Chapter 2

5244 Words
CAPÍTULO 7 Possuídos e manipulados? (...) Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos. Franz Kafka, A Metamorfose DIÁRIO: 16 de janeiro de 1979 Sinceramente, não sei se um dia este diário será lido ou se escrevo apenas para mim mesmo. Mas se um dia chegar ao fim desse caso ou se minha saúde piorar ao ponto de me levar ao óbito, tomarei uma iniciativa que venho matutando há alguns dias para que descubram esses manuscritos com certa facilidade. Relatando os fatos cotidianos, hoje quebrei meu único espelho, pois o que vi refletido nele não era eu, mas sim a imagem de um velho com os cabelos desgrenhados e os olhos inchados. As marcas da idade e da lassidão são inevitáveis. Via não os meus pensamentos, mas a máscara disforme de um homem marcado e acabado pelos problemas que o assolavam. Ao quebrar o vidro, feri profundamente a mão esquerda nos estilhaços. Lavei as feridas com um pouco da água que sobrou e a enfaixei com a tira de uma camisa velha. A dor só acrescentou mais sofrimento e ódio, mas na realidade não fez tanta diferença. Não mesmo. Arrastei-me até aqui, na cozinha, pois o estado de minha perna direita é de constante dormência. É com certa dificuldade que escrevo essas linhas. Chego até a implorar que me perdoe se as ideias não apresentarem coerência pois, além do desconforto da dor, a febre parece ferver meu sangue de tal maneira que gotas de suor formam uma poça de incômodos em meu avelhantado assento. A caneta escorrega constantemente entre meus dedos úmidos. Ouço vozes. Parecem com as do meu amigo Ruivo. Ou talvez sejam do Jacinto Rodrigues. Parecem lamentações de um condenado ao fogo eterno, mas n******e ser ele. Definitivamente, não podem ser dele estas lamentações. Elas estão dentro da minha cabeça, zombando do meu estado físico lastimável. Minha cabeça parece explodir. DIÁRIO: 21 de janeiro de 1979 Retornei após algum tempo ausente destes manuscritos, digamos que um pouco melhor, apesar da aparência continuar a mesma. Meus vizinhos Maverick e Suzetti cuidaram de mim nesses quatro dias. Conversaram comigo, me alimentaram e tentaramme aconselhar a seguir com a vida e desistir desse caso que está acabando comigo. Aceitei a comida e o agradável bate-papo, mas não os conselhos, pois se brevemente morrer o farei dignamente, investigando esse macabro caso. Para não perdermos mais tempo, desta vez, como prometi, finalmente revelarei as fichas dos prováveis possuídos e manipulados pelo desgraçado demônio Qayin e sua aprisionada mãe Lilith. Como disse anteriormente, muitas fichas foram perdidas no episódio com o taxista, mas mesmo assim tentarei seguir uma ordem cronológica, iniciando com a de número 14. Uma observação: lendo as fichas notei que nem todos se suicidaram como Jacinto Rodrigues e o Dr. Murial Sante. Muitos dos prováveis manipulados e possuídos morreram como anciãos e de morte natural, mas alguns, mesmo que de modo inconsciente, foram grandes influenciadores dos desejos de Lilith. Outros, em sua essência perversa, massacraram milhares de pessoas em atos cruéis e demoníacos. Esses multiplicadores do d****o de Lilith foram registrados na história como reis, grandes líderes, músicos, escritores renomados. Ressalto que nem todo ato de crueldade registrado contra a humanidade possui uma ligação direta com esses seres dos confins do inferno e tudo o que o Dr. Murial Sante fez foi registrar possíveis casos que mantiveram certa ligação com Qayin e Lilith, mas nada pode ser provado em sua totalidade. No caso dos possuídos pelo demônio que anda na terra que não eram tão conhecidos, foram completamente impossibilitados os registros, mas é sabido que isso ocorre desde a volta de Qayin da morada de seus pais, desde tempos imemoriais. Os relatos das fichas podem ser esclarecedores, já que em alguns casos os atos cruéis chegaram ao ápice da maldade contra a humanidade. Outros não foram possuídos mas manipulados, agindo como simples servos de Qayin, uma espécie de multiplicadores do m*l. Para minha explicação ficar mais abrangente, lembre-se de Jesus Cristo como o centro da bondade e do amor no planeta terra, e seus apóstolos como os multiplicadores de seus ensinamentos. FICHA 14 CASO: Vlad Tepes ou Vlad III – O Empalador SEXO: Masculino ANO: 1431-1476 NATURALIDADE: Sighişoara, cidade da Romênia situada na Transilvânia. BREVE RESUMO: Vlad foi um grande Cavaleiro Cristão que lutou contra o expansionismo islâmico na Europa. Seu pai, Vlad II, era um reconhecido Cavaleiro da Ordem do Dragão, designado para impedir a invasão dos turcos otomanos à Europa Oriental. Existem controvérsias, e uma delas é que Vlad Tepes nunca existiu, sendo ele o próprio Vlad II. Historiadores dizem que Vlad II teria sido brutalmente agredido e enterrado vivo, juntamente com o filho mais velho, Mircea, no ano de 1447, pelos burgueses e mercadores de Targoniste. Em 1456, Vlad Tepes retorna a Valáquia e assume o trono de Vlad II (seu pai), mas era tão idêntico ao seu antecessor que centenas de aldeões afirmaram que era o próprio Vlad II que tinha ressuscitado, enganando a própria morte. Depois desses estranhos acontecimentos, Vlad Tepes adota o nome de Vlad III Dracul, mas passa a ser conhecido pelos inimigos como Vlad III – O Empalador por adotar o costume de empalar seus adversários usando requintes de crueldade enquanto fazia sua refeição diária. Aquele homem não era mais o antigo e heroico Cavaleiro Cristão de anos atrás, algo havia modificado drasticamente seu modo de pensar e agir, e algumas pessoas diziam que o demônio se apossara de seu falecido corpo, pois não conseguiam acreditar que um ser humano adotasse atos tão cruéis, mesmo contra os próprios inimigos. Além de empalar seus adversários, Vlad bebia o sangue de suas vítimas, originando, no ano de 1897, a lenda do Drácula, criado por Bram Stoker. Empalador? Imortal? Vampiro? Possuído pelo demônio? Antigos manuscritos dizem que sim. E se ele realmente foi possuído, o único ser infernal com poder de fazê-lo seria o demônio milenar “Qayin”. OBS.: Vlad II era um voivoda (Voivoda: governador de uma província ou principal comandante de uma força militar). Além de Vlad III Dracul empalar e beber o sangue de suas vítimas, ele às vezes as mutilava e se regozijava com o sofrimento e a degradação humana, o d****o de Lilith. FICHA 17 CASO: Erzsébet Báthory SEXO: Feminino ANO: 1560-1614 NATURALIDADE: Reino da Hungria (República Eslovaca) BREVE RESUMO: Historiadores afirmam que Erzsébet Báthory teria laços consanguíneos com a família de Vlad Tepes, além de que os Báthory eram uma poderosa família de nobres húngaros ligados ao poder na Transilvânia. Com apenas 11 anos, Erzsébet ficou noiva do Conde Ferenc Nadasdy (um guerreiro c***l, conhecido na época), mas devido às constantes e longas campanhas de seu esposo nas batalhas, sentindo-se completamente solitária, a jovem Condessa conhece um camponês e tem um filho com ele às escondidas. Após o ocorrido, Erzsébet começa a gerenciar os negócios do marido no Castelo Sarvar, propriedade com inúmeros serviçais, na sua maioria jovens garotas. Desde criança, Erzsébet Báthory sofria de fortes dores de cabeça e quando adulta as dores ficaram mais intensas. Nesse mesmo período, a Condessa passou a adotar estranhos métodos de t*****a investidos contra os seus serviçais, por exemplo, enfiar agulhas sob suas unhas, mandar as jovens garotas andarem nuas no gelo por várias horas e depois jogar água fria em seus corpos, esquentar moedas no fogo e depois jogar na palma de suas mãos e, o pior, mordê-las fazendo-as sangrar até a última gota, armazenando o sangue em grandes banheiras nas quais se banhava por horas, pois acreditava que o sangue de jovens virgens a fazia rejuvenescer. No ano de 1610, por motivos políticos, iniciaram-se várias investigações em torno da Condessa, e foi encontrado um diário em que a própria Erzsébet relatava o assassinato de mais de 650 jovens, incluindo os atos de t*****a. Comprovados os assassinatos, Erzsébet teve os bens confiscados e foi enclausurada no próprio quarto a pão e água até o ano de 1614, época de sua morte. OBS.: Erzsébet foi apelidada de Condessa Drácula ou A Condessa Sanguinária. Suas fortes dores de cabeça nunca foram diagnosticadas e desde criança ela já apresentava sinais explícitos de maldade, parecendo em alguns momentos uma simples e bondosa garotinha. Essa dualidade entre o bem e o m*l, os terríveis atos de desumanidade seguidos da dor de cabeça intensa e a possível consanguinidade com Vlad Tepes (Vlad III Dracul) significam que Erzsébet tinha grandes chances de ter sido possuída ou influenciada pelo demônio Qayin, já que ele escolhia, na maioria das vezes, pessoas influentes e de famílias nobres – grandes multiplicadores –, consagrando o d****o de Lilith. FICHA 18 CASO: John Milton SEXO: Masculino ANO: 1608-1674 NATURALIDADE: Cheapside, Londres (Inglaterra) BREVE RESUMO: Criador de um dos mais importantes poemas épicos da história da humanidade, John Milton escreveu o incrível Paradise Lost (Paraíso Perdido). Apesar da sua excelente capacidade literária, olhos conservadores contestaram seu enaltecimento do d***o. Em junho de 1642, Milton casa-se com Mary Powell, que dez anos depois falece em decorrência de complicações de parto. Quatro anos depois do falecimento de sua primeira esposa, Milton se casa com Katherine Woodcock, que falece dois anos depois do casamento e quatro meses depois de dar à luz a pequena Katherine, que também veio a óbito apenas um mês depois. Em 1663, Milton casa-se novamente, desta vez com Elizabeth Minshull, e permanece com ela até o fim de sua vida. John Milton faleceu em 1674 com sérios problemas de saúde, incluindo a cegueira. Mas mesmo cego e doente ainda conseguiu ditar a sua obra-prima Paraíso Perdido e quatro anos depois lançou sua continuação: O Paraíso Reconquistado. OBS.: Antes de se casar com sua última esposa, Milton foi preso durante a restauração da monarquia, mas foi solto devido aos sérios problemas de saúde e à avançada idade. John sofreu muito com as críticas desconstrutivas referentes ao enaltecimento das trevas em Paraíso Perdido. John pode ter sido influenciado pelo demônio Qayin, já que se mostrou um grande conhecedor das trevas, sem falar na vida conturbada e azarada que o cercava. Através de minhas pesquisas, pude notar que somente eram possuídos pelo demônio Qayin os que já tinham seu lado maligno elevado. Isso era uma espécie de ímã, uma porta para a entrada do demônio. Já os que não tinham esse lado mau tão elevado eram apenas manipulados, convivendo com a presença do ser mais desprezível a viver sobre a face da terra, tendo a vida completamente azarada, sem chances no amor e sem boa saúde, tornando-se grandes conhecedores e enaltecedores das trevas. “É melhor reinar no inferno do que servir no céu”. – John Milton. FICHA 22 CASO: Thomas Chatterton SEXO: Masculino ANO: 1752-1770 NATURALIDADE: Bristol (Inglaterra) BREVE RESUMO: Nascido órfão de pai (seu pai faleceu três meses antes do seu nascimento), Thomas desenvolveu-se diferente das outras crianças de sua idade. Não gostava de brincar, era m*l-humorado e passava horas parado em um único local, motivo que o levou a ser considerado retardado pelos mais próximos. Apesar da estranheza, sua mãe foi sua primeira professora, e, aprendendo a ler com 11 anos de idade, o jovem passou a escrever para o Bristol Journal. Thomas era colecionador de antigas moedas romanas e estudava a arte n***a de Cornelius Agrippa. Aos 13 anos de idade já escrevia poemas interessantes e desde que aprendeu a ler passou a devorar centenas de livros, principalmente os que carregavam textos medievais. Não fez muito sucesso usando seu nome verdadeiro, diferente do que aconteceu ao adotar o pseudônimo Thomas Rowley. O menino disse ter encontrado os antigos manuscritos de um monge do século XV chamado Thomas Rowley. A invenção foi o seu maior sucesso. Após várias editoras rejeitarem suas obras, resultando em fracasso e dificuldades financeiras, Thomas se suicidou consumindo arsênico aos 17 anos. Sete anos depois de sua morte, seu pseudônimo, “Thomas Rowley”, foi venerado pelos críticos literários. OBS.: Não vejo Thomas Chatterton como possuído por Qayin, pois segundo relatos, apesar de ser uma criança m*l-humorada e de hábitos estranhos, ele tinha um bom coração. Mas existem possibilidades de Qayin ter influenciado o jovem nas artes negras de Cornelius Agrippa e no suicídio. Friso que é raro uma criança com apenas 11 anos escrever regularmente textos excelentes para um jornal, como se fosse um jornalista experiente. O demônio que anda na terra é ardiloso, deveras inteligente, dotado de sabedoria milenar, incluindo as ciências ocultas. FICHA 23 CASO: Percy Bysshe Shelley SEXO: Masculino ANO: 1792-1822 NATURALIDADE: Sussex (Inglaterra) BREVE RESUMO: Amigo do grande poeta britânico Lorde Byron, Percy defendia o ateísmo, o que o levou a ser ridicularizado pelos mestres de sua universidade (Oxford) e mais tarde, a ser expulso. O fato ocorreu depois de Percy publicar um panfleto sobre a necessidade do ateísmo (doutrina dos ateus – falta de crença em Deus). Arruinando sua carreira acadêmica, defendeu seus ideais até o fim de sua vida. Percy foi casado com Harriet Westbrook e amante de Mary Wollstonecraft. Porém, num triste dia, a esposa descobriu a traição e não a aceitou. Impulsivamente, Percy abandonou a esposa gestante e fugiu com a amante Mary para o continente. Dois anos depois do ocorrido, em 1816, ainda não conformada com a traição, Harriet se suicidou. Ao saber da tragédia, Percy não perdeu tempo e se casou com Mary, não apresentando nenhum remorso pela perda. Com o casamento, Mary adota o nome Mary Shelley. O ateísta Percy possuía ideias não convencionais. Uma grande prova deste fato é a admiração pelo autor William Godwin (1756-1836), também possuidor de ideias não convencionais e pai de sua segunda esposa, Mary. Percy faleceu aos 29 anos por afogamento, em julho de 1822. Sua esposa, Mary Shelley, passou a ser responsável pela publicação de suas obras. OBS.: Mary Shelley é a autora de Frankenstein ou O Moderno Prometeu. Muitas pessoas não sabem que a sua primeira publicação teve apenas 500 exemplares. A obra foi publicada em 1o de janeiro de 1818 por uma pequena editora londrina e não trazia o nome do autor. O prefácio foi redigido pelo próprio Percy Bysshe Shelley. Um ano depois da morte de Percy, em 1823, a 2a edição de Frankenstein foi publicada com o nome de Mary Shelley. Não seria Percy Bysshe Shelley o verdadeiro pai da criatura? Liguei tais fatos ao pesquisar a vida do poeta Percy, da escritora Mary Shelley e do anarquista filosófico, William Godwin (pai de Mary). As ligações da obra Frankenstein com a vida real de Percy são imensuráveis, pois parece que não houve desprendimento do autor com a obra, que relatou suas ideias pessoais em r*****o ao ateísmo e a trazer falecidos de volta à vida, além do fato marcante de sua expulsão da universidade de Oxford bater com o tratamento dado pelos professores às ideias sobre alquimia da personagem Victor Frankenstein. Saliento que não deixam de ser conjecturas minhas. Não seriam Victor Frankenstein e sua criatura alteregos de Percy? Será que ele não se sentira culpado pelo suicídio da primeira esposa. Note que em Frankenstein, o monstro sempre está próximo de seu criador, mas o pai da b***a nunca conseguia alcançá-la, por mais que se esforçasse. Poderia ser um sentimento profundo de culpa que Percy carregava pela morte de Harriet, algo irrevogável e inalcançável, já que ela jamais retornaria à vida. Enxergo o demônio Qayin em todas as letras desta tétrica história... “Quanto a mim, o que me surpreende é não ter naquele momento, em lugar de perder-me em lamentações, dado vazão a meus instintos de perversidade e a meus impulsos de investir contra toda a humanidade e perecer na tentativa de aniquilá-la.” – Mary Shelley, Frankenstein. FICHA 25 CASO: Robert Louis Balfour Stevenson (Robert Louis Stevenson) SEXO: Masculino ANO: 1850-1894 NATURALIDADE: Edimburgo (Escócia) BREVE RESUMO: Robert foi o criador de “O Médico e o Monstro” (1886) e, como poucos, escreveu explicitamente sobre a dualidade interna do ser humano. Do mesmo modo que Mary Shelley se inspirou em O Castelo de Otranto de Horace Walpole, criador do gênero gótico, Robert Stevenson se inspirou na produção de Shelley. Assombrado pela tuberculose e pela asma, doença que o acompanhou por vários anos, Robert escreveu em poucos dias O Médico e o Monstro, deitado em sua cama. Como ninguém, escreveu perfeitamente as loucuras causadas entre a dualidade do bem e do m*l em uma única pessoa: mortes, agressões e repugnância pelo ser humano. Infelizmente, Robert faleceu com apenas 44 anos, vítima de um ataque cardíaco. OBS.: Minha única observação para este caso é que Robert possuía o conhecimento do demônio Qayin e usou o Dr. Henry Jekyll e o tétrico Hyde como metáforas. Estariam suas doenças e morte prematura correlacionadas com o demônio que anda na terra? FICHA 26 CASO: Edward Alexander Crowley (Aleister Crowley) SEXO: Masculino ANO: 1875-1947 NATURALIDADE: Warwickshire (Inglaterra) BREVE RESUMO: Crowley foi um famoso ocultista britânico, iniciado em sua juventude nas artes negras por uma velha bruxa, descendente das antigas bruxas de Salém. Crowley disse por várias vezes ter sido possuído pelo demônio. Foi amigo do escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), também bastante conhecedor das artes ocultas. Com uma inteligência fora do comum, podendo ser comparada à do jovem autor Thomas Chatterton, já lia a bíblia aos 4 anos de idade. Como um exímio estudioso, ainda na juventude aprendeu hebraico, latim e grego. Apesar de vir de uma família cristã, destacou-se no meio literário pelos rebuscados textos pornográficos. Como m****o da Ordem Hermética do Amanhecer Dourado (Golden Dawn, uma ordem pagã), Crowley progrediu assustadoramente e passou a adotar o hábito de invocar demônios no seu apartamento em Londres. Creio que um deles foi inesperado, aquele que não respeita os seres humanos e, muito menos, um pentagrama. Este ser era o filho de Lilith com Satanás, Qayin. Crowley viajou pelo mundo: Nova York, México, Alemanha, Egito, Itália, Escócia, Ceilão. Aprendeu praticamente todas as filosofias religiosas e, com certeza, foi um dos homens que mais influenciou as Bandas de Rock, assim como vários compositores e escritores. Ele foi um dos maiores multiplicadores dos desejos de Lilith, e um dos poucos que afirmaram terem sido possuídos pelo demônio. OBS.: Crowley tinha o poder de invocar tanto demônios quanto seres extraterrestres. Era usuário de drogas e fontes diziam ter sido praticante de rituais satânicos e orgias, o que resultou em sua expulsão da Itália pelo próprio ditador Mussolini (1883-1945). Curioso e muito perturbador foi o fato de ele ter tido apenas uma filha que sobreviveu, a primeira do primeiro casamento, batizada de Nuit Ma Ahathoor Hecate Sappho Jezebel Lilith Crowley. Encerro essa ficha sem mais palavras para este caso. FICHA 27 CASO: Robert Lamarca Rodrigues SEXO: Masculino ANO: 1932 - 1965 NATURALIDADE: Lisboa (Portugal) BREVE RESUMO: Aparentemente, Robert era uma pessoa normal: religioso, trabalhador e pai de família. Aos 16 anos de idade adquiriu o costume de capturar animais nas ruas, fato que ocultou de sua família. Pegava cães, gatos e pássaros e os escondia no porão de sua casa para torturá-los. Relatos dizem que Robert colocava um caldeirão com água em cima de uma grande fogueira e, quando a água estava em ponto de ebulição, ele amarrava os pobres animais pelas patas e os jogava dentro, deixando-os até a carne se desprender totalmente dos ossos. Alguns vizinhos relataram que Robert mudou drasticamente da noite para o dia. Num sábado ensolarado de 1965, precisamente às 8h da manhã, a família Rodrigues se levantou e tomou o seu café matutino, mas algo lhe preocupava: Robert estava ausente. Uma hora e meia depois, Robert surgiu do porão como um espectro. Com os olhos aquosos e fixos, deixou reluzir o brilho da ponta do machado que escondia nas costas. Caminhou até a esposa Graziela Maria Rodrigues e, com um único golpe desferido, decepou sua cabeça. O mesmo foi feito com os dois filhos pequenos, Bianca e Jonas, ambos de apenas 5 anos. Jacinto, que tinha apenas 9 anos, correu para o quarto e se escondeu atrás da cama. De joelhos, rezou o Pai Nosso. Robert procurou o filho desesperadamente em todos os cômodos da casa, incluindo o quarto onde ele estava rezando e, como um milagre, não o encontrou. No final da tarde, a polícia chegou ao local e achou os cadáveres. Robert estava enforcado com um cinto, pendurado no lustre da casa, e o jovem Jacinto ainda ajoelhado atrás da cama, com os olhos fixos e aquosos como os de seu pai. Alguns dos relatos que colhi de vizinhos e pessoas próximas da família: “Robert parecia outra pessoa e até sua aparência modificou”, disse Margarethe Belzenic, de 58 anos, vizinha. “Se o d***o realmente existe, ele era a sua encarnação”, disse Manoel Belzenic Fonseca, de 29 anos, vizinho de Robert e filho de Margarethe Belzenic. “Lembro até hoje do dia em que ele veio aqui na mercearia e me encarou. Seus olhos brilhavam como chamas. Passei muito m*l naquele dia”, disse Manuel Augusto de Souza, de 63 anos, dono da Mercearia do Porto. “Da janela do meu quarto, eu via o Robert correndo atrás dos gatinhos e dos cães, e era sempre à noite. Teve um dia que ele deu uma paulada na cabeça de um gatinho. Acho que ele o matou.”, disse Fabiano Junior da Cruz, de 9 anos, amigo de Jacinto Rodrigues. “Em 12 anos de carreira, nunca tinha visto uma cena tão macabra quanto aquela.” disse o policial Batista de Mello. “Cuidaremos do pequeno Jacinto Rodrigues que, apesar do seu comportamento arredio, parece ser um bom garoto.” disse a assistente social Anna Lúcia Barbosa. OBS.: Faz 6 anos que acompanho o garoto Jacinto Rodrigues, hoje com 15 anos. Ele é muito estudioso, além de ser um escritor de talento. Trabalha em uma gráfica de Hortolândia e consegue se manter muito bem com o seu salário. Mas algo nele me incomoda, pois às vezes noto certa estranheza em seu olhar. De uma hora para outra, sua face parecia ser a de outra pessoa que, com um sorriso malicioso zombava de mim. Queria não acreditar que Jacinto está sendo possuído pelo demônio Qayin, assim como o seu pai aparentemente o foi. FICHA 28 CASO: James Douglas Morrison (Jim Morrison) SEXO: Masculino ANO: 1943 - 1971 NATURALIDADE: Melbourne (Flórida) BREVE RESUMO: Místico, compositor, escritor e poeta Jim Morrison foi um dos vocalistas mais irreverentes e surpreendentes da história do rock’ n’ roll. Meu interesse principal nesse ídolo é o fato de ele ter afirmado por diversas vezes ter sido possuído por um índio, ainda na juventude. Morrison era rebelde e adorava a liberdade de tal maneira que chegou a expor seu órgão genital em uma apresentação para centenas de pessoas. Para a criação da banda The Doors, Morrison se inspirou no livro The doors of perception (As portas da percepção), de Aldous Huxley (1894-1963), que por sua vez se inspirou no verso de um poema de William Blake: “If the doors of perception were cleansed, every thing would appear to man as it is; infinite.” (Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito). Além de fugir completamente das regras, Morrison era consumidor de drogas. No dia 03 de julho de 1971, aos 27 anos, foi encontrado morto por overdose em sua própria banheira. Foi constatado que Morrison morreu de ataque do coração, mas existem controvérsias. Algumas pessoas dizem que foi assassinato, outras que forjou a própria morte. Mudou-se de país, mudou de nome e tornou-se um célebre autor de livros. Teorias não faltam. Quando Morrison afirmava ter sido possuído por um índio descrevia a cena com detalhes, relatando muito sangue e mortos. Os pais de Morrison diziam que isso era um pesadelo, mas verdade ou não, isso influenciou a vida do cantor, que chegou a incluir o acontecimento em letras de músicas e outros escritos. Chamam atenção o seu modo de vida, sua grande intelectualidade e a estranha morte, a legião de fãs, os ataques verbais constantes aos policias e a sua alegria em ser preso, além de não levar as gravações de suas músicas a sério (comprovo tal fato ouvindo a música original “Five to one”, na qual se ouvem soluços, como os de um embriagado). Seria possível um homem com tamanha inteligência mentir que foi possuído por um espírito, ainda na infância? OBS.: Índio, xamã ou Qayin? É sabido que Qayin possuía uma marca, segundo a Bíblia, que o distinguia das outras pessoas. Teria Morrison confundido a feição de Qayin com um índio? São essas cruéis dúvidas que levarei para o túmulo. Sobre o sinal de Caim: (Gên: 4:15) É estranho o trecho do Gênesis que diz que Deus deixou uma marca em Caim (Qayin), destacando-o dos demais para que, se fosse encontrado, não fosse ferido. Ou foi apenas marcado para que os que o encontrassem soubessem quem ele era de verdade? Afinal, o que seria esta marca? FICHA 29 CASO: Jacinto Rodrigues SEXO: Masculino ANO: 1954 - 1977 NATURALIDADE: Hortolândia (São Paulo) BREVE RESUMO: Filho do assassino e suicida Robert Lamarca Rodrigues (ver ficha 27), Jacinto cresceu como um garoto normal, apesar das constantes crises de depressão. Religioso e escritor, Jacinto era perdidamente apaixonado por uma garota de nome Maria Isolda, vizinha e amiga de infância. Mas o destino prega peças, e nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos que acontecessem. Maria Isolda se apaixonou pelo Gilberto Tristão e, em pouco tempo, eles se casaram. Friso que o demônio Qayin possui uma predisposição para possuir o corpo dos mais fragilizados que têm certa tendência para negatividade ou maldade. Enfim, vítimas frágeis do demônio milenar. No caso de Jacinto Rodrigues, o suicídio foi o seu crime e o provável ingresso para a entrada no inferno, o que me leva a uma dúvida: o castigo do fogo para esses possuídos que se suicidaram ou assassinaram é o mesmo dos assassinos e suicidas que não foram possuídos e manipulados por Qayin? Existiria uma redução na pena? OBS.: Observei Jacinto Rodrigues durante alguns anos quando esteve aos cuidados da assistente social Anna Lúcia Barbosa, pois foi o único sobrevivente da sua família após a terrível chacina. É difícil, mas não raro, Qayin possuir mais de uma pessoa de uma única família. Concluí esse caso após conhecer o detetive de polícia Rafael Monte Cerquillo, que veio de Hortolândia especialmente para investigá-lo. Se não fosse por ele eu não saberia do final trágico de Jacinto. Rezo para que Deus tenha piedade de sua alma. Nos manuscritos que Rafael me apresentou, pude verificar trechos de uma novela intitulada “Death of the soul - O triste fim de um escritor”, de nenhuma forma escrita por Jacinto, e sim por Qayin, que usou o pseudônimo que aparece 63 vezes na Bíblia, “Seol” ou “Sheol”. Zombeteiro, ele usou o código que os escritores da Bíblia usaram para não designar diretamente o seu nome que, por certo, somente um grande estudioso descobriria. Pelos sinais, essa mensagem era para mim. Foi ele quem antes me descobriu, e não o contrário como deveria ser. Não me arrependo de tais pesquisas, mas temo pelos atos de fúria que me assolam constantemente. Meu fim, decerto, será igual ao dos condenados dessas fichas. A vida de Rafael Monte Cerquillo será penosa, pois vejo o mesmo triste fim para ele. Ezequiel 31:16 Ao som da queda, fiz tremer as nações, quando o fiz passar para o além com os que descem à cova; todas as árvores do Éden, a fina flor e o melhor do Líbano, todas as que foram regadas pelas águas se consolavam nas profundezas da terra. DIÁRIO: 03 de fevereiro de 1979 O texto que reproduzirei abaixo me fez sentir calafrios. Pelos indícios, ele foi escrito e depois apagado da ficha de nº 30, mas o seu escritor usou tanta força pressionando a ponta do lápis contra a folha que as marcas ficaram nítidas. Com um lápis, rabisquei levemente as marcas e um novo texto foi se reproduzindo. Sem dúvida, não foi escrito pelo doutor Murial, e sim pelo demônio Qayin. Não tenho mais dúvidas de que foi ele o causador do suicídio do doutor, o que me fez lembrar o nosso encontro no restaurante, quando notei seus olhos fixos brilhando como duas pequenas bolas de fogo. Estava possuído. Destaco sublinhando a última frase, com certeza escrita por Qayin. Se alguém estiver lendo este diário, digo que as palavras do texto são extremamente fortes. Peço, por gentileza, que se sente confortavelmente e respire fundo antes de começar: “Sinto nojo da raça humana. As flores, os animais, o cheiro e toda essa tal beleza que da terra emana me causam náuseas. Meu trabalho é cauteloso, vagaroso e eficiente. Quem neste miserável mundo seria capaz de derrotar o milenar filho de Lilith e Samael, o mais poderoso dentre todos os demônios? Quais anjos me enfrentariam? Aqueles miseráveis que selaram a tumba eterna de meus pais ou os pobres humanos e mortais? Zombo e influencio todos, sempre que d****o. Pronuncio todas as línguas e conheço todas as ciências e artes deste mundo. Estou nos livros, nos retratos e nos filmes. Posso ter várias aparências, sou homem e também mulher. Presenciei a destruição causada pelo Criador das cidades que desejei governar, Sodom e Amorah. Influenciei o primeiro holocausto e criei o Holocausto atribuído a Adolf Hitler, fui chanceler e ditador alemão, não perdi tempo e, num sopro, influenciei Idi Amin Dada Oumee, militar e ditador de Uganda. Sou canibal, sou vampiro, bebo sangue quente, ando nas chamas e ouço as lamúrias de todos desse mundo desprezível. Há dois milênios, conheci o homem chamado Jesus Christus, e possuí um dos seus apóstolos, aquele em quem ele mais confiava. Vi de perto o homem sendo crucificado e abandonei o corpo do apóstolo que logo em seguida se suicidou. Durante toda a história da humanidade influenciei reis, generais, ditadores, presidentes, escritores, cantores, pintores e quem mais desejasse. Este sou eu: poderoso, inteligente, belo, antigo, imortal e narcisista. Qayin, Caim, Seol, Sheol ou Xeol, tanto faz, verás meu nome e rosto de diversas formas, em lugares em que estarei por toda a eternidade. Em todas as guerras, nas piores chacinas, na fome, na dor e nos milhares de suicídios que causarei, lá estarei.” FICHA 30 CASO: Murial Sante SEXO: Masculino ANO: 1901 - 1977 NATURALIDADE: Palma de Maiorca (Espanha) BREVE RESUMO: Primeiramente, digo que é muito difícil escrever sobre mim mesmo e, neste lastimável estado, não sei dizer se o que escrevo é coerente para ser estudado no futuro. Serei breve, pois os ataques são constantes, e a qualquer momento estas palavras poderão ser redigidas não por mim, mas por um ser asqueroso. Sou um grande estudioso da Bíblia, possuo vários diplomas e me graduei em várias áreas, mas infelizmente o sobrenatural me perseguiu e me possuiu. Escrevo na velocidade de um furacão, pois minhas mãos já estão trêmulas e minha nuca dormente, sinais que indicam a aproximação do demônio Qayin. É triste saber desses sinais neste estado de terror, sinais que procurei por tantos anos. Felizmente, tudo termina aqui para o mesquinho doutor Murial, pois o seu fim se aproxima.
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