7- Situação Constrangedora

1169 Words
"Ah, não!" - Eu pensei.   Olhei para a porta e Misha estava com aquele sorrisinho que eu mais odiava. Eu franzi o cenho tentando entender se havia esquecido a porta aberta ou se, em algum momento, não percebi que ele a abrira...   O fato é: independentemente da opção acima, ele presenciara meu ataque infantil e isso feria meu ego fortemente.   – É uma nova habilidade sua entrar no quarto de alguém, observar e ainda tecer comentários quando não é bem-vindo? - Eu disse amarga enquanto me sentava na cama.   – Bom, primeiro: eu não entrei no seu quarto, você deixou a porta entreaberta. Segundo: vim te chamar para tomar café a mando de seu pai e acabei presenciando essa cena cômica e terceiro: você fica linda com o cabelo desgrenhado, ainda mais quando está com raiva de mim. - Disse ele sorrindo ainda mais.   "Não dava para acreditar naquele sujeito. Como ele pode manter tanta calma e rir da situação ao mesmo tempo? Mas, cá entre nós, como ele é lindo quando sorri..." - Pensei concordando com o "meu eu interior", mas logo afastando o pensamento balançando a mão em frente ao meu rosto, da direita para a esquerda (em uma negativa sem fim).   – Adoraria saber no que está pensando, já que concordou e discordou ao mesmo tempo. - Disse ele entrando no meu quarto e sentando-se ao meu lado.   A presença dele era tão forte que meu quarto parecia muito menor do que eu me recordava.   – Você deve estar brincando, né? Nunca se interessou pelos meus pensamentos, por qual motivo se interessaria agora? - Eu falei fitando-o nos olhos.   – Touché! Eu fingia que não estava interessado, até porque, se eu te desse corda, você não parava mais de falar... - Disse ele totalmente debochando da minha cara.   – Pelo menos eu era verdadeira, já você...   – Sim, eu não conseguia colocar a mente no lugar perto de você, então tinha que te manter irritada e longe de mim, assim eu não teria problemas.   – Ah, agora faz todo sentido... Na sua visão, eu era o problema! - Eu falei irritada.   – Não, Claire! Você sabe muito bem que não era assim. - Disse ele largando aquele sorriso irritante e colocando uma expressão séria no lugar.   – Eu não sei não... Você é totalmente instável e depois de 8 anos, quer que eu acredite que eu não causava problemas a você? Está querendo demais, não acha? - Eu falei me levantando e indo em direção à saída do quarto.   Senti uma mão segurando meu braço. Olhei para trás e o vi com amargura no olhar.   – Claire, eu sei que não foi fácil passar por tudo o que você passou em relação a mim. Entendo e sei que ficaria com raiva no seu lugar, mas realmente foi preciso eu me afastar. - Ele me trouxe para mais perto e meu cérebro apitava perigo, mas meu corpo não recuava...   – Obrigada por me entender, mas isso não muda o passado... Continue me vendo como a irmã caçula que você não teve. Será melhor para o bem de nossa família. - Eu falei com tristeza no olhar e, para que ele não percebesse, virei meu rosto. - Vamos tomar café, não podemos deixar papai esperando.   – Você sabe que isso é impossível, né? - Disse ele, sem se mexer.   – Mas, é só descermos as escadas, não é uma tarefa tão impossível... - Eu disse desconversando e sorrindo de forma travessa.   Eu pude ver a confusão estampada na face dele. Isso me deu vontade de rir.   – Claire, você realmente adora me zoar, né?   – Sim, claramente que sim... Você deveria ver a sua face com expressão de confusão... Ahhh isso não tem preço. - Eu falei rindo sem parar.   – Você merece uma punição por me deixar confuso.   – Oi... como assim?... - Nem terminei de responder. Não deu tempo.   Misha me puxou e depositou seus lábios nos meus. Foi uma explosão de sentimentos...   Minha mente mandava eu empurrá-lo, mas meu coração queria mais. De início, eu relutei, tentei empurrá-lo, mas ele segurou minhas mãos e as colocou em seu pescoço. Depositou as suas mãos na minha cintura, puxando-me ainda mais de encontro ao seu peitoral.   Minha batalha interior foi em vão porque cheguei a esquecer quem eu era quando ele aprofundou o beijo. Enquanto estava no famoso "selinho" eu ainda tinha algum controle sobre as minhas ações, mas, agora eu estava perdida.   De repente, eu ouço uma voz familiar parando em frente à porta do meu quarto.   – Claire e Misha, vocês não estão se matando, né? - Disse ele parando de falar quando me viu nos braços de Misha.   Sim, era meu pai... - "Ufa, salva pelo 'gongo'" - Eu pensei.   Consegui recuperar o pouco de sanidade que ainda me restava e me desvencilhei dos seus braços.   – Claire... Isso está melhor do que eu pensava. - Disse meu pai sorrindo alegremente.   – Não se empolgue tanto, papai. Eu só estou praticando porque ele será meu noivo "falso" até eu conseguir me livrar dos pretendentes indesejáveis. - Eu falei olhando-o nos olhos e vendo que ele ainda parecia imerso nas emoções, visto que não falou nada a respeito.   – Sei... - Disse meu pai todo desconfiado. - Vamos tomar café!   – Vou na frente para arrumar a mesa. - Eu falei descendo as escadas correndo.   Visão de Misha   – Meu jovem, você está bem? - Falou Carlos preocupado comigo.   – Eu não sei dizer... Foi tão doce, puro e ao mesmo tempo, perdi o controle... Não era para eu ter ido tão rápido. - Eu falei passando as mãos nos cabelos totalmente revoltado com a situação   .   – Calma, filho! Nem tudo está perdido... Se agora, você será o "Falso Noivo", então você terá chance.   – Mas, esse é o problema, Carlos, eu apressei as coisas e posso ter "ferrado" com tudo. - Eu me sentei na cama, desanimado.   – Filho, você deve perceber que foram muitos anos de sentimentos acumulados... Alguma hora isso aí iria aflorar, não concorda? - Disse ele sentando ao meu lado na cama, dando batidinhas no meu ombro tentando me consolar.   – Você realmente é um bom amigo, além de ser meu segundo pai. - Eu falei o abraçando.   – Meu rapaz, você sempre será um filho para mim! Mas me prometa uma coisa. - Disse ele bem sério.   – Diga.   – Você está proibido de desanimar facilmente de minha filha. Eu tenho total certeza de que ela o ama, mas será um caminho "bem" difícil.   Eu olhei para ele com um sorriso verdadeiro. - "Como eu tinha tanta sorte em ter essa família em minha vida?" - Eu pensei sentindo muito orgulho deles.   – Com toda certeza! Eu prometo. - Eu falei.   – Isso aí, meu rapaz! Agora, vamos tomar café! - Disse ele se levantando e me arrastando escada abaixo.   Nota do autor: Touché: Ato de confirmação que, em esgrima, comprova que o toque no adversário foi alcançado.
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