Terror narrando
Terror: Bora, p***a. Quem vai abrir a p***a do bico primeiro?
Arrasto a cadeira que está no canto da sala. Me sento de frente pra eles, cinco moleques, tudo de cabeça baixa, tremendo. Acendo o cigarro e solto a fumaça.
Terror: Beleza, ninguém quer falar? - dou uma tragada longa, encarando cada um com frieza. - Então vamos pra minha parte preferida.
Levanto sem pressa, pego a barra de ferro encostada na parede e sinto o peso dela na mão.
Terror: Vou começar pelo mais calado. - caminho devagar até o menor deles, deve ter o quê? Uns 17 anos no máximo. Seguro o queixo do moleque, forçando ele a olhar pra mim. - Tá com medo, pivete? To te dando uma escolha pô.
Ele tenta responder, mas só sai gagueira. Solto uma risada seca, cheia de desdém.
Desço a barra de ferro com força na perna dele, o estalo do osso quebrado sai junto com o grito que ele solta. O moleque cai no chão, segurando a perna, sem consegui respiração.
Terror: Isso foi só um aviso. Se ninguém aqui abrir o bico, vou ensinar o que é dor de verdade.
Os outros quatro estão pálidos, os olhos arregalados. Dou uma olhada geral neles, minha expressão é de puro desprezo.
Terror: Presta atenção. A partir de agora cada minuto que vocês ficarem calados, vai ser um dedo que vou arrancar no alicate. Então vocês tem 20 minutos pra resolver essa p***a ai. Se decidam entre vocês quem vai falar. Tenho tempo pra c*****o nessa p***a, mas vocês não têm.
RD tá só observando, braços cruzados, sem dizer nada. Ele sabe que eu não paro até tirar a verdade. Giro a barra de ferro na mão, como se fosse nada, enquanto finjo pensar.
Terror: Pergunta simples. Quem deu a p***a da letra? - minha voz sai alta. - Fala agora ou vou começar a brincadeira. E aviso: só vai piorar.
O vapor do meio começa a chorar, o corpo tremendo. Me aproximo devagar, baixo o corpo pra ficar cara a cara com ele.
Terror: Aqui não tem espaço pra drama. Abre logo o jogo.
Ele balbucia algo, quase inaudível. RD dá um passo à frente, atento.
Vapor: Foi... foi o Gringo, patrão... - a voz sai falhada, o suor escorrendo pelo rosto. - Ele me deu uma grana... só pra avisar o primo dele quando o carro saísse com o carregamento. Juro! Só passei o recado, mais nada! Eu não sabia que ia dar essa merda toda!
Terror: Sabia, sim, desgraçado. Só não achou que ia sobrar pra você, né? - minha voz é cortante, giro a barra de ferro na mão. - Quem vem pra me derrubar, cai antes e eu faço questão de enterrar de ponta-cabeça.
Tu achou que ia sair ileso, né? Vai aprender agora o preço da traição.
Dou um soco forte no rosto do moleque, o impacto faz sangue voar da boca dele.
Então foi o filho da p**a do Gringo!
Nessa p***a de vida, confiar é pros fracos. Quem come no prato contigo é o primeiro a querer beber teu sangue, arrancar tua cabeça pra exibir como troféu.
Viro de costas, jogo a barra no chão. Olho pra RD, que já tá no celular.
Terror: Quero o Gringo. Vivo.
Me volto pros outros vapores, encaro cada um como se já tivesse decidido o destino deles. Aponto pro que abriu a boca.
Terror: Tu já era. Vai servir de exemplo pro resto. Aqui, X9 não tem vez. Morre cedo.
Pego o fuzil encostado na parede. Um tiro só, rápido, direto na testa do moleque. O corpo desaba, o sangue se espalha.
RD toma a frente, já organizando os próximos passos. Eu acendo outro cigarro, a mão firme, sem tremor.
Terror: Corta a cabeça e pendura no poste. Quero todo mundo vendo o que acontece com cagueta.
Saio da sala, Já fiz o necessário. O resto é com eles.
Manu narrando
Hoje foi um dia pesado. Dona Odete, uma paciente que eu tinha criado um carinho enorme, faleceu. Ela tinha feito uma cirurgia de apendicite, mas teve uma embolia e não resistiu à parada cardíaca.
O clima na clínica ficou estranho, como se até o ar estivesse mais denso. Ninguém falava muito, todo mundo na sua, tentando processar a perda. Quando deu cinco horas, me despedi das meninas e saí caminhando com a Bia. Ela foi uma das primeiras pessoas que me estendeu a mão quando cheguei aqui, e, desde então, a gente se deu bem.
Bia: Que tristeza o que aconteceu com a dona Odete... ela tava tão bem.
- Ela comentou enquanto ajeitava a bolsa no ombro, o olhar meio perdido.
Manu: Parece que quando tem que acontecer, não tem jeito.
- Respondi num tom baixo.
Bia: Deve ser mesmo...
O silêncio se instalou entre nós por uns instantes, só o som dos nossos passos. Eu, querendo aliviar o clima, puxei assunto.
Manu: Nem acredito que amanhã não trabalho.
Bia: Minha filha, se eu te contar onde eu vou amanhã, você vai ficar passada.
- Ela soltou animada, com aquele brilho no olhar que só a Bia tem.
Manu: Agora fiquei curiosa. Onde?
Bia: Baile funk, mulher! E no alto do morro.
- Ela falou toda empolgada, e eu não consegui segurar o riso.
Bia tem uns quarenta anos, uma preta linda, com curvas que ela mesma diz que "o bisturi ajudou a moldar". É daquelas pessoas que iluminam o lugar com a energia lá em cima. As meninas contam que ela era mais na dela até o marido falecer. Depois disso, ela decidiu viver intensamente - ou, como ela gosta de dizer, "a mãe tá viva!".
Manu: Sério? Queria ser uma mosca pra te ver dançando até o chão, Bia.
- Comentei, rindo enquanto ela passava a mão pelo corpo, ensaiando uma dancinha cheia de estilo.
Bia: Segunda-feira te conto tudo sobre a minha aventura. Vou com o Aguinaldo.
- Disse com um sorriso bobo.
Manu: Nada disso! Me conta pelo w******p. Quero saber de tudo, principalmente como foi com o Aguinaldo.
Bia: Primeira vez que a gente vai sair pra algum lugar e se encontrar pessoalmente. Se der tudo certo... espero tirar essas teias de aranha!
Ri alto. O jeito que ela fala é tão único que não tem como não achar graça. Ficamos batendo papo enquanto esperávamos os ônibus. O meu, como sempre, tava atrasado.
Manu: Já vi que hoje vou ficar sozinha nesse ponto. O ônibus sumiu.
- Falei olhando pro celular. Já eram 18h30, e nada dele aparecer.
Bia: Vai nada. Olha o encosto chegando ai.
- Ela apontou com o queixo, me fazendo virar automaticamente.
De longe, vi o Felipe vindo na nossa direção. Ele tava com aquele jeito casual de sempre, camiseta vermelha e mochila no ombro, mas o olhar parecia estar à procura de algo.
Bia: Não gosto desse garoto.
- Disse baixinho, mas com firmeza.
Manu: É implicância sua. Ele é gente boa.
- Respondi sem dar muita atenção, já abrindo um sorriso ao vê-lo mais perto.
Bia: Conheço gente que não presta de longe.
Ignorei. Nunca fui de ligar muito pra opinião dos outros antes de a pessoa me dar motivos. Sei que a birra dela com o Felipe vem de uma vez que ela viu ele mexendo no meu celular e achou que ele era "controlador demais". Não n**o que ele tem esse lado meio protetor exagerado, mas já conversamos sobre isso. Antes era até pior; ele me buscava no trabalho todo dia e ficava plantado na porta da clínica. Depois que expliquei que aquilo tava me sufocando, ele parou.
As coisas tão melhores entre a gente... Pelo menos, eu acho.