogitou me colocar nessa situação toda de novo.
— Porque eu sou um artista, c*****o! Minha vida é isso, exposição, contratos, mídia. Mas tu não é qualquer mina, Bela. Tu é a única que eu queria que tivesse do meu lado, mesmo nessa bagunça toda.
Fiquei em silêncio, tentando digerir. Ele se aproximou mais.
— Olha no meu olho e fala que não sente mais nada. Que aquele dia na minha cama, naquele quiosque, naquele café… não significou nada pra você.
Desviei o olhar, engoli seco.
— Eu sinto, Jace. Mas eu também me sinto exposta, sufocada. E você sabe disso. Só que parece que você ignora.
Ele segurou meu queixo com delicadeza e falou baixinho:
— Então me dá uma chance de fazer diferente. Me dá uma chance de te mostrar que, dessa vez, é de verdade. Eu largo essa p***a de reality se for isso que vai te fazer ficar.
Eu encarei ele, surpresa.
— Jura? Você abriria mão?
Ele assentiu.
— Pela mulher que eu amo? Sem nem pensar duas vezes.
Meu coração deu um pulo.
Mas será que era verdade?
Ou só mais um verso bonito de funkeiro apaixonado?
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Meu coração tava uma bagunça.
Eu queria manter a pose, dizer que não dava mais, que não confiava… mas ali, de frente pra ele, com aquele olhar sincero, eu sabia.
O Jace tava falando com a alma.
E eu sentia.
Respirei fundo, baixei os ombros, cansada de lutar contra um sentimento que gritava mais alto do que a minha razão.
— Tá… — falei baixinho, desviando o olhar. — Mas vai com calma. A gente vai no meu tempo, entendeu?
Um sorriso enorme brotou na cara dele, tipo moleque ganhando presente no Natal.
— Tu não sabe o quanto eu esperei ouvir isso, Bela. — ele disse me puxando pra um abraço apertado.
Por um instante, me permiti fechar os olhos e encostar o rosto no peito dele. Era ali que eu me sentia segura, mesmo com o mundo desabando lá fora.
— Mas ó — falei, me afastando um pouco — se eu perceber que você tá me escondendo qualquer parada de novo, eu caio fora sem olhar pra trás. Entendeu?
— Cê é braba mesmo — ele disse com aquele sorrisinho sacana. — E eu gosto disso.
— Vai zoando — revirei os olhos, tentando esconder o sorriso. — Agora me deixa ir, eu ainda tô exausta.
— Te deixo, mas amanhã quero te ver, fechou?
— Vou pensar — respondi já me virando pra sair, mas com o coração leve, coisa rara nos últimos tempos.
Enquanto andava, ouvi ele gritar lá de trás:
— Mas pensa com carinho, hein!
E eu pensei. Por mais confuso que fosse… eu tava começando a querer acreditar de novo.
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Cheguei em casa, joguei minha mochila num canto e fui direto pro banheiro. A água fria batendo no meu corpo parecia aliviar um pouco o turbilhão que tava dentro da minha cabeça.
Fechei os olhos e vi o rosto dele.
Jace. Sempre ele.
O jeito como me olhou hoje, como me abraçou… ele tem esse poder de bagunçar tudo dentro de mim. E o pior: eu deixo. Mesmo sabendo de tudo que a gente já passou, mesmo lembrando da dor, da decepção, dos burburinhos, das fotos que saíram, da exposição.
Me enrolei na toalha, sentei na beirada da cama ainda com os cabelos pingando e encarei o teto.
Será que eu tô pronta pra viver isso de novo?
Será que ele tá mesmo mudado?
Será que eu consigo conviver com os holofotes em cima da gente o tempo todo?
Peguei o celular. Tinha mensagem dele. Um meme b***a e um “pensou com carinho?”.
Ri sozinha. i****a. Charmoso. Meu.
Mas não respondi. Ainda não. Eu precisava de um tempo. Um tempo só meu. Pra pensar com a cabeça e não com o coração que insistia em correr na frente.
Deitei, abracei o travesseiro e fechei os olhos.
E se eu me jogar de novo?
Será que ele me segura?