Seis anos se passaram... Recordações. ( Violeta)

1170 Words
" O tempo passa tão depressa é como se fosse o vento embalando a folha seca, num passeio misterioso que ninguém sabe onde vai terminar." Por: Violeta. Hoje, dia sete de julho, faz exatamente seis anos que meu filho partiu. Temo que ele cumpra sua promessa de nunca mais pisar aqui em terras brasileiras. Suspiro ao ver as fotografias do nosso álbum de família. Sinto falta deles, dos meus meninos. Os anos estão passando e não tenho em meus braços uma criança, continuação do meu sangue, a perpetuação de minha linhagem e dinastia. Sofro ao pensar que o meu doce menino não vai poder me dar esse fruto abençoado, assim como Vittorio. Com meu primogênito a vida foi c***l, o marcou de uma forma tão agressiva. Meu figlio sofreu uma emboscada e nela sofreu grandes danos físicos, que inclusive comprometeram seus órgãos reprodutores. A vida nessa atual geração da familia Grecco, tem sido c***l , talvez cobrando os anos de maldade de nossos antepassados e o sangue que foi derramado por nós. "Meus amados filhos!" - penso, correndo a ponta dos meus dedos por uma fotografia onde os dois estão juntos. Olho para uma foto de Vittorio quando ele tinha três aninhos, com seus olhos negros iguais aos do pai, molhados pelo choro porque queria o colo do Gerardo. Meu marido nunca foi de demonstrar carinho pelos meninos, sempre foi rígido e até mesmo frio. Já eu, sempre dei todo o amor e carinho que pude para ambos. Sim! Segundo o julgamento do meu marido, amar demais alguém é ser fraco, demonstrar sentimentos abertamente por alguém é revelar sua fraqueza. O calendário é impiedoso, ja se passaram seis anos e no decorrer desses anos, Pietro só me telefonou duas vezes e disse poucas palavras. Vittório tem ligado semanalmente para o pai e relatado alguns fatos que têm ocorrido com o irmão, mas sinto que ele esconde coisas de nós, talvez para não nos preocuparmos. Mesmo com meu primogênito tentando nos poupar, meu coração de mãe e meu sexto sentido gritam que tem algo de errado acontecendo. Fecho o álbum e decido deixar as recordações guardadas, assim como as lembranças. Ficar remoendo não vai fazer o tempo voltar para que eu fizesse melhor meu papel de mãe. Saio do meu quarto e desço as escadas, preciso tomar um ar. Vou para o jardim e de longe vejo Larissa, a filha da minha atual funcionará do lar. A menina tira selfis no pergolado coberto pela Trepadeira-jade. Ando até a jovem que distraída nem percebe minha aproximação. _ La fotografia serà molto bella. - falo e Larissa no susto quase deixa o aparelho celular cair. _ Que susto, dona Violeta!- fala levando a mão ao coração, mais pálida do que uma folha de papel em branco.- A senhora me desculpa invadir assim o seu jardim. É que aqui é tão lindo, sei lá, mágico. - diz com um sorriso lindo no rosto. _Questo posto è davvero bellissimo.- concordo com sua afirmação. De repente, a bolha de nostalgia da menina estoura e ela arregala os olhos. Vem à minha frente com as mãos juntas, como em oração, pedindo, ou melhor, implorando para que eu mantenha segredo sobre sua escapulida. _ Dona Violeta pela santinha de caravaggio, não conta para minha mãe que eu estive aqui!- desesperada ela olha para os lados com medo de ser vista por Luzia que nesse momento está na cozinha- Da última vez ela ralhou tanto comigo que fiquei com os ouvidos doendo.- revela. Dou um sorriso cúmplice. _ Claro, nem uma palavra. Mas sua mãe sabe que você pode vir aqui quando quiser, eu dou permição. - aviso para Larissa que logo se entristece . _ Eu sei, mas mamãe disse que não gosta de misturar às coisas. Patrões são patrões e empregados são empregados, cada um tem seu espaço. Não devemos transpor os limites.- diz abaixando o olhar. Procuro palavras para melhor falar, mas o pensamento da mãe de Larissa é idêntico ao do meu esposo. _ Não fique assim, suas vindas aqui será sempre um segredo nosso, capisce?- digo para a adolescente e rapidamente o brilho retorna para aquelas duas esmeraldas. _ Capisco!- diz em evidente alegria. Olhando para a bela moça que vai aos poucos desabrochando, lembro das incontáveis vezes que flagrei a menina por aqui. Na primeira vez ,cerca de dois anos após eles se mudarem para a fazenda, ela ficou muda e com o olhar assustado me mirando. Quando tentou falar, querendo se explicar, às palavras saiam enroladas e com muito custo eu entendi o que dizia: " Dona planta não conta pra mamãe que eu vim aqui, por favor!" Foi difícil me aproximar da garotinha medrosa, mas aos poucos consegui. Percibi que ela sempre aparece por aqui quando Gerardo viaja, isso por que teve uma vez ele brigou com a menina por ela está no nosso jardim. Só gostaria de saber como a mocinha faz para driblar os seguranças? Certa vez, os pais da menina foram chamados à atenção. Gerardo disse poucas e duras palavras a Luzia e Fernando; meu esposo bradou que eles são uns irresponsáveis por não ter os dois olhos o tempo inteiro na menina. Fui saber do ocorrido três dias depois, achei que foi algo que não necessitava de tanta agressividade, mas meu marido acredita que o quanto antes os funcionários soubessem qual é o lugar que eles ocupam, menos problemas iremos ter. Agora, meus olhos admiram a mocinha que arruma alguns fios de cabelos soltos do coque bagunçado. Eu quis muito ter uma filha, no entanto Deus não me deu, meu último parto foi complicado e acabei perdendo meu útero. _ Como vai os estudos?- pergunto para puxar assunto. _ Ah, vai bem! Daqui há três anos termino o ensino médio e vou procurar uma faculdade, ainda não sei bem o que quero fazer. Talvez, agronômia ou geologia não sei.- diz, pensativa. Dou uma olhadinha no meu relógio de pulso e está perto das onzes horas, horário o qual o meu marido sempre me telefonar, quando está longe. _Você é bem jovem tem tempo para escolher. Qual sua idade mesmo?- pergunto . _ Quinze, dona Violeta. - responde meio aflita abraçando o próprio corpo- Desculpa, eu não posso ficar para conversarmos por mais tempo, meu pai está quase chegando para almoçar e se me pega aqui não vai ser bom.- diz enfiando o celular no bolso da calça. _ Claro, pode ir sem medos. Até breve! _ Tchau, dona Violeta!- diz e sai andando rápido. A ragazza está linda, cresceu. Sua pele branca contrastando com o cabelo de tom escuro e ondulado, nariz afilado e pequeno. Ando mais um pouco pelo jardim, o tempo vai passando e nem percebo. Só me dou conta quando Luzia aparece com meu celular em mãos. _ Dona Violeta, estava tocando feito um louco. Deve ser algo importante.- fala me entregando o aparelho e se retira. _ Obrigada!- peço. Olho o visor e vejo que são chamadas de Gerardo e retorno a ligação.
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