JACE
Mano… nunca pensei que eu fosse chegar nesse ponto.
Sempre achei que eu era o brabo, o cara que tinha tudo, dinheiro, fama, mina no camarim querendo dar pra mim, camarote cheio de flash e bebida de graça.
Mas você só percebe o vazio quando tudo desaba, tá ligado?
Depois que a Isabela sumiu da minha vida… o buraco ficou.
E não era aquele buraco momentâneo que você tenta tampar com festa, zoeira e balada. Era um vazio silencioso, sufocante, tipo um eco dentro do peito. Eu acordei e não tinha mensagem dela, não tinha aquele "bom dia, meu amor" cheio de carinho que ela mandava.
E eu fiquei m*l… malzão.
Fui me reconstruindo no silêncio, tá ligado?
Não postava mais nada, sumido mesmo das redes. E quem me conhecia de verdade sabia, o Jace tava diferente.
Te falar… não foi fácil.
Cê acha que é só parar de ir pra festa e pronto.
Mas, mano… o vício não é só a bebida ou o rolê, é o ego. Eu era viciado em aplauso, em atenção, em ser o centro das paradas.
A minha mãe me abriu o olho.
— Jace, você não precisa ser o centro pra ser importante.
E aquilo me bateu forte.
Comecei a fazer umas paradas simples.
Fui visitar minha avó, que eu nem via há meses.
Almoçar na com ela, com feijão e arroz, sem luxo. Ver meus primos brincando. Trocar ideia com uns amigos antigos, que não tavam nem aí pra fama, só queriam saber se eu tava bem.
E cada coisinha dessa foi me dando um gostinho diferente da vida. Mais real, mais sincero.
Claro que a dor de ter perdido a Isabela ainda apertava, mano… cê não tem ideia. Teve um dia que eu acordei com o cheiro dela na memória, o travesseiro vazio do lado… chorei feito criança.
Peguei o celular, desbloqueei, entrei no perfil dela, privado. Eu do lado de fora. Isso doeu mais do que tapa na cara.
Mas eu entendia.
Ela não queria me ver, não queria lembrar de mim. E eu tinha que respeitar.
Continuei focando em mim.
O Paco me ligava.
— E aí, vamo voltar pros palcos quando?
E eu?
— Calma, irmão… primeiro eu volto pra mim, depois eu volto pro palco.
Comecei a escrever letra nova também.
Mano, foi o bagulho mais sincero que já fiz. Sem ostentação, sem falar de mina ou de bebida.
Falei de saudade, de erro, de redenção.
Até pensei em lançar só no digital, sem clipe, sem nada… só pra quem quisesse ouvir o lado humano do Jace.
E sabe qual foi a parada mais doida?
Pela primeira vez, eu tava orgulhoso do que eu tava me tornando. Não porque alguém tava batendo palma, mas porque eu sentia que tava fazendo o certo.
E eu pensava nela o tempo todo. Em cada progresso meu, eu pensava.
"Se ela soubesse que eu tô tentando. Que eu tô virando homem de verdade."
Mas mesmo se ela nunca souber… eu tô fazendo isso por mim. Porque eu quero ser melhor do que aquele cara i****a que vacilou com a mulher mais firmeza que eu já conheci.
Agora, eu olho no espelho e ainda não tô 100%, mas já não vejo mais o mesmo moleque babaca. Vejo um homem que tá crescendo, que tá aprendendo.
E um dia, mano… um dia, quem sabe, eu ainda vou ter a chance de olhar nos olhos dela e dizer.
— Obrigado. Obrigado por me ensinar, mesmo me deixando. Porque foi teu amor — e a tua ausência — que me transformou.
Até lá… sigo aqui, na minha caminhada. Um passo de cada vez.
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Fiquei uns dias trancado no apê, largado na cama, olhando pro teto, pensando...
"c*****o, Jace… você é uma merda. Você jogou fora a melhor pessoa que já apareceu na sua vida."
As redes sociais não ajudavam. Era meme, era gente me xingando de lixo, de galinha, de cuzão… e eu não podia reclamar, né?
Eu fui tudo isso.
Minha mãe me ligava direto.
— Meu filho… cê tem que parar, olhar pra sua vida. Olha o que você construiu e tá jogando fora. Essa menina te faz bem.
E eu chorava no telefone, mano.
Era feio.
Chorava sem conseguir falar.
Minha mãe do outro lado me dizendo pra procurar ajuda, pra me reencontrar, porque o buraco em que eu tinha me enfiado era fundo.
E, pela primeira vez na vida… eu ouvi.
Liguei pro Paco e falei.
— Irmão… tô saindo um tempo. Sem show, sem rolê, sem nada.
Ele ficou bolado, tentou argumentar.
— Mas, Jace, a agenda tá cheia, você vai perder contrato!
Eu só respondi.
— Dane-se, mano. Se eu perder minha cabeça, de que adianta contrato?
E fui.
Iniciei numa terapia, coisa que eu sempre achei que era pra maluco.
Na primeira sessão, eu me senti na frente da psicóloga, ela me perguntou.
— Quem é você sem o palco?
Eu viajei.
Não sei responder.
Porque eu nem sabia quem era eu. Sempre fui o Mc Jace, o artista, o pegador.
Mas e o Jace?
O moleque, o playboy metido a malandro, que nunca ralou pra vencer, como todos diziam.
Mas tinha o Jace família, o Jace filho, o cara cheio de sentimentos pra serem explorados.
Esse eu tinha esquecido.
As sessões me ajudaram a lembrar.
Voltei a treinar focado, larguei os copos de bebida, bloqueei os contatos de balada, as mina do camarim… mantive meu beckzinho de leve.
Apaguei tudo que me distanciava do meu eu de antes de me tornar o Mc.
Eu provavelmente reaprendi a viver por mim.
Não por like, não por aplauso.
Fui voltar a conversar com meu pai também, ele ficava mais lá nos Estados Unidos e eu quase não ligava pra ele… o velho me deu uns toques importantes.
— Filho, o palco vai acabar um dia. A fama passa. Mas teu caráter fica. Quem é você de verdade?
Essas palavras me martelavam na mente.
Todo dia eu acordava cedo, corria na praia, pensava nela, pensava na merda que eu fiz, mas também prometia pra mim mesmo que eu ia ser melhor.
Não só por ela, mas por mim.
Porque eu estava cansado dessa vida vazia de ostentação e mentira.
Eu queria amor de verdade.
Queria olhar para alguém e não sentir medo de estragar tudo.
Queria ser digno de confiança.
Aos poucos fui ficando mais leve.
Tinha recuado?
Tinha.
Teve dia que eu quase liguei de outro número pra ela chorando.
Teve dia que eu quis sumir.
Mas eu sigo firme.
Me afastei dos holofotes, mas me aproximei de mim mesmo.
E se um dia a Isabela voltar… eu vou tá pronto.
Mas se não voltar… eu quero ser um homem que ela teria orgulho de ter amado.
Porque a maior lição que eu tirei disso tudo, irmão, é que a fama não vale nada… se você não consegue se encarar de frente no espelho e dizer.
"Eu sou um cara maneiro, eu sou um cara digno."
E agora… é isso que eu estou tentando ser.