10 - Visão da Claire

1404 Words
Eu só devia estar maluca ou estava fazendo um curso intensivo, não é possível! Meu coração estava a mil por hora, minhas emoções uma montanha russa, e eu não sabia como me acalmar... Minha consciência gritava: Eu te avisei! Você foi brincar com fogo e acabou se queimando. É... eu sabia que ia me queimar, embora estivesse divertido, confesso. Como eu queria que tivesse sido diferente no passado... Não sei como vou voltar a acreditar em Misha, até porque, é bom demais para ser real. Mesmo que eu acreditasse nele, ele tem que sofrer um pouquinho e provar que realmente me ama. Meu coração está inseguro, tenho medo de me machucar novamente... Como vou saber se o que ele diz não é apenas momentâneo ou, como dizem, "fogo de palha"? Nota: Fogo de palha: Empolgação que dura pouco tempo; algo que parece intenso e importante, mas que acaba rápido. Realmente não tenho como saber, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: eu ainda tenho sentimentos por ele... Que droga! - Eu pensei. Desci as escadas correndo e absorta em pensamentos, acabei tropeçando no último degrau. Ainda bem que foi no último! Despenquei no chão igual a uma "fruta podre". Rapidamente me levantei e fui tomar o café... Estava atrasada para verificar as tarefas da fazenda junto aos peões. Me sentei à mesa, servi um copo de leite com café e peguei um pão de queijo. Enquanto estava comendo, Misha desceu as escadas, serviu-se com um copo de café com leite, pegou um pão de queijo e subiu apressadamente. Taylon (encarregado dos peões e uma das pessoas em quem eu mais confiava) apareceu na cozinha para o relatório matinal. Taylon era alto, bronzeado, com 1,95 m de altura, olhos castanhos escuros e cabelos pretos; não era atlético, mas possuía o seu charme. Quando começou na fazenda, eu tinha uns 21 anos, Misha já havia ido embora e mesmo assim, eu não consegui me aproximar de ninguém e Taylon me chamara para sair diversas vezes e eu as recusei. Não me arrependo porque hoje ele é casado com Sophie, uma morena linda, com cabelos cacheados, olhos castanho-esverdeados, super simpática e sincera e o melhor: o ama e o faz feliz, coisa que eu não conseguiria fazer. Infelizmente, eu já havia aceitado o meu destino, que nunca iria casar se não fosse com o amor da minha vida e até agora, eu não havia encontrado. Bom, eu acreditava nisso e deixei rolar esses anos todos. Até recebi uns apelidos super legais: Coração de Gelo ou Fera, mas eu preferia o Fera, confesso. Sei que todos esperavam que eu fosse encontrar a felicidade em um "par de calças" (minha família, a cidade e meus amigos), mas o que eles não sabiam é que eu já havia encontrado essa felicidade na fazenda. Sim, isso pode ser visto como "solitário", mas foi meu refúgio durante tanto tempo, abafou choros, angústias e também quando meu coração fora esmagado por Misha. Nunca sofri tanto, era uma dor que não passava... Minha mente só gritava: "Eu fui rejeitada"... O que não ajudou em nada a curar os sentimentos e que fiquei vários dias no quarto, trancada, m*l saindo para comer. Nessa época, o que me ajudou a lutar contra a vontade de ficar apenas no quarto e esquecer do mundo, foi Pégaso, um potrinho que trouxeram para eu cuidar, todo branquinho, que havia perdido a sua mãe por complicações no parto. De primeira mão, eu não queria cuidar dele porque cavalos não me chamavam tanta atenção, mas ao passar dos meses, fui me apaixonando por aquele ser fofinho. É claro que cresceu, virou um garanhão lindo e ficou genioso, você queria esperar o que? Olha para a sua dona, no caso, eu... Se fosse diferente, teria algo errado. Pégaso me trouxe a vontade de viver novamente e hoje é meu melhor amigo. Confio cegamente em seus instintos, pois já me livrou de alguns apuros como picada de cobra, javalis desgovernados e de Rufos. Sim, ele odiava o Rufus... Uma vez, eu estava absorta em pensamentos, limpando e escovando o meu cavalo que nem o vi chegar... Ele tentou me abraçar por trás, mas foi impedido por Pégaso que o acertou com um coice. Pode parecer loucura minha, mas Pégaso relinchou rindo, como se achasse totalmente engraçado a peripécia que acabara de fazer. Só não o repreendi porque fora para me defender. Voltando ao presente, Taylon me repassou o relatório de como estava a fazenda, quais sacas de ração eu teria de comprar, quais vacinas estavam vencendo e que teríamos de renovar, quais vacas estavam vendidas e etc. – Claire, está tudo certo com a fazenda até o momento, não precisa se preocupar. - Disse Taylon me tranquilizando. – Sim, obrigada por me deixar a par de tudo o que está acontecendo. Hoje mesmo entrarei em contato com o Dr. Eduard e agendarei uma visita para colocarmos as vacinas em dia. – Perfeito então. Já vou indo, vou voltar para os meus afazeres. - Disse Taylon se despedindo e saindo da cozinha. – Que saco! Terei de ligar para o Dr. Eduard... Aff, como eu não o suporto. - Suspirei com ar de cansada. - Realmente não tenho o que fazer, é um "m*l necessário". Fui para o escritório para resolver as pendências do dia, peguei o celular, disquei o número dele e fiz a ligação. Foi difícil clicar no botão Fui para o escritório para resolver as pendências do dia, peguei o celular, disquei o número dele e fiz a ligação. Foi difícil clicar no botão de chamada, mas, infelizmente, eu tive que fazer (me sentia como se estivesse clicando no botão de autodestruição de um robô gigante). O infeliz atendeu no primeiro toque. – Claire, tudo bem? - Disse ele todo animado. – Olá, Dr. Eduard. Tudo bem e com você? - Eu dei um sorriso desanimador. – Estou bem também. Em que posso ser útil? – Vimos aqui que tem algumas vacinas que precisam ser renovadas. Quando você poderá vir fazer essas aplicações? – Deixe-me ver a minha agenda aqui... Só na semana que vem. – Ah, tranquilo... – Brincadeirinha! - Disse um dos seres mais irritantes da face da terra, me interrompendo. – Oi? - Eu respondi no automático. – Eu posso ir amanhã. Fica tranquila que tenho todo o histórico de vacinas aqui da sua fazenda e aparentemente tenho todas no estoque. - Disse ele tentando passar a felicidade imensa de que viria aqui no dia seguinte. – Ok, então até amanhã. - Eu respondi querendo finalizar a ligação o quanto antes. – Espera... Claire, o Misha ainda está por aí? - Disse ele curioso. – Sim, está, Eduard. – Perfeito, então até amanhã. - Disse ele finalizando a ligação. – Qual é o problema dele? - Eu perguntei sem entender a situação. Coloquei a mão na cabeça em forma de preocupação, já sentindo latejar... Minha enxaqueca estava querendo atacar. Fechei meus olhos por um momento para ver se aliviava e ouvi batidas na porta. – Entre. - Eu respondi ainda com os olhos fechados. – Você está bem? - Perguntou Misha. – Estou sim, só vou ficar aqui por um momento. Misha saiu do escritório e logo voltou com o remédio e um copo de água. – Claire, eu trouxe o seu remédio para aliviar a enxaqueca. - Disse ele colocando a cartela do remédio e o copo de água em cima da mesa, na minha frente. – Como você sabia que era enxaqueca? - Eu perguntei surpresa. – Eu te conheço muito bem, sei que você tem enxaqueca desde pequena. – Muito obrigada. Em que posso te ajudar? - Eu perguntei, logo em seguida tomando o remédio. – Eu poderia utilizar o seu escritório para as minhas próximas reuniões? - Perguntou com cara de coitado. – Não vejo problema, mas por qual motivo você quer utilizar aqui? - Perguntei curiosa. – A internet lá em cima está oscilando demais e trava minhas videochamadas. – Ok, eu já tinha que ir dar uma volta na fazenda mesmo. - Eu me levantei da cadeira erguendo os ombros, indo em direção à porta do escritório. – Muito obrigada por me ajudar. - Disse ele me dando um beijo na bochecha, me fazendo lembrar dos velhos tempos. Ele colocou o seu notebook em cima da mesa, sentou e focou totalmente na tela do mesmo. Eu sorri e saí do escritório.
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