NARRAÇÃO JULIE:
Eu m*l conseguia acreditar no que estava acontecendo.
O casamento que deveria mudar a vida do meu irmão tinha desmoronado diante de todos nós, e meu coração parecia que ia rasgar dentro do peito.
Liana estava ali, arrasada no sofá, e eu só conseguia pensar que aquilo não podia ser real.
— Isso não pode estar acontecendo...
sussurrei, quase sem voz, sem tirar os olhos dela.
— Por que ele não desistiu antes?
Eduardo, ao meu lado, respirou fundo.
— Porque a Liana está grávida.
Eu travei. Virei o rosto para ele, chocada.
— O quê? Ele te contou isso?
Ele confirmou com um aceno, firme.
— Sim. Mas era algo íntimo deles, não cabia a mim sair espalhando.
Senti o estômago embrulhar.
— Então agora a gente tem segredos?
perguntei, sentindo a raiva subir.
Eduardo tentou me acalmar, se aproximando.
— Não é isso, princesa... Tá bom, eu prometo que não vou mais guardar nada. De ninguém. Eu conto tudo, juro. Assim está melhor?
Suspirei, ainda com o coração apertado, mas diante da forma como ele me olhava, acabei cedendo.
— Eu acho bom... eu conto tudo a você.
— rsrs.. eu vou contar mais então.
Abracei ele forte, como se só ele pudesse me segurar no meio daquele caos.
— Isso ainda vai trazer muitos problemas...
murmurei, colada ao peito dele.
— O Gusmão não vai gostar nada disso.
— Eu não vi mais ele. Você viu?
Eduardo perguntou.
Balancei a cabeça em silêncio.
Nesse instante, o carro do Gusmão parou na frente da mansão, e Eduardo apertou a minha mão.
— Vem, vamos lá.
Entramos juntos e o caos já estava armado. Lívia, a mãe do Edgar, estava transtornada, com o rosto vermelho de raiva.
— Ele não podia fazer isso!
ela gritava.
— Pra onde ele foi? Por que você não impediu, Welice!? Você mais do que ninguém deveria ter segurado aquele garoto rebelde!
Meu pai, firme, respondeu sem abaixar a cabeça:
— Ele é um homem! Um homem formado, com suas próprias escolhas. Não é mais um menino.
Liana continuava sentada, pálida, ainda no vestido de noiva, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.
A mãe dela acariciava seus cabelos, tentando consolar, mas a voz dela soava tão distante...
— Seu pai deveria estar aqui...
Liana não respondeu.
Apenas levou o copo de água aos lábios, bebendo como se fosse a única coisa capaz de mantê-la viva.
— Calma, Liana… não está tudo perdido!
Lívia dizia, tentando manter a voz firme, mas por dentro estava em furiosa.
— A gente vai encontrar ele, vai trazer ele de volta.
Ela nos olhou com os olhos vermelhos, sem qualquer esperança, e a voz saiu arranhada, quase um sussurro:
— Ele não podia ter feito isso comigo.
Meu pai, Welice, se endireitou na poltrona, a bengala apoiada ao lado, o olhar pesado sobre todos nós.
— Ele não vai voltar.
Lívia o olhou com chamas nas pupilas.
— É claro que ele vai!
disse convicta.
— Ela está grávida!
Um silêncio sufocante tomou a sala. Até o barulho dos copos pareceu desaparecer.
Então, como se cuspisse as palavras, meu pai continuou:
— Ele não vai deixar de ser pai dessa criança só porque esse casamento não aconteceu.
A mãe do Edgar, indignada, retrucou quase gritando:
— Mas o que está acontecendo com você, Welice!? Está defendendo a irresponsabilidade desse garoto!?
Eu fiquei paralisada. Era estranho demais ouvir meu pai falar daquele jeito.
Ele se virou para Liana e suavizou o tom:
— Um casamento não pode começar com prisões emocionais, Liana. Eu sei o quanto você amou meu filho por muitos anos. Mas ele nunca vai te dar o que você desejou. Veja isso como um livramento de um futuro infeliz.
— Hã? Você não pode ter dito isso!
Lívia explodiu, as mãos trêmulas.
— Você enlouqueceu?
Meu pai, impassível, apenas soltou:
— Somos a prova viva de que isso nunca deu certo. Obrigações, responsabilidade… tudo não passa de uma ilusão, que só arrasta pra uma vida infeliz.
As palavras caíram como pedras.
Eu senti todos os olhares se virarem para mim quando ele completou, num tom duro, mas carregado de verdade:
— Eu amei sua mãe, filha.
Engoli em seco, o rosto queimando. Não sabia onde enfiar os olhos.
Ele voltou a olhar para Liana.
— Mas foi tarde demais… E eu não vou deixar que cometam os mesmos erros. Isso também serve pra você, Liana.
Ela desabou em lágrimas, as mãos cobrindo o rosto. Eu nunca tinha visto uma noiva chorar daquela forma.
Era dor, era humilhação, era desespero puro.
— Você não pode fazer isso, Welice!
A mãe dela dizia, acariciando os cabelos da filha, implorando por algum alívio.
Foi então que Liana soltou, com a voz embargada, quebrada:
— Ele foi atrás dela, mãe… De novo. Sempre atrás dela.
O choque percorreu todos ali. A mãe de Liana respirou fundo, vencida, e puxou a filha pelos ombros.
— Vem, filha… vamos embora. Você não vai passar por essa vergonha aqui.
Lívia se levantou de imediato, cerrando os punhos:
— Eu vou com vocês. Meu neto não vai ficar desamparado, e eu não tolero essa falta de vergonha!
As três saíram juntas, e eu fiquei paralisada vendo aquela cena se desfazer diante dos meus olhos.
Meu pai se virou para mim e para Eduardo, os olhos mais firmes do que nunca:
— Entreguei o endereço dela pra ele.
Meus lábios tremeram.
— Meu Deus, pai…
— Eu quero que sejam felizes. Já abri mão demais… Dessa vez não.
Eu fiquei em choque, sem saber como reagir. Eduardo, ao meu lado, apenas assentiu.
— Fez bem… Ele nunca deixou ela de verdade, senhor Welice.
— Eu sei.
respondeu meu pai, com um peso na voz que não dava pra traduzir.
Eu me afundei no sofá, o coração esmagado. Minha mente só conseguia girar em torno de uma única pergunta:
como a gente ia seguir depois disso?
Liana… grávida, abandonada no altar.
E agora? Como iriam cuidar dos negócios?
Como iriam proteger aquele bebê em meio a tanto caos?
Fechei os olhos, sentindo a garganta arder. Por mais que eu quisesse acreditar, algo dentro de mim dizia que aquilo era só o começo da tempestade.
E eu sei que meu irmão tem todo direito de ser feliz, mas dá forma que fez...
Isso vai parecer ser uma meta impossível.
Eduardo percebeu meu olhar perdido e se inclinou um pouco, falando baixo, só pra mim:
— Vem comigo pro meu apê… essa casa vai virar um caos.
Sua voz estava tão protetora, cauteloso, charmoso.
Abrir um sorriso pequeno e assenti sem forças, ainda tentando processar tudo.
Olhei pro meu pai, preocupada.
— Pai… vou levar o senhor pra casa primeiro, tá bom?
Ele respirou fundo, se apoiando na bengala, mas o tom saiu firme, quase ríspido:
— Eu ainda não sou inválido, Julie. Consigo me virar.
Meu peito apertou. Eu sabia que ele odiava parecer frágil, mas não deixei de segurar sua mão.
— Eu sei disso… só tô cuidando do senhor.
Por um instante, os olhos dele marejaram, e meu coração apertou ainda mais quando ouvi sua voz rouca:
— Eu não merecia uma filha assim. Você foi a coisa mais perfeita que fiz na vida.
Engoli em seco, com uma vergonha e ao mesmo tempo amor profundo.
Sorri, tentando segurar as lágrimas.
Ele se virou para Eduardo, sério:
— Cuide da minha filha, rapaz.
Eduardo endireitou a postura e respondeu com um sorriso firme:
— Pode deixar, senhor.
Meu pai ergueu o queixo, meio emocionado, meio teimoso.
— Você tirou a sorte grande.
Eduardo riu baixinho, mas respondeu sem titubear:
— Eu sei.
Meu peito se aqueceu naquela hora.
Ver os dois assim… era estranho, mas de alguma forma trouxe um conforto em meio àquele caos.
...
Logo depois de deixar ele em casa, Edu deu partida no carro.
Eu fiquei olhando pra ele e balancei a cabeça, rindo baixinho.
— Você baba muito ele, sabia?
— Eu?
ele riu, desviando rápido o olhar da estrada pra mim.
— Por quê? Porque disse que tenho sorte de ter você?
Assenti, meio boba, mordendo o lábio.
— Uhum.
Ele esticou a mão, apertando a minha sobre o câmbio.
— Mas eu tenho mesmo. Tô falando sério, Julie… Eu ainda vou casar com você.
Meu rosto inteiro esquentou.
Não consegui segurar o sorriso que tomou conta de mim. Então, me inclinei e encostei os lábios nos dele, um beijo doce, que me fez esquecer por um instante de todo o drama que deixamos pra trás.
Quando me afastei, ele tentou não perder o foco na direção, mas eu percebi o jeito apaixonado que me olhava de canto.
Deitei a cabeça no ombro dele, o coração quentinho, e pela primeira vez naquela noite, senti um respiro de paz.
.....