14 - Situação Inusitada

1110 Words
 Claire chegou 15 minutos após eu ter voltado para o quarto. Ouvi batidas na porta e a abri para recebê-la. – Você ainda não colocou uma roupa? – Perguntou Claire, repreendendo-me. – Claire, eu não finalizei o meu banho ainda. Como irei colocar uma roupa estando metade sujo? – Eu a encarei com um olhar intenso. – Ah, agora você ativou o seu modo "sarcástico"? – Retrucou ela. – Não, esse lado eu sempre tive. – Eu disse, sorrindo. – A propósito, por que, por amor de Deus, você agiu estranhamente com essa situação? Você me acha feio? – Eu perguntei, com o semblante preocupado. – Não é isso... Eu apenas... fiquei envergonhada. – Disse ela, baixando o olhar e ficando com as bochechas rosadas. – Desculpe te causar esse transtorno, mas eu não tinha mais a quem recorrer. – Eu falei, tentando me explicar. – Eu sei, também não agi bem, me desculpe. – Falou ela, desviando o olhar. – Tudo bem, pode deixar a resistência aí e ir descansar. – Eu falei, pegando a resistência da mão dela. – Você sabe trocar? – Perguntou ela, com o cenho franzido.   Eu parei para refletir... Quando éramos jovens, quem trocava as resistências sempre era Claire, porque eu não sabia como fazer. Como eu era patético naquela época. Um rapaz de família rica que não sabia fazer quase nada, nem cozinhar. Sim, esse era o "eu" do passado, e não me orgulho dessa época. Foi após vir morar aqui que aprendi a cozinhar e também como era a rotina de um pai de família tradicional, o que agregou muito à minha personalidade e vida diária. Com minha demora para responder, Claire sorriu, pegou a resistência da minha mão e foi ao banheiro fazer a troca por si mesma. Eu a segui para não deixar que ela trocasse sozinha. – Claire, eu sei trocar a resistência. Não precisa se incomodar comigo. – Eu falei, tentando impedí-la. – Pode deixar que eu troco. – Disse ela, confiante.   O chuveiro era de estilo moderno, com jatos de alta performance mesmo com baixa pressão de água, tinha duas saídas de água e uma haste para alternar a temperatura apenas girando-a para mais frio ou mais quente. Sua resistência ficava na parte de baixo do chuveiro, ao lado da haste, precisava apenas tirar a tampa, retirar a resistência queimada e colocar a nova. Até aí, tudo bem, o problema é que Claire era mais baixa e precisaria de um banquinho para alcançar, e foi o que ela fez. Claire pegou o banquinho, alinhou-o abaixo do chuveiro, subiu e trocou a resistência. O que não prevíamos era que o banco iria quebrar uma das madeiras de apoio, fazendo com que Claire perdesse o equilíbrio. Não pensei duas vezes e, no momento em que ela iria cair, a peguei em meus braços, impedindo-a de se machucar. Claire prendeu a respiração e ergueu o rosto para me olhar. No início, parecia que ela estava assustada, mas aos poucos vi fagulhas em seus olhos. Suas mãos estavam apoiadas em meu peito e, em algum momento, do qual eu me perdi, ela começou a explorar, passeando com as mãos por cada canto de forma totalmente curiosa. Só posso dizer que aquele gesto me deixou queimando por dentro, além dos arrepios e fagulhas que apenas ela me causava. Minha respiração ficou totalmente acelerada e eu estava lutando contra o desejo de beijá-la. O que eu não esperava era que Claire iria parar com sua curiosidade, colocaria suas mãos em volta do meu pescoço e me puxaria, colando sua boca na minha. Não preciso nem dizer que meu controle foi por água abaixo, né?   A beijei profundamente...  "Ah, Deus, como essa mulher é maravilhosa?" – pensei.  A envolvi pela cintura, puxando-a até mim (totalmente esquecendo de que estava apenas de toalha, típico de comédias românticas, não acha?).  Claire entreabriu os lábios para que minha língua pudesse entrar e explorar. Uma verdadeira explosão de sensações e sentimentos, mas a realidade retornou em cheio, e eu interrompi o beijo com o coração partido. – Claire, não podemos continuar dessa forma. – Eu disse, relutante. – Por quê? – Perguntou Claire, com o cenho franzido. – Não vou conseguir resistir, e podemos acabar fazendo amor aqui mesmo. – Eu falei, sendo sincero.  Claire me olhou com os olhos arregalados. Pensando bem, acho que fui sincero ao extremo. "Bem, tanto faz, o que importa é ela saber como me sinto." – pensei. – Eu acabei me deixando levar... Desculpe-me, Misha. – Disse Claire, fazendo menção de se distanciar.  Foi então que, juro que não sei como, a toalha se desprendeu e não consegui segurar. Nesse momento, com um suspiro pesado, fechei os olhos e meus lábios se apertaram, denunciando o constrangimento em minhas feições. Esperei alguns instantes antes de abrir apenas um olho para ver se Claire ainda estava ali e me deparei com ela me olhando, com a mão na boca, em espanto, resumidamente onde o sol dificilmente bate. Minha reação foi impulsiva, e cobri a região. – Desculpa, Misha, eu não queria ter puxado a toalha acidentalmente. – Disse Claire, em desespero. – Você poderia se virar para que eu possa recolher a toalha? – Eu disse, tentando contornar o embaraço. – Sim, claro... – Disse Claire, sem jeito, e se virando.  Juntei a toalha do chão e a amarrei novamente na cintura.   – Pronto, agora você está segura. Pode virar. – Eu disse, desejando que aquele dia apenas acabasse. – A propósito, você disse que puxou a toalha? – Eu perguntei, de cenho franzido. – Não foi proposital. A toalha enroscou no meu relógio. – Disse ela, se justificando e apontando para a área do relógio que havia se enroscado na toalha.  Era fofo vê-la se justificar sobre o relógio, toda embaraçada, mas confesso que não havia percebido que ela estava usando um. Aproximei-me, segurei seu pulso e examinei melhor o relógio, pois me era familiar.  Foi então que reconheci o presente de aniversário que dei para ela em seu aniversário de 17 anos. Ela o guardara tão bem que nem o tempo o deteriorou, deixando-me super feliz por ela ainda o ter. – O que foi, Misha? – Eu o reconheci. – Eu disse, apontando para o relógio. – Sim, eu ainda o tenho. – Disse ela, corando e desviando o olhar. – Desculpa mesmo pelo transtorno. – Eu falei, soltando seu pulso. – Tudo bem, boa noite, Misha. – Disse ela, saindo correndo do quarto.  Sentei-me na cama, repassando os acontecimentos do dia e suspirando cansado, fui até o banheiro terminar meu banho.  "Quanto antes o dia terminasse, melhor." – pensei, desanimado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD