Idéias e frustrações/ Um mês depois. ( Pietro)

2063 Words
" Estou declinando cada vez mais sem você aqui, não me sinto bem, na verdade eu nem me sinto mais." Por: Pietro. Enquanto ajustava o relógio no meu pulso, meus pensamentos estavam nela. "Estou sentindo sua falta, bella mia, principalmente hoje que acordei com você na minha cabeça." - falo mentalmente. Larissa não só estava assombrando meus dias, como também meus sonhos. Em muitos deles, eu estava na minha cama tendo acesso livre a ela. A ragazza não me dava paz, mesmo estando a quilômetros de distância, ela me perturbava. Deixo o meu quarto para trás, rumo à sala, preparado para ir a uma reunião onde todos os capos foram convocados. Uma merda isso, porque é um evidente sinal de que o Don não está satisfeito com algo. Olho para a chuva fina que cai lá fora. Em minha mente, um pensamento se tornou vontade e agora idéia fixa, estou disposto a quebrar as porras de uma das regras da organização e trazer o fruto dos meus desejos para perto de mim. Nós, homens de honra dentro da máfia, temos deveres, regras e restrições para cumprir e seguir à risca, e uma delas é não trair a sua esposa. No entanto, eu não estou disposto a acatar. Eu quero Larissa comigo ao meu lado, por isso venho idealizando uma forma para que isso ocorra. Comecei a procurar por um imóvel em Milão para ser a nova residência da menina, reformaria-o todo, pintaria suas paredes com as cores gritantes que a garota tanto gosta. Tornarei a ragazza minha fiel amante, uma vez que não posso mandar para o espaço meu casamento com Andrea. Dentro da organização, esses laços são praticamente indissolúveis, a não ser que ocorra algo muito grave com alguma das partes ou um empecilho muito sério. Caminho até um aparador onde tem uma bandeja espelhada com várias garrafas de bebidas, pego o whisky single malt da destilaria The Macallan e coloco uma dose num copo. Retorno para a grande janela, observo a cidade com tantos caminhos sem fim por onde ela não vem , dou um gole na bebida, o álcool desce deixando um rastro de "fogo" por onde passa. Analiso que agora me tornei uma confusão pura, um homem dividido, carrego em meu coração o amor que sinto por minha falecida esposa e em minha cabeça meus pensamentos são unicamente voltados para a jovem menina que me fascina mais do que todas as outras mulheres. Depois dela, todas as transas que tenho tido têm sido fiasco atrás de fiasco, nenhuma me satisfaz como Larissa, o sexo com ela é tão profundo que é impossível esquecer. Enfio a mão no bolso, pego meu celular, e faço uma ligação para o Brasil. Por lá são dez da manhã, enquanto aqui são duas da tarde, uma diferença de fuso horário de quatro horas. _ Oi, figlio mio! Que surpresa boa!- exclama minha mãe assim que atende. _ Olá, mamma. Como vai tudo por ai? _ Bem, amor meu, seu pai está cada vez melhor. A fazenda anda de vento em popa, solucionamos os problemas com os ratos miseráveis que acharam que poderiam nos passar para trás. Enfim, tudo dentro dos conformes, como deve estar sempre, sob o nosso controle. _ Certo,- respiro fundo antes de fazer a pergunta que desejo saber- mãe? _ Sim, Pietro? _ Como ela está? - pergunto puxando uma respiração, meu corpo sendo tomado por uma onde caldalosa de calor e frio. Minha mãe silencia por alguns segundos, escuto sua respiração pesada do outro lado da linha. _ Não está, meu filho, faz um mês que Larissa foi embora da fazenda. Ao ouvir aquilo apertei o aparelho em minha mão, fechei meus olhos sentindo o gosto do fel vir ao meu paladar. _ Melhor assim. Tenho que desligar estou atrasado para uma reunião com Vittorio.- respondo. _ Tudo bem, figlio, se cuida. Encerro a chamada, sentindo-me quebrar. Meus planos de ir buscar Larissa para viver aqui na Itália sendo arruinados. _ p**a que pariu !- berro lançando o copo longe, escuto o barulho do vidro se espatifando em pedaços. Fico transtornado, passo as mãos pelos meus fios úmidos, sentindo tudo dentro de mim funcionar a todo vapor. Sinto-me sufocar. Larissa, mesmo sem saber, tem o poder de me desestabilizar. Há vinte e três dias, durante o meu acerto de contas com o farabutto que se refestelou durante a tortura de que fui alvo, por pouco, muito pouco, eu não cravei a adaga que utilizava durante o processo de descarne que eu realizava no antebraço do maldito russo em meu primo. Recordo que Artem estava de cabeça para baixo, pendurado pelos pés por uma corrente, enquanto outra envolvia o seu pescoço, tendo na ponta uma esfera de ferro, mantendo o corpo do verme imóvel. Foi com satisfação que entrei assoviando, cortando a escuridão. Eu era o prenúncio de sua morte, não somente um mensageiro. Quando apareci na frente do infeliz, vi seus olhos ficarem enormes, uma confissão muda do medo que o invadia pouco a pouco. O meu prazer e o meu sorriso maligno cresciam conforme eu presenciava o desespero do homem tentando se soltar, mesmo ele tendo plena consciência de que não conseguiria. Lembro de fazer um gesto com a mão para que a luz do ambiente fosse acionada e o corpo do homem descido, a claridade dominou tudo, dando plena visão do ambiente completamente branco, muito diferente do galpão sujo e fétido onde fui aprisionado. _ Enfim, nos encontramos.- falei para o maledeto. O morto-vivo gargalhou como um desvairado. _ Então é o italiano de merda. O que foi, ficou irritadinho com os machucadinhos que fiz em você? - disse com evidente desdém. Estalei a língua no céu da boca, tranquilo e pensando por qual parte do seu corpo eu começaria a esfolar primeiro. Com um gesto, ordenei que o stronzo fosse colocado numa maca cirurgica e seus pés e mãos imoblizados. Me aproximei do monte de excremento. _ Artem ,você teme a morte?- perguntei me deliciando com o ódio e o desepero que suas íris azuis deixava transparecer. A minha resposta fui uma cuspida que recebi bem no rosto. _ É, já vi que não .- falei retirando um lenço do meu bolso e limpando a secreção nojenta da minha face. _ Vai pro inferno, calabrez maldito! - gritou fazendo força para soltar seus punhos das amarras. _ Que tal começarmos, não gosto de procrastinar. Muito suspense não trás a emoção que excitam meus sentidos.- bradei com fulgor enquanto pegava uma faca pequena e pontiaguda. Artem transpirava, por sua tez escorria gotas de suor. Peguei o líquido composto por 99% de água e sais minerais, meus dedos sentiram a temperatura fria, dei um esgar de sorriso. _ Está apavorado? Não fique, feche os olhos e finja que tudo é apenas um pesadelo. Ops, esqueci que embreve você não terá mais olhos. - proferi cravando a faca no globo ocular, vendo o corpo do homem tremer, enquanto o odor de mijo e sangue contaminava o ar a nossa volta. _ Eu posso até não sair vivo daqui, mas a sua raça desgraçada vai pagar, meu irmão destruirá não só essa organização de bosta, como também a sua família. _ Hum, - emiti o som levantando as minhas sobrancelhas - mas quem foi que disse que você não vai sair daqui? Você vai, o incinerador te espera. Sabe que eu consigo sentir o cheiro do medo, é ,não me pergunte como, só sei que posso e eu sinto o seu, quase posso saborea-lo. - revelei me voltando para o carrinho e escolhendo um alicate para poder " poder" seus dedos. _ Você pensa até nas frases de efeito, bastardo, ou vai improvisando pelo caminho. Olhei por cima do meu ombro, peguei um facão e decepei seu pé direito para fora. _ Caramba! Olha o que você me fez fazer? Agora tenho que estancar essa hemorragia, se não a festa acaba antes da hora. - falei me virando de costas para o rascunho de ser humano- já experimentou a cauterização por fonte de calor para ferimentos, acho que não. Se soubesse o quão r**m é não ofenderia um homem com termos tão depreciativos. _ Vá se fuder!- Artem disse soluçando de dor. Não o respondi, apenas puxei um carrinho com uma série de ferramentas que usei no corpo de Artem. A coisa toda estava indo conforme eu desejava, até Vicenzo resolver se juntar a mim na "brincadeira" e sair da sala de observação, onde o Don e alguns membros assistiam a tudo protegidos por um espelho falso. Eu não me importava de ter um ajudante me auxiliando a desmembrar ou dando assistência no campo da tortura, isso é algo recorrente. Não se pode ter toda a diversão sozinho. Vi de relance quando Vicenzo parou na frente das minhas adagas. _ Uau, essa eu nunca tinha visto antes, vou estrear essa belezinha aqui.- expressou, levantando a mão para alcançar uma delas, justamente a que Larissa e eu dividimos. A lâmina daquela arma branca tocou apenas as nossas peles, trouxe a fisgada de dor apenas para nós dois, e assim ela permaneceria. Senti meu sangue ebulir, aquela faca não podia ser maculada com o sangue de outro alguém. Era algo que apenas ela e eu compartilhamos. _ Não toque nisso!- viciferei bravio. _ Qual é Pietro, você tem tantas outras para usar. Essa não vai lhe fazer falta.- disse, esticando a mão para pegar a adaga que cujo cabo é forrado por diamantes. Foi instintivo: lancei a faca que estava em minha posse na direção do meu primo. Vicenzo por uma questão de milímetros, não teve seu pescoço perfurado. Artem agonizava em cima da maca quando a confusão começou. Vittorio e os demais se fizeram presentes. Vicenzo , irado, partiu com seus punhos cerrados para cima de mim, e rolamos no chão trocando socos. Os gritos do Don pedindo para pararmos não surtiram efeito, e por essa razão os demais nos separaram. Eu estava numa fúria colossal, tanto que três soldados me seguravam, pois queria transformar meu primo num monte de carne disforme. _ Seu drogado, filho da p**a! Queria me matar seu desgraçado. - gritou Vicenzo, sendo imobilizado por Vittorio. Ri com o sangue vertendo pelo canto da minha boca. _ Avisei para não tocar. Você não quis ouvir, então arque com as consequências. _ Para com essa merda vocês dois!- ouvi a voz do meu irmão reverberando pelo local. Meu primo foi arrastado para fora da sala de tortura. Quando me vi liberto, puxei a arma da minha cintura e descarreguei no corpo do filho da p**a que gemia. Artem agora viraria pó no incinerador. Vittorio me lançou um olhar perturbador. _ Que desgraça toda é essa, Pietro? Está se rebelando por que razão? Quais as circunstâncias que estão te colocando tão insano? Atentar contra a vida de um m****o da organização, caramba! Perdeu o juízo? Sabe que a consequência para uma atitude assim é... droga, garoto! Quer arruinar a sua vida? É isso? - Naquele momento, não era o Don a falar comigo, e sim meu irmão. _ Estou me perdendo a cada dia, meu irmão, tem vezes que eu não sei mais quem sou. Meu irmão deu ordens para todos sairem da sala, ficamos só nós e os restos mortais do russo. _ Vou contornar essa situação dessa vez, Pietro. Mas se houver uma próxima não poderei te ajudar, entenda que não posso ficar limpando as lambanças que vem fazendo.- falou, voltando as suas costas para mim. Vi meu irmão partir, segui até a maleta, olhei para o motivo do meu desatino. Ergui a mão para tocá-la, mas recuei no exato momento em que meus olhos viram o sangue envolvendo a minha mão. Sou despertado das minhas lembranças com o toque do meu celular. Pego o aparelho e vejo o nome do meu irmão piscando na tela. Silencio o toque irritante e guardo o meu telefone, saio de casa. _ Podemos ir.-falo para os soldados que fazem a segurança da entrada do meu apartamento. A cada passo que dou, a imagem dos olhos verdes e brilhantes da ragazza permeia minha mente. Talvez nossos destinos agora sejam paralelos, sem nenhum ponto de encontro. "Melhor procurar uma forma de esquecê-la, Pietro. Larissa ficou no passado, apenas mais uma página como tantas outras que o compõem, nada mais que isso", falo mentalmente.
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