Fiquei observando o comportamento de Misha sem entender o que havia acontecido. Ele se levantou da mesa sem dizer uma única palavra, deu um beijo na mamãe e saiu cabisbaixo, nem sequer olhou em meus olhos.
– Isso é culpa sua. – Disse mamãe com as mãos na cintura.
– Isso o quê? – Eu perguntei, confusa.
– Sei o que está pensando. Sobre Misha ter saído daquela forma.
– Eu realmente não entendi. – Eu me justifiquei.
– Foi por causa das coisas que você disse sobre o noivado não ser real.
– Não sei se foi isso, mãe, até porque eu não menti sobre a situação.
– Mas você sabe que ele gosta de você, não?
– Não acredito nisso. Ele me rejeitou no passado e isso ainda paira sobre o meu coração. Sem contar que ficou 8 anos fora e, do nada, reaparece dizendo que me ama? Tenha dó. – Eu falei, magoada.
– Você sabe as razões que ele teve para fazer isso. Acho que deveria dar uma chance a ele.
– Não sei se consigo. – Eu respirei fundo para continuar. – Não vou mentir, mãe, nunca deixei de gostar dele. Ele sempre foi o amor da minha vida, mas tenho medo de me machucar. Não vou aguentar ser rejeitada novamente.
– Eu te entendo, filha, mas se você não viver essa oportunidade de ter o seu amor novamente, você conseguirá ser feliz no futuro?
Eu não disse nada, mas estava tão acostumada a viver longe dele que não havia pensado sobre reviver sentimentos tão antigos.
"Será que mamãe poderia estar certa?" – Eu pensei.
– Minha filha, não pense demais e vá atrás dele. – Disse mamãe, me dando um tapinha no ombro.
– Ir atrás? – Eu perguntei, confusa.
– Sim, ele saiu para tomar um ar fresco. – Disse mamãe, sorrindo.
– Como você sabe que ele foi tomar um ar fresco?
– Quando ele ficava chateado, agia da mesma forma. Não falava nada e saía para caminhar.
– Você tem ideia de onde ele possa estar?
– Quem sabe o seu coração já deve saber a resposta.
– Casa na árvore. – Nós duas falamos juntas.
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Saí da cozinha, subi as escadas e dei uma batidinha na porta do quarto de Misha. Como não obtive resposta, abri e verifiquei que não havia ninguém no quarto.
"É... realmente mamãe pode ter razão." – Eu pensei.
Desci as escadas e fui até a casa na árvore. Como era de noite, o sítio estava todo iluminado e dava para ver luzes vindas de dentro da casa. Subi e vi uma silhueta enorme olhando pela janela de forma pensativa (exatamente como eu fazia) e meu coração doeu um pouco. Eu não queria trazer sofrimento para ele, mas como acreditar que seus sentimentos eram verdadeiros? Eu realmente não sabia a resposta.
– Misha? – Eu disse, tocando em seu ombro.
Misha levou o maior susto, tanto que se desequilibrou e caiu por cima de mim.
– Claire? Você quer me matar de susto? – Falou ele, com a respiração acelerada.
– Eu não queria te assustar. – Eu disse, ainda estando embaixo dele.
Misha pareceu se acalmar e me olhou fixamente. Senti borboletas no estômago e meu coração queria sair pela boca de tanto que estava batendo rápido.
– Eu tinha esquecido de como é bom o seu perfume. – Disse ele com voz rouca.
– É o mesmo que uso há anos.
– Eu sei, como esquecer?
Misha se abaixou para respirar o meu perfume e sua boca tocou o meu pescoço, lançando arrepios em todo o meu corpo. Minha boca estava seca, as minhas mãos estavam suadas e eu nunca havia sentido isso com outro homem. Como ele era lindo!
Ele levantou o rosto e seus olhos estavam fixos em minha
boca. Ele fez menção de descer quase colando seus lábios nos meus, mas resistiu, afastando-se de mim, levantou-se e me deu sua mão para que eu pudesse me levantar.
– Eu te ajudo a levantar. Você se machucou? – Perguntou ele, desviando o olhar, me ajudando a levantar.
– Eu não me machuquei... – De repente eu tive uma ideia. Vou fingir que torci o tornozelo para ver qual a reação dele.
Forcei o meu tornozelo no chão e dei um gritinho de dor. Rapidamente, Misha me sentou no antigo sofá vermelho que estava ali há décadas para verificar meu pé.
– Onde está doendo? – Ele me perguntou.
– Não precisa olhar, daqui a pouco está melhor. – Eu me fiz de difícil.
– Claire, foi o tornozelo? – Disse ele, tirando a minha bota.
– Ai, ai... – Eu fingi uma expressão de dor. – Sim, foi o tornozelo.
– Me desculpe, não queria ter te machucado. – Disse ele, massageando o meu tornozelo.
– Está tudo bem... Ai... Eu também fui culpada... Ai... – Eu falei e comecei a rir.
Misha me olhou de cenho franzido sem entender o ataque de risos que me deu de repente.
– Claire, você não está machucada, né? – Disse ele, em tom de reprovação.
– Não, mas gostei de ver que você ainda continua atencioso.
Eu segurei seu rosto, me aproximei e o beijei. Ele congelou, parecia que não esperava que eu o beijasse. As sensações que eu lhe causava eram surpreendentes. As que ele me causava também e, quando eu estava indo para as nuvens, Misha interrompeu o beijo e me afastou.
– Claire, não é certo fazermos isso aqui. – Disse ele, tomando uma certa distância de mim.
– Fazer o quê? Beijar? – Eu falei, confusa.
– Também, eu quero que você confie nos meus sentimentos. Não quero ser apenas o homem a te ajudar a afugentar pretendentes indesejáveis.
– O que beijar tem a ver com tudo isso? – Eu falei, me sentando no sofá novamente.
– Claire, como você é insensível. – Falou ele, passando as mãos pelos cabelos.
– Eu entendi o seu ponto de vista, só quis aliviar um pouco o clima, pois percebi que você está muito tenso. – Eu falei, me sentindo desanimada com a situação.
Ele me olhou com o cenho franzido e não me disse uma única palavra.
– Antes de tudo, eu não posso te prometer nada agora, mas confesso que as sensações que tive com você, eu não tive com nenhum outro homem. – Eu falei, tentando animá-lo.
– Como é que é? Você teve outros homens? – Disse ele, chocado.
É... eu tentei animar, mas vejo que estraguei tudo. Sou uma pessoa horrível em comunicar o que sinto e quando falo, sai tudo errado.
– Óbvio que não foram muitos, você teve 10 vezes mais relacionamentos do que eu. – Tentei me defender.
– Sei, você só quis jogar de volta o problema. – Disse ele, insatisfeito.
– Você está sendo bem egoísta, não acha? Nesses 8 anos, você queria que eu tivesse me guardado para o dia em que decidiu retornar? Que eu não me envolveria com ninguém? – Falei, zangada.
– Claire, não é bem assim... Desculpa, não posso exigir isso de você... Eu só fiquei com ciúmes. – Disse ele, sentando-se ao meu lado no sofá com o rosto apoiado nas mãos. – Você disse que iria me dar tempo, então não precisa ficar desanimado. – Eu falei, colocando uma mão em seu ombro, tentando animá-lo.
– Eu não sei como agir com você, estou meio perdido e, quando outro homem tenta chegar perto, eu surto.
Pela primeira
vez, eu vi um Misha perdido, triste e com sinceridade estampada em seus olhos.
– Misha, eu não sou muito boa com palavras, mas de uma coisa eu tenho certeza: eu não esqueci do sentimento que eu tinha por você no passado, mas tenho medo de ser rejeitada novamente.
Misha me olhou e eu me perdi em seus olhos, mesmo que por um momento, aquele homem estava ali, me focando como se eu fosse o centro do seu universo e, pela primeira vez, me deixei levar.
– Claire, o que eu mais quero é ficar com você, não pretendo machucá-la novamente. – Ele disse, pegando na minha mão e beijando-a.
– Então, você terá de ter paciência e passar na minha aprovação. – Eu pisquei para ele e sorri feito "moleca". – Bom, já vou indo para casa, preciso de um banho. – Eu disse, me levantando.
– Eu te acompanho até em casa. – Falou ele, se levantando também.
Nós dois saímos da casa na árvore e fomos para casa.