Maria Clara
O Iago saiu do quarto e eu fiquei parada sem entender nada. Ainda demorei alguns segundos antes de levantar e trocar de roupa. A primeira opção foi um fiasco então puxei outra da mochila. Dessa vez caiu bem, sem me dar trabalho.
Assim que terminei, bati na porta dele. Ele atendeu quase imediatamente, com aquele olhar sério que não tinha como adivinhar o que passava na cabeça dele. Só balançou a cabeça, um gesto curto, e descemos juntos.
O silêncio entre nós era enorme. A cada passo, eu me perguntava o que eu estava fazendo ali. Porque não tinha como entender ele. Na mesma hora em que ele parecia se aproximar de mim e ele já erguia um muro entre nós dois. Criava uma casca grossa e se afastava como se nada tivesse acontecido. Me confundindo.
No carro, ele entrou primeiro, me deixando pra trás. Dei a volta e entrei logo depois. Durante todo o trajeto, ele não disse uma palavra, e nem olhou pra mim.
Quando estacionamos em frente ao restaurante, eu fiquei encantada. O lugar era lindo, mesas de madeira, luzes amareladas refletindo na areia clara da praia. Da varanda dava pra ver os barquinhos ancorados balançando suavemente. Eu não conseguia parar de admirar aquilo. Era lindo demais.
Mas ele parecia estar em outro mundo. O olhar distante, fixo no mar, como se eu nem estivesse ali.
Respirei fundo, criei coragem e falei:
— Olha… eu acho que errei em ter aceitado vir aqui contigo. Tudo bem tu ter me salvado e eu te agradeço de coração. Mas acho que não era pra mim ter vindo pra cá com você…
Ele não desviou os olhos do horizonte. Só soltou, frio.
— Por que aquele PM tava ligando pra tu?
Ele olhou de lado e então eu vi o garçom se aproximando com o vinho na mão.
— O quê? — perguntei, sem acreditar que era isso que ele tinha na cabeça.
— Você e ele já se pegaram?
— Não. — respondi rápido, quase atropelando as palavras, bem na hora que a taça foi servida.
O silêncio dele era pior que qualquer acusação. Ele pegou a taça e bebeu como se fosse água e eu mexi no cabelo, nervosa.
— Então por que ele fica atrás de tu?
— Ele não fica atrás de mim. O Humberto é só um amigo. — completei, tentando manter firmeza na voz. — Ele tem até namorada.
O riso dele veio curto, irônico.
— Então ela é uma otária.
— Não acho legal você falar assim de uma pessoa que nem conhece. — retruquei, mais firme dessa vez.
— Não preciso conhecer pra saber que ela é otária. Como que tu namora alguém que fica no pé de outra, é burrice né, não?
Eu não concordava com nada que ele tava falando, mas ao mesmo tempo eu gostava da intensidade dele.
— E mesmo se fosse verdade… não seria da tua conta. Eu sou solteira. — soltei, e virei a taça num gole só.
Foi a primeira vez que ele me olhou de frente. E naquele olhar não havia raiva, mas algo ainda mais perigoso: posse.
Na saída, uma senhora vendia rosas de plástico na porta.
— Compra uma pra sua namorada. — ela disse encarando o Iago.
Ele me olhou, puxou uma nota alta da carteira e entregou a ela que sorriu agradecendo.
— Pode ficar com o troco. — falou e me estendeu a rosa.
Peguei sem jeito, agradeci baixinho. Ele não respondeu.
De volta ao hotel, ele passou o cartão na porta do quarto dele e antes de eu entrar, ainda falou sério, sem me dar chance de argumentar.
— Amanhã, sete da manhã, a gente vai embora.
Assenti, entrei e fechei a porta.
Passei as mãos no cabelo, me sentindo a maior trouxa do mundo.
As horas rodaram lentas. Fiquei sentada na varanda, olhando o mar imenso. A cada onda que batia, parecia que minha cabeça voltava pra ele. O silêncio no restaurante, o ciume dele, a rosa na saída. Um quebra-cabeça impossível de montar.
Me deitei, virei de um lado, depois pro outro e a mente não desligava. O rosto dele voltava toda hora na minha cabeça.
Quando finalmente peguei no sono, já se passava das duas da manhã. Nem sei quanto tempo dormi. Mas acordei assustada com as batidas na porta. O coração disparou. As pancadas insistiam, cada vez mais fortes, como se ele fosse derrubar a porta.
Caminhei devagar, com os pés frios no chão gelado e a respiração curta,. Encostei a mão na maçaneta e hesitei. Parte de mim queria abrir. Outra tinha medo pois era tarde.
Então girei e abri só uma fresta.
Era o Iago.
Abri a porta e recuei. Ele entrou sem pedir licença, o quarto estava iluminado apenas pelo abajur. A luz suave desenhava os traços do seu rosto, a barba sombreada, o olhar escuro que parecia me atravessar inteira.
Então ele foi avançando enquanto eu ia recuando, até que minhas costas bateram na parede. A mão dele me puxou pela cintura, colando o corpo dele no meu. O cheiro dele me envolveu.
— Iago… — sussurrei, sem fôlego. — Tu tá bêbado?
Ele respirou fundo contra o meu pescoço, com a voz rouca, arranhada:
— Não. Só não consigo parar de pensar no teu cheiro desde aquela hora que tu pediu pra eu subir teu zíper. — aspirou meu colo e deixou um beijo lento no meu ombro. — Na tua pele…
Os dedos dele se enfiaram na minha nuca, puxando meu cabelo. Minha língua molhou meus lábios e eu sentia a renda da minha calcinha molhada.
Os beijos dele foram subindo pelo meu pescoço, cada toque da barba arranhando minha pele me arrepiando inteira.
A mão dele subiu pela minha cintura e deslizou por baixo da camisola até apertar minha b***a, firme, possessivo.
Ele encostou a boca no meu ouvido, a respiração quente me incendiando.
— Se tu me mandar sair, eu saio. — sussurrou, os olhos fixos nos meus. — Mas se tu me deixar ficar… eu vou te f***r do meu jeito.
Eu deveria ter mandado ele sair. Mas como? Se meu corpo já tinha decidido por mim?
Então eu o beijei.
E foi como um choque elétrico que atravessou a minha pele e se espalhou por todo o meu corpo. Nossas bocas se encontraram, urgentes, como se eu tivesse esperado por isso a vida inteira. A língua dele invadiu a minha e eu me entreguei. Minhas mãos subiram pela sua nuca, agarrando os fios e sentindo o gosto da sua boca.
Ele me soltou de repente e recuou um passo, como se quisesse me ver inteira, encostada contra a parede, tentando recuperar o ar.
— Tira a roupa. — ordenou.
O olhar dele não pedia, não deixava espaço.
Ele ordenava.
Meus dedos tremiam quando seguraram a barra da camisola. Quase se embolaram no tecido de tanto nervosismo. Puxei por cima da cabeça e deixei a peça cair no chão,
Fiquei parada, vulnerável, só de calcinha. A pele exposta queimava sob o olhar dele. Iago não disse nada, não mexeu um músculo do rosto. Apenas me encarava. E isso me deixava estremanente molhada.
Suas mãos desceram até o cinto. O clique metálico do fivela se soltando fez minha respiração falhar. O couro deslizou pelo passador da calça até ser puxado de uma vez.
Eu estremeci.
— O que você tá fazendo? — minha voz era um misto de medo e desejo.
Ele não respondeu.
Apenas segurou meu pulso, o ergueu atrás das minhas costas e, com movimentos firmes, envolveu com o cinto, prendendo meus braços ali.
Meu coração parecia que ia parar. Eu podia sentir cada batida no pescoço, na boca, na minha i********e. A proximidade dele, a firmeza dos dedos segurando o couro, o olhar que não piscava, tudo me deixava em transe.
Era como se eu tivesse cruzado uma fronteira invisível. Um lugar onde já não existia volta.