Fabrício
Caralho...
Essa p***a não tem fim, não?
Farinha: p**a que pariu, Rayssa. Não dá nem pra fuder contigo em paz, caraí. Tu só sabe encher meu saco, p***a.
Bufo alto, saindo de cima dela, jogo a p***a do lençol pro lado e pulo da cama indo vestir a bermuda. Ainda tô de p*u duro e puto. Saco cheio dessa p***a já. Minha cabeça ta latejando e minha paciência já era.
A Rayssa sabe me deixar puto.
Rayssa: Eu tô enchendo teu saco, Fabrício? Eu? — retruca apontando pra si mesma.
Farinha: É tu mermo, c*****o. Sempre tu.
Pego a camisa do chão e enfio pela cabeça com raiva, nem seco o corpo. Passo o olho pelo chão e vejo a p***a do meu chinelo enfiado embaixo da cama.
Ela cruza os braços, só de sutiã, o cabelo bagunçado e o olhar em mim como se fosse me matar.
Rayssa: Tá se vestindo porque? Vai fugir é? Sabe porque tu não aguenta ouvir a verdade? Porque no fundo tu sabe que eu tô certa. Se tu não tivesse culpa nenhuma, ficava aqui, olhava na minha cara e se defendia. Mas não, tu corre, sempre corre e me chama de louca. Corre porque sabe que eu tenho razão!
Paro com a mão na cintura, coluna ereta e de frente pra ela, com a cabeça baixa. Tô respirando fundo tentando segurar a p***a do estouro. Mas tá complicado.
Nunca bati em mulher e sou totalmente contra esses bagulho, mas tem hora, papo reto que dá vontade de largar a mão na cara dessa daí.
Tô morando com a Rayssa a cinco anos. Cinco anos nesse c*****o. Tirando o tempo que nós so se pegava.
Minha mãe fala umas parada que às vezes eu nem dou moral na hora, mas depois que o tempo passa... a ficha cai.
Ela sempre mandou essa de que do mesmo jeito que tem muito homem que não presta também tem muita mulher que só atrasa o lado do cara.
E na moral? É verdade.
Tem mulher que não soma, não contribuí com p***a nenhuma..
Só pesa.
Só leva pra trás.
Só traz retrocesso e dor de cabeça.
A Rayssa é exatamente assim.
E o mais doido é que nem sei porque eu ainda aturo essa p***a.
Acho que é pena. Só pode.
Pena porque a família dela é uma merda, porque ela vive em depressão, porque já tentou se matar uma pá de vezes.
E esses bagulho deixa qualquer um m*l.
Principalmente quando é uma pessoa que tu tem algum tipo de consideração.
Talvez por isso que eu fiquei. E fui ficando. Mesmo sem querer. Mesmo não querendo mais essa p***a.
Eu só... permaneci. Assim como ela permaneceu comigo durante o tempo que puxei cadeia lá em Bangu.
Mas todo dia eu olho pra ela e penso:
"Até quando, Farinha? Até quando tu vai segurar essa merda de casamento?"
Farinha: Rayssa... — falo baixo, sem encarar — Tu precisa voltar a ir lá naquela medica, tomar teus remédios e se cuidar mano.
Ela levanta a cabeça com o rosto vermelho e os lábios tremendo.
Rayssa: Eu só preciso de você. — sussurra.
Farinha: Tu não precisa de mim. Tu precisa se encontrar. Se tratar. Cuidar dessa dependência emocional que tu tem por mim. Eu não sou médico, não sou tua cura, não sou tábua de salvação de ninguém. Sou só um cara que tá cansado de viver essa p***a. Que tá no limite. Que só queria chegar em casa e conseguir trepar em paz. Mas nem isso a gente consegue mais.
Rayssa: Eu te amo.
Farinha: Mas eu não te amo — falo firme.
Ela desaba. Deita no colchão e começa a chorar alto, como uma criança.
Rayssa: Eu só queria que tu me ouvisse - fala me olhando e as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
Apesar dela ser linda a gente não se entende mais.
Farinha: Beleza então. Dá teu papo! Mas tem que aguentar ouvir depois. Não é só falar não. Da a voz e depois escuta.
Ela concorda começando a soltar tudo.
Rayssa: Tu deu uma moto zero pra Rayane, né? — n**o na hora — Mentiroso!
Tu deu sim, e ainda teve a audácia de defender aquela p*****a na minha frente.
Como se ela fosse uma santa…
Como se eu fosse a errada da história!
Vai se f***r, Farinha!
Se fosse por mim, eu tinha colocado fogo na casa dela com todo mundo dentro! — fala até bufando de ódio — Tu foi homem de defender ela sendo que nunca me defendeu.
Grita se desfazendo em lágrimas.
Farinha: Eu não dei p***a nenhuma de moto pra ninguém, Rayssa. — solto calmo, com a voz grave no corte. — Só defendi a Rayane porque tu tava lá igual demônia querendo tocar fogo na casa da mina com a família dela dentro.
Os menor me deu o papo que tu ia fazer merda por isso eu fui lá pra evitar o pior. Só por isso.
Não tem presente, não tem amante, não tem p***a nenhuma. A mina é mó tranquila.
Agora... se tu tá esperando que eu vá te defender fazendo esse tipo de cena, se prepara pra morrer esperando.
Porque de mim, tu não vai ter isso não.
Digo tudo mirando ela e largando sem pena.
Rayssa: Tá vendo como tu é covarde... Aprende, Rayssa. Pra deixar de ser burra. — ela bate as mãos de um jeito irônico e rindo em meio as lágrimas.
Farinha: Para de teatro Rayssa.
Rayssa: Você é covarde! Acabou de dizer que não vai defender a mulher que deita do seu lado todo dia - fala apontando o dedo - A mulher que fechou contigo quando tu tava fudido, preso e nenhuma delas te queria.
Passo a mão pelo meu rosto cansado e sem um pingo de paciência pra discutir. Puxo o chinelo com o pé, calço e fico encostado ao lado da cômoda encarando ela. Com as duas mãos enfiadas no bolso da bermuda e postura fechada.
E ela começa a me xingar.
Farinha: ENQUANTO TU CONTINUAR - falo alto cortando ela - BRIGANDO COM AS MINA em frente de escola só porque na tua cabeça fudida elas tão saindo comigo EU NÃO VOU TE DEFENDER MERMO E f**a-SE… Enquanto continuar quebrando moto de trabalhador, riscando carro de parceiro meu, brigando com mulher grávida, se atracando em beco com canivete na mão. EU NÃO VOU TE DEFENDER! — falo sentindo a raiva me consumir, com os olhos vidrados nela. — E se um dia o Roxo te levar pro desenrolo… eu ajudo os menor a te cobrar. Te mete não, que tu sabe como é.
Ela me olha com um olhão esbugalhado, queixo trêmulo, o peito subindo e descendo rápido. Como se tivesse corrido a favela inteira pra vir peitar meu juízo.
Rayssa: Tu vai ter coragem de se juntar com eles pra me meter o p*u, Fabrício? — fala, com a voz embargada.
Farinha: VOU! Se precisar pode crer que eu VOU — digo saindo do quarto e ela vem atrás.
Rayssa: É errado correr atrás do que é meu? Do que eu amo. - pergunta com a voz de gralha no meu ouvido.
Farinha: Tu tinha que tá correndo era atrás do carro do CAPS... porque a tua mente não bate faz tempo. — falo lento, já com aquela ruga fechada entre os olhos. — Tu faz é o inferno na vida dos outros, e na minha então... p***a, virou rotina.
Rayssa: Viu como tu me trata? Só me esculacha. O tempo todo! — ela grita, jogando a almofada do sofá no chão.
Farinha: Esculacho não. — falo serio, com o maxilar travado, encarando ela por cima da sobrancelha enquanto abaixo a cabeça levemente — Te trato do jeito que tu me força a te tratar. Tu quer o quê? Palminha nas costas depois de infernizar a minha vida o dia todo?
Farinha: Tu quer paz? Começa por tu, p***a. Porque se depender de mim, eu até tento... mas tu não ajuda, p***a. Tu não colabora. Só sabe fazer barraco. — ajeito a bermuda e passo a mão na cara respirando fundo. — Eu sou r**m? Beleza. Mas vê se tu já parou pra pensar no tanto que tu é tóxica. Porque eu penso nisso todo dia.
Ela se cala, mas me encara com raiva, mordendo o canto da boca com os olhos marejando.
Farinha: Tu tem ciúme da minha mãe cara... — falo vendo sua expressão se contorcer de raiva.
Rayssa: Claro. Tu dá mais atenção pra ela e pra Jéssica do que pra mim. — solta com raiva, levantando a voz.
Farinha: p***a, cê quer que eu corte laço com minha coroa agora? Que eu vire as costa pra minha família pra poder ficar babando tua bola o dia todo? — vou andando pro quarto novamente, catando meu boné em cima da cômoda. — Tu tá de s*******m, né? Tá achando que meu mundo gira só em torno de tu?
Rayssa: Não é virar as costas é dar mais atenção pra sua mulher. Mas eu sei porque tu gosta de ficar lá. Tu fica enfiado lá porque aquelas piranhas das amigas da tua irmã vivem lá na casa da tua mãe.
Rayssa: E elas apoiam as tuas safadezas.
Farinha: QUAIS SAFADEZAS, RAYSSA? — estalo o pescoço e falo em voz alta. — FALA UMA,p***a. UMA SÓ, que eu tenha escondido de tu nessa p***a.
Ela recua meio no susto, mas segura no olhar. Mantendo a postura.
Rayssa: Safadeza dela deixar tu se pegar com mulher dentro da casa dela.
Farinha: Ah, vai tomar no cu, Rayssa. — dou uma volta curta no quarto, rindo com ironia e passando a mão na aba do bone. — Tu quer se pintar de vítima só que tu não é
Farinha: Desce do salto, c*****o. — encaro firme. — Tu entrou nesse bonde sabendo o itinerário. Sabia das mina, sabia dos esquema, sabia que eu não era homem de uma mulher só. E agora vem falar que minha mãe passa pano pra mim? Ela e a Jéssica são as únicas pessoas a me xinga quando eu vacilo. Nunca peguei mulher na casa da minha mãe. Ela nunca aceitaria uma p***a dessa.
Rayssa: Duvido! Não é o que eu vejo...
Farinha: Tu vê o que te interessa ver. — me aproximo devagar, e boto o dedo em forma de arma na têmpora dela. — Tu cria roteiro na tua mente, atua, dirige, edita e quer que eu pague ingresso. Tu viaja nessa p***a e me joga no meio do teu filme. Mas aqui fora é vida real, minha filhona.
Ela baixa os olhos e engole seco.
Farinha: Só te falo uma parada... Não joga minha família na roda não. Não paga de doida. Porque se tu briga comigo, tu briga comigo. Agora se botar minha mãe e minha irmã no meio... aí minha conversa vai mudar contigo.
Ela não responde e sai correndo pro banheiro. Ouço o som do chuveiro ligando e saio de casa.