Capítulo 24

1677 Words
Alicia Chegamos em casa e fomos direto pro quarto da minha mãe. Ficou eu e ela até que a tia Agatha chegou e começou a conversar com ela. Ela tava sentada na beira da cama, chorando, os ombros tremendo e a minha tia do lado dela, tentando consolar. Eu fiquei encostada na parede, de braços cruzados, só observando. — Acabou, acabou, Ágatha… eu não quero mais ouvir nada do que o Terror tem pra me falar — minha mãe soluçava, limpando as lágrimas com as costas da mão. — Eu não vou ser igual essas mulheres de bandido que aceitam um bando de chifre. Eu passei coisa demais com ele pra agora aceitar ser traída assim. Não quero! — Quem pagou cadeia com ele foi eu e agora eu ainda vou ter que aturar deboche de p**a? Jamais. Eu só quero o divórcio e seguir a minha vida sem ele. — desabafa. — Não fala assim, Manuela — minha tia tentou acalmar ela, ajeitando o corpo mais perto dela. — Pensa bem, conversa com ele… — Conversar pra quê? — minha mãe rebateu. — Eu já conversei! Ele olhou dentro dos meus olhos e mentiu. Eu não quero ouvir o que ele vai falar, porque eu sei que vai ser outra mentira de novo. Ele nunca vai confessar que me traiu com aquela ridícula. A tia Ágatha suspirou fundo e abaixou a cabeça. — Calma… eu sei disso tudo. Mas, olha só, tu viu alguma coisa? Tu tem provas ou foi só a palavra dela, Manuela… — Não preciso ver nada.. tá tudo estampado na minha cara! — minha mãe gritou, nervosa. — Ela disse que tinha ido lá ver ele! Eles já devem tá juntos a meses e rindo da minha cara. Eu respirei fundo e falei. — Por que a senhora não vai passar um tempo lá na cidade que morava antes de vir pra cá? A senhora não tem parente lá? Dá um tempo por lá, esfria a cabeça… Na hora, a tia Ágatha virou o rosto e me olhou feio. Olhar de reprovação. Eu disfarcei, mas percebi. — É… de repente é uma boa mesmo — ela murmurou, pensativa. — Não, Manu. Você tá doida! — Ágatha cortou rápido, encarando ela. — Tu não vai fugir daqui não. Se for pra separar, separa de cabeça erguida. Tu tem tuas coisas, tua casa, tua vida. Não vai jogar tudo pro alto por causa de macho não. Ele nem merece isso. — É… é verdade — concordei, forçando o tom pra parecer do lado dela. — Ô mãe… — falei descruzando os braços. — Por que a gente não procura uma casa bem bonita fora do morro? Ela levantou os olhos marejados e me encarou. A Ágatha também virou o rosto pra mim e eu dei de ombros calada. — Manu… — Ágatha quebrou o silêncio, com voz calma. — Se você quiser, eu posso ir lá conversar com o Terror. Posso tentar entender, perguntar se é verdade… até ir na menina e tirar satisfação eu posso ir. — Não! — gritei, a voz saindo num tranco que até me assustou. — Não vai falar nada com ele, não! Ele vai mentir, vai negar, já negou uma vez e vai negar de novo. Ele sempre vai negar. Sempre! Minha mãe tremeu os lábios, soluçando. — Eu só quero pensar… — a voz dela saiu arrastada, quase sem ar. — Parece que eu tô vivendo um pesadelo. Parece que o meu mundo desabou na minha cabeça. Eu não acredito que o Terror fez isso comigo. Eu não acredito que ele teve coragem… depois de tudo que a gente passou… depois de tudo! — ela bateu a mão na coxa, chorando. — Ele sabia que eu não ia perdoar. Ele sabia! E mesmo assim me traiu. Olhei pra ela e soltei, tentando aliviar. — Ah mãe… também não é o fim do mundo, né? Ele não é o primeiro e nem vai ser o último homem a trair. A maioria trai mesmo. E vou te falar, de repente a senhora até arruma outra pessoa. Quem sabe? Um homem mais bonito… sei que o papai é bem bonito, mas a senhora pode achar alguém mais rico, mais charmoso… imagina um cara de olhos verdes, empresário, desses que moram na Barra ou em Copacabana. A gente morando lá, imagina mãe… ia ser outra vida. — Cala a boca, menina! — Ágatha explodiu, gritando comigo. — Pelo amor de Deus, tu não tá vendo a dor da tua mãe, não? Desde que eu cheguei aqui tu tá igual um papagaio do capeta, falando merda sem parar, enchendo a cabeça dela! Ela se inclinou na minha direção, os olhos faiscando. — Tua mãe não tá com cabeça pra pensar em homem, Alicia! Ela não quer homem nenhum! Que tipo de filha é você, hein? Ao invés de apoiar a tua mãe, de dar força, de tentar unir ela com teu pai, tu parece que tá gostando dessa desgraça toda! Qual é a tua, hein gatota? Engoli seco, mas ela não parou. — Tu acha o quê? Que se teu pai e tua mãe se separarem tu vai continuar nessa vidinha boa? Tá enganada, bebezinha. Se prepara, porque essa vida acaba rapidinho! Homem só é bom pai quando tá com a mãe. Eu fiquei calada depois da bronca dela e saio do quarto. Ágatha Levei a Manuela pra minha casa porque eu vi que ela não tinha condições de ficar sozinha, muito menos perto da Alicia. Aquela menina não parava de botar minhoca na cabeça da mãe, e eu tinha medo que a Manuela, no estado em que tava, pegasse as coisas e fosse embora mesmo. Então preferi trazer ela pra perto de mim. Aqui, pelo menos, eu consigo vigiar, conversar, tentar acalmar ela. Dei um remédio pra ela e em pouco tempo a Manu apagou. Peguei o celular e disquei o número do Iago. Chamada — Fala, tia… — ele atendeu rápido. — Iago… preciso falar uma coisa séria contigo. Pode vir aqui em casa? Ele demorou um pouco, mas respondeu. — Posso sim. Tô indo. Esperei, e depois de um tempo escutei o ronco da moto dele chegando. Ele entrou, olhou ao redor, e eu logo avisei. — Tua mãe tá dormindo lá no quarto da Mel. Dei um remédio pra ela acalmar. A gente precisa conversar. — O que rolou? — perguntou sério. — Senta aí — apontei pro sofá e então sentamos, frente a frente. Respirei fundo — Iago, a Manuela descobriu uma suposta traição do teu pai. Ele estreitou os olhos, mas não disse nada. Então continuei falando. — Mas eu quero deixar claro que eu não consigo acreditar que isso seja verdade. Pra mim tem alguma coisa estranha nessa história. Continuei falando. — Eu sei que bandido costuma ter um monte de mulher. Eu mesma… cansei de levar gaia do teu padrinho, e acho que até hoje ainda levo. Só que com a Manu é diferente. Teu pai mudou muito por causa dela. O Terror era tipo você assim , pegava geral, não tava nem aí pra nada. Até que ele conheceu a Manu e virou outro homem. Ele nunca traiu ela, Iago. Nunca. Então eu não entendo por que ele faria isso logo agora. O Iago se mexeu no sofá, meio inquieto e continuei. — A Manu conversou com ele, ele negou. Disse que não fez nada. Mas essa garota… essa tal de Natália… fica jogando piadinha, provocando. Hoje mesmo ela falou pra tua mãe que tinha ido lá na boca ver o teu pai. Iago fechou a cara, confuso. — Como assim? — perguntou — Meu pai nem foi na boca hoje. — Tá vendo! Ela tá mentindo entao. — balancei a cabeça. — Quem falou pra minha mãe que essa mina tava lá? — Pelo o que eu entendi, ninguém. Ela foi buscar a Alicia lá em cima. — Que p***a que a Alicia tava fazendo lá em cima? Aquela garota não sobe pra cima nunca...—falou, com a voz carregada de espanto. — Já falei pra ela que se eu trombar ela lá em cima, vai descer com o lombo ardendo. Porque vou meter um p*u sem dó nela. — Eu não sei, Iago. — soltei, olhando nos olhos dele. — Só sei que ela ligou pra tua mãe, dizendo que tava passando m*l e pediu pra ser buscada. Mas… até agora eu não entendi o que ela tava fazendo perto da boca. Ele se levantou do sofá e seus olhos estavam faiscando. — Eu vou atrás dela. — falou — Vou tirar essa história a limpo . — Obrigada por ter vindo. — falei, sincera. — Mais tarde passa aqui pra ver tua mãe, ela vai precisar de você. Ele fez que sim com a cabeça e já foi saindo. — Qualquer coisa, me chama. — disse indo até a moto. Antes dele subir eu o chamei. — Iago… deixa eu te falar mais uma coisa. — ele me encarou ainda com a chave da moto na mão. Ele voltou o olhar pra mim, sério. — Outro dia eu tava passando de moto com o RD e vi a Alicia conversando com essa tal de Natália. — falei, medindo bem as palavras. — Eu achei estranho, porque… eu nunca vi a Alicia de papo com essas meninas do morro. A tua irmã não anda com ninguém daqui. Ela é toda nariz em pé, vive mais na pista do que no morro…não tem nenhuma amizade aqui. Ele franziu o cenho, atento. — E aí, do nada, eu passo e vejo ela trocando ideia com essas meninas. — continuei, cruzando os braços. — Depois, de novo. Mais de uma vez. No mínimo estranho, não acha? Logo em seguida, essa garota começa a provocar a tua mãe, soltar piadinha… Deus me perdoe mas hoje parecia que ela tá comemorando. Ele não disse nada, só cerrou a mandíbula, acenou com a cabeça e subiu na moto. Tomara que a Manu não fique triste comigo!
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