Capítulo 1 – Entregue ao Capo
Aurora Mancini
No submundo implacável da máfia, a palavra dada é lei, um pacto selado com sangue e honra sombria. Uma promessa não é mera formalidade, mas um juramento vinculativo com consequências eternas. Quebrá-la é assinar a própria sentença de morte, uma afronta imperdoável que clama por retaliação brutal. Cumprir uma promessa, por mais árdua ou perigosa que seja, é a própria essência da lealdade e do respeito dentro da organização criminosa. A vida de um mafioso pende por um fio tênue, onde a fidelidade à palavra empenhada é a única garantia de sobrevivência em meio a traições e vinganças implacáveis. A promessa ecoa como um decreto inquebrável: cumpra ou prepare-se para enfrentar a fúria da Cosa Nostra.
Eu era o preço.
A moeda de sangue.
A filha de um homem fraco que ousou trair a Cosa Nostra.
E por isso, fui entregue como se ainda vivêssemos no século XV — um acordo selado não com alianças, mas com sangue e silêncios.
Chovia quando o carro parou diante dos portões da Villa Vitale.
A água batia no vidro como se o próprio céu tentasse me alertar: não entre.
Fuja.
Mas eu não tinha mais para onde correr.
Meu pai não teve coragem de me olhar. Apenas desceu do carro e abriu a porta com dedos trêmulos.
— Anda, Aurora. Não me faça passar vergonha.
Vergonha.
Como se entregar a própria filha fosse um gesto de honra.
Saí do carro com os saltos afundando na lama. Usava um vestido preto, simples, como se estivesse de luto. E de certa forma... eu estava.
Luto por mim.
Pela menina que acreditava que o amor do pai bastava para protegê-la de monstros.
O portão se abriu com um rangido metálico. Dois homens armados esperavam. Sérios. Impassíveis. Como se receber uma garota como pagamento fosse rotina.
— Senhorita Mancini — disse um deles, assentindo com a cabeça. — O Capo está à sua espera.
Capo.
Salvatore Vitale.
O novo chefe da família mais temida da costa sul italiana.
Criado no ferro e na violência.
Respeitado por muitos, temido por todos.
Eu só o conhecia de fotos: jovem, olhos de predador, sorriso que mais parecia uma ameaça.
E agora ele seria meu... dono?
Engoli em seco e entrei na casa.
O cheiro era forte. Couro, madeira antiga, vinho caro e pólvora.
Salvatore me esperava no alto da escada, de terno preto, sem gravata. As mangas arregaçadas revelavam braços marcados por tatuagens e cicatrizes — vestígios de um reinado construído com dor.
Ele me olhou por um longo tempo. Depois, desceu lentamente os degraus, como um rei vindo receber um sacrifício.
— Então... você é a promessa quebrada que me mandaram costurar com a alma.
A voz dele era baixa, controlada, cortante.
— Eu sou Aurora — respondi, tentando manter firme o que restava da minha dignidade.
Ele se aproximou tanto que pude sentir sua respiração quente.
Seus olhos escuros queimavam os meus, como se já soubesse tudo que eu escondia — os medos, as mágoas, as feridas.
— Aurora — ele repetiu meu nome, quase num sussurro. — A partir de hoje... você será a minha punição favorita.
E ali, debaixo daqueles olhos gelados e daquela boca c***l, eu entendi:
Naquele mundo, ou você quebra...
Ou aprende a ser tão fria quanto ele.