"Ah, não!" - Eu pensei.
Olhei para a porta e Misha estava com aquele sorrisinho que eu mais odiava. Eu franzi o cenho tentando entender se havia esquecido a porta aberta ou se, em algum momento, não percebi que ele a abrira...
O fato é: independentemente da opção acima, ele presenciara meu ataque infantil e isso feria meu ego fortemente.
– É uma nova habilidade sua entrar no quarto de alguém, observar e ainda tecer comentários quando não é bem-vindo? - Eu disse amarga enquanto me sentava na cama.
– Bom, primeiro: eu não entrei no seu quarto, você deixou a porta entreaberta. Segundo: vim te chamar para tomar café a mando de seu pai e acabei presenciando essa cena cômica e terceiro: você fica linda com o cabelo desgrenhado, ainda mais quando está com raiva de mim. - Disse ele sorrindo ainda mais.
"Não dava para acreditar naquele sujeito. Como ele pode manter tanta calma e rir da situação ao mesmo tempo? Mas, cá entre nós, como ele é lindo quando sorri..." - Pensei concordando com o "meu eu interior", mas logo afastando o pensamento balançando a mão em frente ao meu rosto, da direita para a esquerda (em uma negativa sem fim).
– Adoraria saber no que está pensando, já que concordou e discordou ao mesmo tempo. - Disse ele entrando no meu quarto e sentando-se ao meu lado.
A presença dele era tão forte que meu quarto parecia muito menor do que eu me recordava.
– Você deve estar brincando, né? Nunca se interessou pelos meus pensamentos, por qual motivo se interessaria agora? - Eu falei fitando-o nos olhos.
– Touché! Eu fingia que não estava interessado, até porque, se eu te desse corda, você não parava mais de falar... - Disse ele totalmente debochando da minha cara.
– Pelo menos eu era verdadeira, já você...
– Sim, eu não conseguia colocar a mente no lugar perto de você, então tinha que te manter irritada e longe de mim, assim eu não teria problemas.
– Ah, agora faz todo sentido... Na sua visão, eu era o problema! - Eu falei irritada.
– Não, Claire! Você sabe muito bem que não era assim. - Disse ele largando aquele sorriso irritante e colocando uma expressão séria no lugar.
– Eu não sei não... Você é totalmente instável e depois de 8 anos, quer que eu acredite que eu não causava problemas a você? Está querendo demais, não acha? - Eu falei me levantando e indo em direção à saída do quarto.
Senti uma mão segurando meu braço. Olhei para trás e o vi com amargura no olhar.
– Claire, eu sei que não foi fácil passar por tudo o que você passou em relação a mim. Entendo e sei que ficaria com raiva no seu lugar, mas realmente foi preciso eu me afastar. - Ele me trouxe para mais perto e meu cérebro apitava perigo, mas meu corpo não recuava...
– Obrigada por me entender, mas isso não muda o passado... Continue me vendo como a irmã caçula que você não teve. Será melhor para o bem de nossa família. - Eu falei com tristeza no olhar e, para que ele não percebesse, virei meu rosto. - Vamos tomar café, não podemos deixar papai esperando.
– Você sabe que isso é impossível, né? - Disse ele, sem se mexer.
– Mas, é só descermos as escadas, não é uma tarefa tão impossível... - Eu disse desconversando e sorrindo de forma travessa.
Eu pude ver a confusão estampada na face dele. Isso me deu vontade de rir.
– Claire, você realmente adora me zoar, né?
– Sim, claramente que sim... Você deveria ver a sua face com expressão de confusão... Ahhh isso não tem preço. - Eu falei rindo sem parar.
– Você merece uma punição por me deixar confuso.
– Oi... como assim?... - Nem terminei de responder. Não deu tempo.
Misha me puxou e depositou seus lábios nos meus. Foi uma explosão de sentimentos...
Minha mente mandava eu empurrá-lo, mas meu coração queria mais. De início, eu relutei, tentei empurrá-lo, mas ele segurou minhas mãos e as colocou em seu pescoço. Depositou as suas mãos na minha cintura, puxando-me ainda mais de encontro ao seu peitoral.
Minha batalha interior foi em vão porque cheguei a esquecer quem eu era quando ele aprofundou o beijo. Enquanto estava no famoso "selinho" eu ainda tinha algum controle sobre as minhas ações, mas, agora eu estava perdida.
De repente, eu ouço uma voz familiar parando em frente à porta do meu quarto.
– Claire e Misha, vocês não estão se matando, né? - Disse ele parando de falar quando me viu nos braços de Misha.
Sim, era meu pai... - "Ufa, salva pelo 'gongo'" - Eu pensei.
Consegui recuperar o pouco de sanidade que ainda me restava e me desvencilhei dos seus braços.
– Claire... Isso está melhor do que eu pensava. - Disse meu pai sorrindo alegremente.
– Não se empolgue tanto, papai. Eu só estou praticando porque ele será meu noivo "falso" até eu conseguir me livrar dos pretendentes indesejáveis. - Eu falei olhando-o nos olhos e vendo que ele ainda parecia imerso nas emoções, visto que não falou nada a respeito.
– Sei... - Disse meu pai todo desconfiado. - Vamos tomar café!
– Vou na frente para arrumar a mesa. - Eu falei descendo as escadas correndo.
Visão de Misha
– Meu jovem, você está bem? - Falou Carlos preocupado comigo.
– Eu não sei dizer... Foi tão doce, puro e ao mesmo tempo, perdi o controle... Não era para eu ter ido tão rápido. - Eu falei passando as mãos nos cabelos totalmente revoltado com a situação
.
– Calma, filho! Nem tudo está perdido... Se agora, você será o "Falso Noivo", então você terá chance.
– Mas, esse é o problema, Carlos, eu apressei as coisas e posso ter "ferrado" com tudo. - Eu me sentei na cama, desanimado.
– Filho, você deve perceber que foram muitos anos de sentimentos acumulados... Alguma hora isso aí iria aflorar, não concorda? - Disse ele sentando ao meu lado na cama, dando batidinhas no meu ombro tentando me consolar.
– Você realmente é um bom amigo, além de ser meu segundo pai. - Eu falei o abraçando.
– Meu rapaz, você sempre será um filho para mim! Mas me prometa uma coisa. - Disse ele bem sério.
– Diga.
– Você está proibido de desanimar facilmente de minha filha. Eu tenho total certeza de que ela o ama, mas será um caminho "bem" difícil.
Eu olhei para ele com um sorriso verdadeiro. - "Como eu tinha tanta sorte em ter essa família em minha vida?" - Eu pensei sentindo muito orgulho deles.
– Com toda certeza! Eu prometo. - Eu falei.
– Isso aí, meu rapaz! Agora, vamos tomar café! - Disse ele se levantando e me arrastando escada abaixo.
Nota do autor: Touché: Ato de confirmação que, em esgrima, comprova que o toque no adversário foi alcançado.