Misha estava brincando com fogo, e eu definitivamente o faria se queimar. Como ele podia falar aquilo e sair correndo da sala como se nada tivesse acontecido? Só o fato de isso ter acontecido já me deixava nervosa apenas com a aproximação dele, imagina com um beijo?
"Claire, você precisa se controlar! Dessa forma, você não vai aguentar uma semana..." – disse minha consciência.
– Como eu vou me controlar depois daquilo? – Eu falei, respondendo à minha consciência.
Respirei fundo, pois o dia estava apenas começando, e o detalhe é que eu passaria a maior parte do mesmo acompanhada dele. Nessa altura do campeonato, eu nem ligava mais para o "porre" do Dr. Eduard. Afinal, ele era o menor dos meus problemas.
Taylon entrou na cozinha e me tirou dos meus devaneios.
– Bom dia, Claire! O doutor 'porre' chegou e está esperando na sala de recepção.
Suspirei com desânimo. Parecia que eu estava sendo punida por todos os pudins roubados da geladeira na calada da noite e por todas as vezes em que quis "matar" Misha em pensamento.
– Sim, eu fui uma menina má, Deus, deve ser por isso que estou sendo punida. – Eu falei, colocando a mão na testa.
Taylon não disse uma única palavra, mas riu do meu comentário.
– Desculpa, Taylon, não fui educada com você. Bom dia! – Eu falei, me desculpando.
– Tranquilo, Claire, sei que terás um dia longo e difícil. Ainda mais se tratando daquele 'almofadinha'. Sério, eu não o suporto. – Disse Taylon, fazendo careta.
– Eu também não gosto nada do sujeito. – Disse Misha, entrando na cozinha de repente e concordando com Taylon.
– Desculpa, mas eu não te conheço. – Disse Taylon a Misha.
– Opa, deixa eu me apresentar. Me chamo Misha. – Disse ele, indo até Taylon e oferecendo a mão para um aperto amigável.
– Ah, você é o famoso Misha! – Disse ele, sem muita empolgação.
– Famoso? – Misha respondeu, com o cenho franzido.
– Desculpa se me expressei m*l. Carlos fala muito de você e eu vi alguma coisa nos jornais.
– Faz sentido você estar desanimado com a minha presença, a imagem que os jornais passam de mim não são muito boas.
– Exatamente, mas Carlos sempre te defendeu, dizendo que nada daquilo era verdadeiro.
– Ele sempre conversou muito comigo, mas eu tinha que manter as aparências por lá para poder ganhar confiança dos acionistas e ser convidado para as festas.
– Então você não é namorador? – Taylon foi direto.
– Não... Aparecia com uma modelo diferente em cada evento, mas era só para a festa mesmo, elas não tinham acesso ao meu apartamento. Não sou de ferro, porém não conseguia me envolver emocionalmente.
– Por causa da Claire, presumo? – Questionou Taylon, com as sobrancelhas elevadas.
– Exatamente. Sou tão transparente assim? – Perguntei.
– É sim, mas quem não? Todos que vivem ao redor dela e são solteiros correm esse risco. – Falou Taylon, encolhendo os ombros.
– Presumo que você já sofreu desse m*l? – Falou Misha, coçando o queixo.
– Vocês querem parar? Eu estou aqui, sabiam? – Eu falei, contrariada.
Os dois me olharam com os olhos arregalados e começaram a rir. Eu suspirei, desapontada, e fuzilei os dois.
– Se continuarem, farei os dois passarem mais tempo juntinhos, fazendo hora extra. O que acham da ideia? – Eu falei, provocando-os.
– Você tem certeza de que realmente vai noivar com ela? – Perguntou Taylon, ainda tirando sarro de mim.
– Infelizmente, cara
, não mandamos no coração. – Disse Misha, com um sorriso de orelha a orelha.
– É melhor irmos para nos livrar logo daquele 'inconveniente'. – Falou Taylon, suspirando.
– Vamos, antes que eu coloque os dois de castigo. – Eu falei, indo na frente e saindo da cozinha.
Saí da casa principal e fui em direção à recepção para acabar logo com aquela tortura.
– Bom dia, doutor! – Eu falei, adentrando a recepção.
– Bom dia, Claire. – Falou ele, todo animado.
– Trouxe os registros para averiguarmos quais animais precisam renovar as vacinas?
– Sim, estão todas no meu tablet. Utilizo um sistema para gerir o cadastro de cada cliente, desde os procedimentos que faço até a quantidade de animais que o mesmo possui em sua residência/fazenda.
– Super moderno e vai reduzir a quantidade de papel arquivada ou gasta. A natureza agradece. – Eu falei, aprovando a modernização.
– Claire, o Misha não irá participar da visitação hoje? – Perguntou o doutor, sem nem fazer esforço para esconder a empolgação.
– Óbvio que irei. – Falou Misha, adentrando a sala junto com Taylon. – Bom dia, doutor!
– Bom dia, mestre! – Falou Eduard, todo empolgado.
– Bom dia para você também, doutor! – Falou Taylon. – Vou te falar que essa sua empolgação está bem estranha. – Disse ele, rindo.
– Estranha quanto? – Perguntou Eduard.
– Parece que você tem uma 'paixonite' secreta, mas não pela Claire e sim por Misha.
– Deus me livre. – Disse Misha.
Eu não aguentei, cheguei a me abaixar de tanto rir. Cheguei a chorar, sem brincadeira.
"É Claire, o dia vai ser melhor do que o esperado." – Eu pensei.
Todos na sala pararam o que estavam fazendo e ficaram me olhando como se eu fosse uma ET por causa da minha risada que não era "nenhum pouco" escandalosa.
– Eu tenho admiração por Misha, porém não sou apaixonado por ele. Só quero que ele me ensine a arte da sedução. – Eduard tentou se explicar.
– Cara, isso está ficando cada vez pior. – Falou Taylon, caindo na risada junto comigo.
– Misha, eu juro que gosto de mulher. – Disse Eduard, desesperado.
– Você sabe que eu não tenho nada contra se você gostar de homem. – Eu falei, piscando para ele. – Assim você não dará em cima de mim e poderá ser meu 'Best Friend'.
– Por Deus, Claire! Eu realmente gosto de mulher e só desisti de você porque está noiva dele. Se fosse qualquer outro, eu ainda estaria na disputa. – Falou Eduard, cruzando os braços e batendo os pés.
– Tudo bem, eu acredito em você. – Eu falei. – Vamos verificar os registros?
– Tranquilo. – Disse ele, sentando-se no sofá que havia na recepção.
Me sentei ao seu lado para acompanhar e fazer uma listagem dos animais que deveriam tomar a injeção no dia, quais ainda iriam vencer a dosagem, etc. Misha e Taylon também se sentaram para ouvir.
Ficamos mais de 1h analisando e preenchendo a listagem com os nomes de cada um dos animais, quais vacinas seriam atualizadas no dia, e acompanhamos o doutor até o carro para pegar todo o kit e equipamento necessário.
Ficamos o dia todo andando pela fazenda verificando os animais, vacinando os que precisavam e fazendo o levantamento dos próximos que deverão se vacinar nas semanas seguintes. Sentamos numa sombra próxima da entrada da fazenda para descansar um pouco, pois o dia fora quente, e agora, no final da tarde, estava finalmente refrescando um pouco.
– Viu Claire, foi bem rápido. – Disse Eduard.
– Não muito, mas se tratando da quantidade que temos de animais, fazer isso tudo num só dia foi recorde. – Eu falei, comemorando.
– Foi empolgante. – Disse Misha, sorrindo.
– Sim, você ainda está me devendo uma bebida. – Disse Eduard.
– Não lembro de ter prometido nada. – Falou ele, mostrando a língua para Eduard.
– Ah, qual é! Você precisa me dar uma chance. – Retrucou Eduard.
– Sinto muito, mas eu não quero. – Disse Misha, rindo.
– Vou te convencer do contrário! – Disse Eduard, levantando-se e indo em direção ao carro para guardar sua maleta e apetrechos.
Enquanto o doutor ficava de "glúteos para o alto" no passageiro, uma silhueta vestida com um terno preto se aproximou de nós.
– Misha, velho amigo! Ah, quanto tempo... Você sabe que precisa assinar uns documentos, né? – Disse aquela figura sinistra com cara de "mafioso".
– Ah, qual é, Joshua... Nem aqui vocês me deixam em paz? – Falou Misha, colocando a mão na cabeça.
– Eu não tenho escolha, você assinará por bem ou por m*l? – Disse ele, pegando uma espécie de contrato de dentro da pasta preta e tirando do bolso do paletó uma caneta toda folheada a ouro.
Misha pegou o contrato, leu e deu risada.
– Então, quer dizer que quem está por trás de tudo é minha tia, Joshua? – Misha perguntou em tom sarcástico.
– Não posso te confirmar essas informações. – Disse ele, tentando esconder a informação óbvia.
– Mas o nome dela está no contrato, como você não pode confirmar? – Falou Misha, apontando para a parte do documento que constava o nome de sua tia.
– Ela vai me matar! – Disse ele, colocando a mão na cabeça de forma totalmente desanimada.
– Tranquilo, mas eu não irei assinar, Joshua. – Falou Misha, rasgando o contrato.