Capítulo 19 - Água gelada

1932 Words
– Amigo, acho que você está meio... Tentei alertar Theo que trocava os pés completamente embreagado. Algo realmente estranho, já que não lembrava de existir nenhuma bebida alcoólica na festa e... Ah! O ponche! Vikram até mesmo me alertou sobre aquilo, mas eu não tinha dado muito crédito a sua fala. Bom, pelo menos até ver como Theo ficou. – Como a vida é triste, meu deeeeus! Cantarolou o bêbado se apoiando em meus ombros me fazendo cambalear. – Cala a boca, Theodore! Você vai acordar a vizinhança toda! Escutei a voz de Vicky o repreender e vi que ele não possuía uma expressão muito boa para Theo. – O que eu... Soluçou interrompendo sua frase. – ...posso fazer se o meu amor não me correspondeee?! Continuou cantando aflito e eu escutei uma interjeição confusa vinda de Nikita. – Isso não é a letra de uma música? Indagou o outro híbrido e eu meneei a cabeça não sabendo. Na verdade estava mais preocupado com o estado de minha coluna do que com o que aquele bêbado falava. – Tem como as senhoritas me ajudarem a carregar ele?! Irritado pela inutilidade daqueles dois, eu parei de andar e vi Niki rir. – Estava esperando você pedir. Sua frase dita de uma maneira divertida me fez rir levemente de olhos semicerrados ainda com raiva. Já o mais alto, apenas assumiu meu lugar segurando o braço esquerdo de Theo em seus ombros sem nada dizer. Elevei meus olhos para o céu contemplando a noite e percebendo que era lua cheia. Ela estava linda iluminando nosso caminho com maestria e estava acompanhada de muitas estrelas. Uma bela noite, por assim dizer. Já nem sabia que horas eram, mas certamente era quase madrugada para as estrelas estarem tão fortes. – Já está tarde, Niki. Sua família não vai ficar preocupada? Perguntei me lembrando de que nem minha família e nem a de Theo se preocupavam muito pois sabiam que estávamos na festa, mas não tinha certeza quanto a de Niki. Rindo um pouco enquanto carregava o braço direito do bêbado que ainda cantava, ele abanou a cabeça. – Sou órfão, não tenho esse tipo de problema. Meu coração pesou ao que eu escutei suas palavras. Por isso que ele sempre aparentava estar isolado dos outros ou nunca conseguir se enturmar com facilidade. Talvez ele tenha adquirido isso por ser sozinho o tempo todo. – Não se preocupe com ele. Se tem alguém que não liga para isso esse alguém é Nikita. Vikram tentou fazer com que eu não ficasse dolorido com aquela informação, mas simplesmente não tinha como. – Ninguém gosta de ser sozinho, Vikram. Retruquei em um tom de voz firme ainda andando ao lado deles. Vi que o olhar de Vikram se tornou pesaroso de certa forma e Niki riu. – Okay, eu sou órfão e sozinho, muito comovente, mas... O híbrido fantasiado de marinheiro nos interrompeu fazendo todos pararem de andar. – ...como vamos deixar Theodore na casa dele nesse estado? Sua pergunta fez todos se entreolharem perdidos. De certa forma ele não estava errado em perguntar aquilo, já que o Sr. Silver não ficaria nada feliz em ver seu filho naquele estado chegando sozinho. – Que horas são? Vikram perguntou para Niki que retirou seu relógio de bolso com certa dificuldade ainda por causa do bêbado que se remexia. – Faltam quinze minutos para meia noite. O moreno respondeu e, como uma lâmpada, uma ideia se acendeu em minha mente. – Já sei o que vamos fazer! Exclamei batendo com um de meus pés no chão e os três garotos me olharam com estranheza. [...] – Minnie? O que você tá fazendo aqui? A imagem de Tyrone com sua voz rouca coçando os olhinhos recém acordado quase fez meu coração derreter, mas mantive minha postura o ajudando a descer das escadas sem cair. – Shiiiu! Fiz um sinal de silêncio para ele que apenas bocejou assentindo e ficando calado enquanto eu guiava ele para fora de sua casa. Tyrone é dois anos mais novo que meu irmão caçula, então isso o faz uma criança de 13 anos. Bem, em questões de maturidade, Tyrone estava bem além de meu irmão, mas isso é uma discussão para outra hora. Ao chegarmos do lado exterior da casa, o menino se deparou com seu irmão completamente bêbado caído nos degraus da entrada cantando alguma peça lírica sendo amparado por Niki e Vikram. Niki estava quase matando o cantor, enquanto Vikram apenas tentava calar a boca do mesmo. Claro que Tyrone ao ver aquele cena caiu na gargalhada, mas eu tive que me segurar para não fazer o mesmo pois alguém precisava interromper aquilo. – O que vocês deram para ele?! O menino ainda ria indo até seu irmão que logo percebeu sua presença, mas não parou de cantar. – Ele encheu a cara de um ponche que tinha álcool... Niki explicou tentando levantar Theo, mas não adiantou muita coisa. – Te chamamos porque eu sei que se existe alguém que sabe algum truque pra fazer ele calar a boca... Reiterei segurando nos ombros do garoto que me observou atento. – ...esse alguém é você. Completei confiante vendo o menino rir afirmando. – Bom, a gente pode deixar ele desacordado, tapar com fita ou simplesmente usar água gelada. Tyrone apontou para o irmão com desdém e Vikram suspendeu as sobrancelhas não entendendo muito. – Água gelada? Repetiu ele confuso. – Sim. O menino afirmou cruzando os braços tranquilo. – Pela quantidade de tempo que ele aparenta estar cantando, a água gelada vai se chocar com as cordas vocais aquecidas... Explicou o menino pacientemente gesticulando com as mãos enquanto observávamos ele e Theo continuava cantando. – ...e quando isso acontecer, sua potência vai diminuir a ponto da voz quebrar. Concluiu o menino em seu raciocínio e eu olhei para ele receoso. – Mas isso não é perigoso? Perguntei medroso e ele meneou a cabeça. – Depende. Se fosse uma pessoa normal, sim. Mas meu irmão aquece essa voz tango quanto se alimenta. Ele vai ficar bem. O menino garantiu e Niki riu coçando sua cabeça por debaixo do quepe. – Esse menino sabe das coisas, hein. Comentou ele se divertindo e cumprimentando Tyrone com um soquinho. – Também pretendo ser cantor um dia! Melhor que ele até. Tyrone cutucou o irmão com o pé nos fazendo rir, mas Vikram interrompeu as brincadeiras com uma pergunta: – Essa é a melhor alternativa? Atravessou a conversa novamente e o menino afirmou. – Theo consegue cantar em qualquer situação... O pequeno Silver garantiu e continuou: – ...mas com uma voz quebrada, garanto que não. Finalizou ele com calma e então afirmamos concordando com seu conselho. [...] Depois de empurrar garganta a baixo aquele enorme copo de água gelada, como um passe de mágica Theo parecia ter entrado na puberdade novamente. Sua voz começou a falhar de uma maneira que ele começou a pigarrear e reclamar já com os olhos se fechando de cansaço. – Essa merda é magia n***a, só pode. Niki riu embasbacado e eu afirmei vendo que agora Theo já estava quase calado. – Tomara que isso não demore muito. Armin chamou minha atenção para o relógio de Niki que apontava 12:24 e meu estômago gelou ao pensar na ordem de Arzhel. – Vamos, ele ficou quieto! Tyrone apontou para o irmão que continuava acordado, mas de sua boca não saia mais nenhum sofejo. Então aproveitamos e arrastamos ele até seu quarto onde agradecemos o menino pela ajuda e eu baguncei os cabelos de Theo. – Boa noite, Theozinho... Ia deixar um beijo em sua testa quando Vikram encostou em meu ombro me interrompendo. – Você não vem? Perguntou ele baixinho e eu afirmei dando mais uma olhada em meu amigo e seguindo o felino para fora do quarto. [...] – Hey, Niki... quer passar a noite com a gente hoje? Indaguei me lembrando do que ele tinha nos dito alguns instantes atrás, e vi ele negar com um sorriso e retirar seu quepe. – Estou farto de aventuras por hoje. Ele sorriu pequeno e mordiscou seu lábio inferior. – Mas... obrigado. Escutei seu agradecimento quase sussurrado e sorri ao ver seu acenar acanhado. – Nos vemos amanhã. Vikram também se despediu, então seguimos nosso caminho em silêncio. Aquela festa havia sido a mais caótica que eu já coloquei os meus pés. Não sabia o motivo de seu acontecimento, e nem sabia ao certo do motivo de minha presença lá, mas no final de tudo foi até que um pouco divertido. Mas também houveram seus momentos angustiantes como o fato do porão ser fechado, coisa que eu nem mesmo tive coragem de contar para Vikram até agora. E eu respirei fundo segurando ele pela manga de sua camisa para que ele me escutasse. – Trancar o porão?! Ele exclamou assim que eu expliquei o que Arzhel havia me dito. Eu já sabia o que meu irmão queria. Sua intenção de capturar Vicky era mais do que nítida, era óbvia. Mas enquanto eu estivesse vivo eu não deixaria ele encostar um dedo sequer no híbrido. Eu não sabia o que ele era capaz de fazer ao ter o moreno em suas mãos, por isso não estava disposto a arriscar nem mesmo por um segundo. Por isso eu tomei a decisão perigosa de tentar manter o híbrido em meu quarto até acharmos uma maneira de ele conseguir voltar a viver em sua casa ou em qualquer outro lugar. – Você vai ficar no meu quarto. Pontuei assim que chegamos perto de minha enorme casa e vi os olhos dele se tornarem vacilantes. – Pelo menos até resolvermos isso. Completei tentando mostrar para ele que meu objetivo não era que ele permanecesse em meu quarto para sempre, até porque isso era horrível para um rapaz puro e íntegro como eu. – Armin, eu creio que eu não possa fazer isso. Ele murmurou passando a mão por sua nuca e eu franzi o cenho confuso. – Por quê? Indaguei sem entender o que fazia ele dizer aquilo. Então ele engoliu a seco e desviou o olhar. – Eu tenho me esforçado para não avançar os limites e... Sua voz baixa me fez estremecer juntamente com o seu olhar que se voltou para mim. – ...creio que ficará bem mais difícil com você tão perto o tempo todo. Sua confissão feita de voz sóbria me fez dar um passo para trás ficando mais longe dele e ele riu de meu gesto. – Então se esforce mais! Apontei para ele não muito interessado em seu papinho de padre devoto. – Até porque você não tem nenhum outro lugar para ficar. Emendei vendo ele afirmar me dando razão voltando a andar comigo. – Lembre-se de que eu só estou fazendo isso porque minha mãe pediu para eu cuidar de você. Esclareci e ele riu baixinho talvez achando graça ou algo assim. – É sério, Vikram! Disse chateado e ele suspirou pondo as mãos na cintura e passando a mão pelos cabelos. – Não é que... está soando como se você realmente quisesse minha companhia. Ele disse em um tom sério mas com um sorriso. Eu senti meu rosto ferver e até mesmo engasguei com sua declaração. Desferi um soco em seu ombro vendo ele rir se divertindo com minhas reações. – Nem pense em encostar um dedo em mim, Vikram Goldberg! Avisei apontando para ele que sorriu divertido e deu de ombros erguendo os braços rendido. – Não está mais aqui quem falou. Pontuou ele pulando o muro de minha casa enquanto eu entrava calmamente pelo hall.
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