Briana
Mano, a ansiedade tava comendo meu fígado desde que eu acordei. A noite tinha sido uma bagunça. Enviei um e-mail para o Fênix n***a, aquele assinante VIP que mandou a proposta comercial. Escrevi algo mais ou menos assim:
“Oi, Fênix! Obrigada pelo interesse. Pode me enviar mais detalhes da proposta, por favor?”
Nada muito comprometedor, só queria saber que diabos ele tinha na cabeça. Não sou desse rolê de encontro pago, nunca fui, nunca serei. Mas a curiosidade é uma filha da mãe, e a conta bancária estava sussurrando baixinho no meu ouvido.
Fiquei horas vidrada no celular, esperando a notificação.
Nada.
O fdp me deixou no vácuo. E eu lá, me sentindo uma otária por ter criado expectativa. Devia ter focado só na seleção da Moreau, que era o que realmente importava. Mas não, minha cabeça sempre tem que ir pra onde não deve.
Enfim, o grande dia chegou.
Me vesti com um tailleur branco simples, mas chique – comprei em uma liquidação boa da Renner – salto alto e a maquiagem impecável. A Briana Modelo estava de volta, e dessa vez, era pra valer.
Quando cheguei naquele prédio da Moreau Industries, deu um branco. Aquilo não era um prédio, era um monumento de vidro e aço, gritando “aqui mora o dinheiro”. Meu coração parecia um tambor de escola de samba, batendo um ritmo desesperado.
“Calma, Briana”, eu pensei, “respira. Você merece estar aqui. Você ralou pra c*****o pra chegar até aqui, mesmo que por caminhos tortos”.
Entrei na sala de espera e quase virei os olhos. Um monte de loirona, morena estilo patricinha, todas com aquele ar de quem nasceu em berço de ouro. E eu, a Briana do apartamento de classe média, com uma vida dupla que nenhuma delas nem sonhava.
Me senti uma intrusa.
Uma fraude.
Foi quando eu vi ele.
No fundo da sala, cercado por uns caras de terno que pareciam estátuas, estava um homem de terno roxo.
Sim, roxo.
E não era um roxo qualquer, era um vinho profundo, daqueles que só gente com uma confiança do tamanho do mundo para usar. Ele era alto, postura reta, cabelos escuros bem cortados e um queixo que parecia esculpido a facão.
Mas eram os olhos... c*****o, os olhos. Castanhos, frios, e fixos em mim. Não era um olhar de homem conferindo mulher, era um olhar de... reconhecimento? Inspeção? Ele me olhava como se estivesse tentando decifrar um código, e eu era a mensagem criptografada.
Desviei o olho rapidão, sentindo um calor subir no meu rosto.
Que isso, Briana, se enxerga.
Um cara daquele nível não tá nem aí pra você. Deve ser o dono disso tudo, ou algo assim.
Um manda-chuva, com certeza.
Uma secretária super eficiente, com uma prancheta na mão, chamou os nomes.
— Por favor, podem ir até o camarim e vestir os biquínis para a avaliação de corpo.
Meu estômago embrulhou.
Hora da verdade.
Duas meninas lindíssimas se levantaram e saíram. Eu fiquei sentada, tentando controlar a respiração, sentindo o suor frio nas palmas das mãos. Olhei de relance para o homem de terno roxo. Ele ainda estava me encarando.
Dessa vez, não desviei.
Encarei de volta, com um fogo que nem sabia que tinha.
Quem ele pensa que é? Eu hein.
Uma por uma, as garotas desfilavam de biquíni na frente da mesa dos bam—bam—bans.
Eu contava mentalmente.
Dez já tinham passado.
Faltavam dez, incluindo eu.
Meu coração batia tão forte que eu tinha certeza que todo mundo na sala conseguia ouvir.
Tô ferrada. Vão me ver de biquíni e... e o quê? Será que o corpo da Mascarada é muito diferente da Briana? Será que vão gostar assim como meus inscritos?
Foi quando vi o homem de terno roxo se inclinar e cochichar algo no ouvido da moça da prancheta.
Ela assentiu, séria.
E então, ela se levantou.
— Obrigada a todas pela participação. Todas estão dispensadas.
O que? Como assim?
A sala ficou em silêncio, um silêncio pesado, de incredulidade. Algumas garotas abriram a boca para reclamar, mas a expressão da moça não deixava espaço para discussão. Elas começaram a sair, resmungando, confusas.
Eu me levantei também, o coração afundando num poço de decepção.
É claro.
Era bom demais para ser verdade. Devem ter escolhido uma amiga de alguém, alguma modelo já famosa. Tudo decidido antes mesmo de começar. Que desperdício de esperança.
Peguei minha bolsa e virei para ir embora, sentindo um nó na garganta.
— Briana Almeida. — a voz da moça da prancheta ecoou na sala quase vazia. — Você fica.
Eu congelei no lugar, com um pé no ar. Me virei lentamente. Ela estava me olhando, e o homem de terno roxo... ele agora tinha um sorriso quase imperceptível nos lábios. Um sorriso que não chegava aos olhos.
— Mas... como? — eu soltei, sem conseguir me conter. — Eu nem desfilei. Nem me viram de biquíni.
A moça nem pestanejou.
— Não é necessário. O senhor Moreau já tomou sua decisão.
Senhor Moreau.
O nome bateu como um soco no meu estômago. Arthur Moreau. O CEO. O cara do terno roxo era o próprio dono da p***a toda.
Ele se levantou, e sua presença pareceu ocupar toda a sala. Seus olhos castanhos me perfuravam, e pela primeira vez, eu senti um frio na espinha. Não era mais um olhar de curiosidade.
Era um olhar de posse.
A moça da prancheta completou, a voz ecoando no silêncio absoluto:
— Briana Almeida será o rosto da campanha ‘Sedução Moreau’. Ela será o rosto da marca.
Os homens engomados aplaudiram em pé a escolha. É claro eu fiquei paralisada. As pernas tremiam. O rosto da marca? Escolhida por ele? Sem nem ter mostrado o corpo? Isso não fazia o menor sentido. Nenhum diretor em sã consciência faria uma escolha dessas, baseada só no rosto, numa campanha de lingerie.
A menos que...
A menos que ele não estivesse interessado apenas no rosto da modelo.
A menos que ele estivesse interessado em mim.
E o olhar daquele homem, Arthur Moreau, que não era o olhar de um CEO para uma modelo novata. Era o olhar de um caçador que finalmente encontrou sua presa.
E eu, como uma i****a, tinha acabado de cair direitinho na armadilha dele.
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