Rusgas entre irmãos.

1539 Words
14 de maio de 2024. O primeiro dia útil da semana tinha chegado e com ele um tempo acinzentado. Nuvens cinzas, carregadas, cobriam o azul do céu. Vento frio e sussurrante despontava de trás dos montes e cobria Holambra com o manto tecido sobre as cerdas de um presente tétrico. As flores continuavam coloridas por mais que muitos corações e olhos desejassem, naquele dia, lágrimas fabricadas pela dor da partida. Muitos choravam lamentando o ocorrido fatídico; Camila ainda não sabia. A moça acordou com o seu amor abraçado a sua cintura. Gostou de sentir que ele estava ali a noitr inteira. Depois do sexo que não foi revigorante para Varuna e nem sombra de um sexo real para a moça, que continuava pura, o casal levantou da cama. Isso depois de trocarem carinhos, olhares e muitos sussurros como : " eu te amo", " você é importante para mim", "para sempre juntos. " Camila tratou de banhar-se para iniciar o dia e teve companhia. O morto apaixonado ficou de longe, dentro do banheiro, acompanhando com o olhar, sua amada lavar-se. Acreditava ele que cena mais sensual não existia. Ao termino da sua higienização matinal, Camila desceu para o café, antes despediu-se do seu amado. Varuna precisa ir de encontro com os seus verdugos, o acerto de contas não tinha findado. _ Bom dia, família! - saudou a jovem ao chegar animada à mesa posta do café da manhã. _ Bom dia, princesa do papai. Viu passarinho azul essa manhã ? Está com ar de felicidade.- comentou Evaristo, bebericando do seu café fumegante. De frente para o assento da alegre moça, outra jovem estava sentada com feição de tristeza. Na realidade era puro fingimento. Tabata não tinha aberto mão do Gilmar, apenas, para que o clima em sua casa estabilizasse, resolveu interpretar o papel de moça desconsolada. Estava indo bem, seus pais estavam comprando a farsa. _ Não vi passarinho nenhum não pai, apenas acordei bem disposta. É aquilo, cada um só tem a vista da montanha que escalar e eu quero ter a melhor.- respondeu abrindo um sorriso para a família. _ Cuidado, na monta os ventos são fortes. Se uma rajada te pega de jeito você vai parar no Japão. - Júnior proferiu a implicância em forma de palavras. O moleque danou a rir de sua constatação nada real. _ Cala a boca, leitão na engorda! A conversa não chegou na pocilga!- Camila rebateu olhando com raiva para o menino atrevido. _ Eita! Vamos parar! Já começaram os dois? Logo de manhã? Anda Júnior que você vai se atrasar! - Alda interferiu no meio amolação que um filho causava ao outro. _ Dois bebês chorão trocando caretas. Nossa, como isso é cansativo! Vocês deveriam crescer e amadurecer, mas vejo que a massa cinzenta que ambos possuem está recheada de vento.- Tabata enfiou a colher no meio da rusga e adicionou álcool ao braseiro que até então não tinha chamas. _ Olha quem fala, o roto falando do esfarrapado!- indicou a irmã, fazendo um sinal com o polegar- Você tem tanto cérebro que andou trepando com um homem casado!- Júnior não mediu as palavras e soltou-as na força da raiva. O senhor Esteves, que bebia do seu café abulindo de quente, descontrolou-se com a quantidade que colocava, caitelosamente na boca. O golada foi maior e o líquido desceu queimando por onde passava, o homem foi de branco para vermelho. Alda arregalou os olhos para o fedelho. Seu pequeno lorde não podia proferir palavras de baixo calão, trepar é o cúmulo do absurdo. _ O que eu tenho é meu e eu dou para quem desejar- o caldo entornou de vez, os progenitores não quiseram crê no que seus ouvidos captavam. _ Não é assim não mocinha! Que conversa é essa? Está pensado o quê da vida? Eu estou criando mulheres para serem dignas e que tenham valores, ficar se expojando com qualquer um mostra só a decadência do seu amor próprio! Cadê seus brios, Tabata? Lagou eles na sacola de lixo? - Alda alterou seu humor e por seguinte sua paciência que nunca foi muita. _ Não esfregue a minha cara na lama, Tabata. Você errou feio e como pai, eu tenho obrigação de te orientar, ajudar para que não cometa-o outra vez. Mas dizer na presença dos seus pais uma frase baixa dessas, nos causa além de indignação, mágoa. A mesma educação que demos para você, seus irmãos tiveram, não houve diferença. Quero entender por qual motivo você pegou um atalho e desviou-se do caminho que sua mãe e eu preparamos para os três seguirem?- indagou Evaristo. O senhor Esteves era e ainda é, um homem que possui a mente aberta. Sempre soube que era questão de tempo para seus filhos iniciarem uma vida s****l. Acreditava, e ainda é deste modo, que a vida íntima de cada um diz respeito ao próprio. Mas não estava preparado de forma alguma para ouvir a filha primogênita dizer que faria sexo com qualquer um que lhe convinha. Antes era assim e pouco mudou, meninas que se dão ao desfrute ganha fama r**m; fica m*l falada, marcada e queimada. Quem sai sujando o nome da pobre são os próprios escolhidos para degustarem de uma noite ardente de prazer. Não é raro ouvir da boca de um homem algo do tipo:" cara, peguei fulana, fiz assim e assim." A falação maledicente começa a correr mais rápido do que fogo consumindo o rastilho de pólvora, em pouco tempo a fila de machos querendo beber da mesma fonte aumenta, enquanto a honra da moça vai desmoronando. Tabata calou-se, ela não era entregue aos prazeres da carne, tão pouco era acometida por um distúrbio psiquiátrico no qual a mulher tem um desejo compulsivo por sexo. _ Espero que reveja seus conceitos, minha filha, ou a vara vai cantar no seu lombo e a coisa r**m que se apossou de ti vai cantar para subir em dois tempos.- Alda bradou irritada. _ Acho que foi o fantasma que vive aqui que está fazendo isso com ela.- Júnior despejou sua opinião e o copo de suco que Camila segurava caiu de suas mãos. _ Pai do céu! O que foi isso Camila?!- ralhou a mãe erguendo-se para pegar uma toalha de prata e tentar organizar um pouco da bagunça. O suco de acerola respingou o vestido de cor branca da bela moça, além de criar uma mancha disforme na toalha de tom azul celeste. _ Desculpa, não segurei direito.- falou em tom baixo a jovem. _ Que história é essa de fantasma, Júnior? - indagou o pai, que achava na sua concepção aquele início de semana o mais tumultuado que estava tendo depois de sair do Rio de Janeiro. _ Ué, fantasma, pai, acredito que aqui mora um. Eu vi uma sombra preta sentada no sofá e o senhor disse que era a roupa que a mamãe tinha recolhido do varal.- falou o pimentinha erguendo as mãos no ar. _ Sério, Jú?! Me conta mais?- pediu Camila se fazendo de interessada, mas na verdade a menina tinha medo de que Varuna fosse descoberto e desta forma, seu relacionamento com o espectro iria para os ares. O que ninguém sabia é que o senhor Esteves não gostava desses assuntos, pouco compreendia e se fosse confirmada a hipótese de ter uma assombração circulando por suas terras, ele daria um jeito de retirar sua família do local. Não é porque julgava ser impossível ter mortos andando no meio dos vivos que iria pagar para ver. _ Eu vi, magrela, estava sentado na ponta do sofá e depois sumiu. Fiquei como, quase mijei de medo. Depois disso comecei a pesquisar para entender melhor e descobri que pessoas que são apegadas aos bens materiais quando morrem ficam perto ou vagando por eles. Isso também pode ocorrer quando há uma morte violenta no local, segundo as minhas pesquisas, uma espécie de energia macabra fica no lugar e prende o espírito do morto no local que foi retirada a sua vida; também tem os casos de suicídios, onde as almas ficam revivendo as dores de ter retirado o sopro divino. Eu vi muitos vídeos sobre pessoas que são sensitivas e médiuns, eles conseguem ver, ouvir, enxergar e até conversar com essas assombrações, fazem um trabalho de ajuda-los a seguir para o outro plano e deixar o nosso.- os olhos da jovem orvalharam. Condenou-se em silêncio por nunca ter feito pesquisas sobre, apenas acomodou-se no fato de ter um fantasma como alvo do seu afeto, sequer olhou para o quê realmente ele precisava. _ É interessante demais isso tudo, porém não quero esses assuntos por aqui.- pontuou o pai- Júnior o que você viu foi roupas e nada mais, agora vamos que estamos estourando o nosso tempo. - completou o patriarca erguendo-se do seu assento. _ Pai, poderia me dá uma carona até a escola? Pensei melhor e quero levar a maquete pela manhã, desta forma ficarei mais tranquila.- pediu a menina. Porém Camila não estava sendo completamente sincera. A menina pretendia faltar, precisava conversar com o namorado sobre a vida que este tivera quando possuía matéria. Recordou do dia que ele surgiu triste e chorando; correlacionou este episódio a um possível suicídio. Seu coração apertou.
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