○ UM MÊS DEPOIS.....
" Se você tem um motivo para amar, então se entregue não espere para viver amanhã o que pode viver hoje. Lembre-se o hoje é certeza e o amanhã não sabemos."
Por: Larissa.
Eu não estava me adaptando bem à vida aqui em Uberlândia, e isso estava se refletindo na minha saúde. Eu não me sentia nada bem.
Há alguns dias não consigo me alimentar direito, meu estômago está sensível aos alimentos, tornou-se seletivo e o que não o agradava, meu organismo expele para fora.
É a segunda vez no dia que eu estou trancada no banheiro da loja, regurgitando o sanduíche de peito de peru rejeitado com veemência. Da primeira vez foi o café, o líquido retornou trazendo um amargor tão intenso a minha boca que a êmese se fez presente.
Aperto o botão da caixa acoplada ao vaso sanitário, mandando o conteúdo gástrico embora para a rede de esgoto.
Não querendo preocupar minha tia, tenho escondido esses m*l-estares dela. A mulher tem a minha avó para cuidar, não precisava de uma sobrinha doente para lhe trazer aflições.
Olho meu reflexo no espelho e estou com os lábios pálidos, olhos lacrimejantes. Minhas mãos tremem.
"Preciso ver um médico com urgência", murmuro.
Lavo meu rosto, escovo meus dentes e deixo o cubículo levando minha nécessaire comigo.
Entro na sala reservada para os funcionários poderem almoçar e deixar seus itens pessoais. Pego a minha mochila e guardo a diminuta bolsa.
Estou me sentindo tão enjoada que decido não ir ao cursinho que iniciei semana passada no período noturno.
_Você precisa é descansar, Larissa, isso pode ser fadiga.- murmuro para mim mesma.
Rumo à frente da loja, quando chego, avisto duas clientes. Aparentemente elas estão juntas, como todas as outras vendedoras estão ocupadas, me aproximo.
_ Boa tarde, é um imenso prazer recebê-las em nossa loja. Gostariam de alguma ajuda? - falo com simpatia.
_ Estamos dando uma olhadinha. Se gostarmos de algo, te chamamos, pode ser?
_ Claro, meu nome é Larissa e estou aqui à disposição das senhoras. - falo e me retiro, dando espaço para as compradoras se sentirem a vontade para olhar os produtos. Decido arrumar os chinelos no expositor, que estão uma bagunça. Muitos clientes entram, experimentam ou retiram os pares do lugar e, no final, quando decidem não levar, os jogam de qualquer modo. Se as pessoas soubessem o esforço que é para manter uma loja impecável, não fariam coisas desse tipo. Teriam consideração pelo trabalho alheio.
_ Mocinha! Larissa!
Olho para ver quem me chama e vejo as duas senhoras com quem falei há pouco.
_ Eu quero essa sandália monobloco, número trinta e sete, só que quero na cor vermelha. Esse azul está apagadinho e não gosto de cores "apagadas". - fala amigavelmente, me fazendo rir.
_ Sim, mais alguma coisa?
_ Deixa eu ver, hã, sim... me traz essa sapatilha, número trinta e cinco. Mamãe ama sapatilhas, tem várias - diz com um sorriso no rosto.
_ É uma para cada ocasião, sou velha mas quero andar bem aprumada - a senhora que aparenta ter uns sessenta anos diz.
_ Podem me aguardar sentadas naquelas cadeiras, por favor - aponto para os assentos acolchoados e forrados com corino de cor preta - que já trago os calçados. - falo, dirigindo-me às escadas que levam ao estoque.
Assim que subo, procuro pelos calçados. Com as caixas em mãos, começo a descer os degraus. De repente, sinto minha visão ficar turva, tudo começa a girar e perco os sentidos.
Recobro a consciência sentindo um incômodo no meu braço esquerdo. Sem entender direito o que está acontecendo, abro meus olhos e me assusto ao ver que estou deitada numa maca com um acesso intravenoso no meu antebraço.
Faço menção de sentar, porém sou detida por minha tia.
— Deite-se, você está precisando descansar. Não pode fazer esforço no seu estado. — diz, com lágrimas descendo dos seus olhos.
Fico angustiada, sem ter noção do que está acontecendo.
— Tia, pelo amor de Deus, me diz o que eu estou fazendo aqui? — peço, sentindo um nervosismo me consumir.
_ Você desmaiou no trabalho, chamaram o socorro médico e me ligaram para informar. Você quase rolou escada abaixo, Larissa. Se não fosse sua colega Rosália, você poderia... nem quero imaginar. - diz, olhando para o teto branco do enorme quarto onde estou.
_ Eu não pensei que isso pudesse acontecer. Ultimamente, tenho mesmo sofrido com meu estômago fraco, só que não achei que chegaria ao ponto de desmaiar. - falo, olhando para o frasco de soro pela metade.
_ Vou avisar a enfermeira que você acordou, tá, meu bem? - minha tia diz, dando um beijo na minha cabeça e sai apressada.
Olho à minha volta e vejo vários leitos vagos. O cheiro do lugar me deixa nauseada. Levo a mão à boca, tentando controlar a ânsia de vomito.
_ Boa tarde, vamos ver como vai essa jovem mamãe! - diz o médico entrando no cômodo, junto com a enfermeira e minha tia.
Olho para o senhor que usa um jaleco branco e possui uma cabelos cacheados grisalhos.
Frunzo o cenho, sem entender.
_ Mamãe?! - pergunto.
Olho assombrada para minha tia, que com a mão em seus lábios, apenas anui enquanto as lágrimas banham seu rosto. Devagar, ela me mostra o papel em suas mãos.
Fico em choque com o que ouço.
Olho para o meu ventre chato, não querendo acreditar em tudo que está acontecendo.
_ Você teve sorte de sua queda ser amortecida. Poderia ter sofrido um aborto em consequência do tombo.- diz o médico, colocando o esfigmomanômetro em meu braço.
Meu corpo gela, tudo silencia em torno de mim. Parece que fui engolida pelo vácuo.
_ Prestou atenção nas recomendações médicas, mãezinha? - a enfermeira fala, tocando em meu ombro.
Olho para a profissional e minhas lágrimas descem fortes. Soluço desamparada, completamente perdida diante dessa notícia que me pegou de surpresa.
_ Foi só um susto, senhora. Agora é redobrar o cuidado e tudo ficará bem. Recomendo alimentação leve nesses primeiros meses, bastante ingestão de água, zero de cafeína e repouso. - o médico diz, retirando o aparelho do meu braço. - Vou te dar alta. Procure seguir o pré-natal direitinho, é muito importante para a sua saúde e a do seu bebê. - completa e depois sai junto com a enfermeira .
Percebi que ambos os profissionais queriam mesmo era me dar um tempo a sós com minha tia. Eles notaram a minha expressão de incredulidade diante da afirmação de que estou grávida.
_ Tia, eu... eu posso explicar tudo. - profiro com a voz chorosa.
_ Não precisa, Larissa. Seu pai me contou tudo por telefone. Como você pode ter se deixado iludir, minha menina? Agora você está carregando um fruto dessa aventura. - diz, estendendo-me o papel, que pego com as minhas mãos trêmulas. Meus olhos não querem acreditar no que leio. O positivo faz meu coração acelerar tanto que parece que vai saltar para fora do meu peito.
"Isso não pode ser possível!" - grito por dentro.
_ Ele me disse que é estéril. - falo num fio de voz.
Minha tia me abraça de lado.
_ E você acreditou, minha menina, confiou nas palavras de um canalha. Ele te enganou de uma forma tão suja. Foi um covarde, plantou a semente dele dentro de ti e sumiu.
Eu choro agarrada àquela folha de papel que é a comprovação do quão c***l Pietro é.
Passo a mão na minha barriga, sabendo que um pedaço dele está se desenvolvendo dentro de mim, um ser inocente que não tem culpa de nada.
Olho para onde minha mão está pousada. Eu me tornaria mãe, cuidaria daquela criança com todo amor do mundo.
_ Como vou dar essa notícia aos meus pais? - falo, pensando o quanto isso pode os destruir.
_ Eles já sabem, eu contei. Desculpa, Lari, mas eu não sabia o que pensar sobre tudo isso. Nunca te vi falar sobre nenhum rapaz e de repente recebo um exame comprovando sua gestação. - expressa, tentando se justificar.
_ Eu entendo. - falo, olhando fixo para a parede.
No íntimo, eu procurava uma razão plausível para o destino estar me dando rasteira, atrás de rasteira. Busco também uma justificativa para o italiano ter sido tão ardiloso comigo.
_ Mais tarde seu pai vai te ligar.
Abaixo minha cabeça, pensando que sou uma tremenda decepção para o casal Luzia e Fernando.
Se eu disser que não estou desesperada, estou mentindo. Estou sentindo tanta dor com a descoberta dessa nova mentira.
Como será a minha vida daqui para frente? Estou me perdendo em incertezas. Está evaporando a menina apaixonada pela vida e nascendo a mãe que protegerá essa criança de todas as maldades do mundo, principalmente das pessoas.