SARA Eu tô no Rio há quase um mês, mas parece que faz anos. Cada dia é uma batalha pra não sumir, pra não virar só mais uma sombra no asfalto. O cobertor da igreja ainda me aquece à noite, mas a fome, o medo e a vergonha tão sempre ali, me mordendo. Depois de roubar aquela maçã, algo em mim mudou. Não sei se foi pra melhor ou pra pior, mas sei que cruzei uma linha, e voltar atrás não é mais opção. Tô sobrevivendo, um dia de cada vez, com o dinheiro das esmolas acabado e o coração pesado. Mas, no meio desse inferno, encontrei ela. A Biruta. Uma guria da minha idade, tão quebrada quanto eu, que virou minha tábua de salvação. E, ao mesmo tempo, meu maior perigo. --- As pessoas passavam por mim como se eu fosse invisível, ou pior, como se fosse um estorvo. “Sai da frente, guria.”

