Já era perto das nove quando ele apareceu. Eu estava na sala da frente da ONG, com um relatório aberto à minha frente. Tentava parecer ocupada, rabiscava palavras no canto do papel, mas não absorvia nada. A mensagem que tinha recebido de manhã continuava latejando dentro da cabeça, como se tivesse sido tatuada por dentro dos olhos: "Tá pronta pra criar essa menina sozinha?" Nem precisava estar na tela. Estava em mim. Quando a porta da frente bateu, primeiro veio o cheiro. Kay. Mistura de rua, suor e aquele perfume barato que eu já reconhecia antes mesmo de ver. Depois, os passos firmes. E, por fim, a voz grave que sempre me desmontava. — E aí, minha preta. Levantei devagar o rosto. Ele estava parado na porta. Boné puxado pra trás, ombros tensos, as olheiras fundas denunciando a madru

