Capítulo 27

1049 Words
Manu narrando: Cada segundo que passa parece que meu estômago dá um nó novo. Olho pela janela, já perdi a conta de quantas vezes fiz isso, mas só ouço o eco dos tiros lá embaixo, no morro. Me viro e dou de cara com a Any, me encarando do sofá, daquele jeito dela, tipo quem tá tentando entender até meus pensamentos mais escondidos. Manu: Esses tiros não vão parar, não? Any: Estranho mesmo... já era pra ter dado uma trégua. Manu: Será que tá tudo bem? — pergunto, tentando disfarçar a preocupação que estou sentindo com o Terror. Any: Preocupada com ele, né? — ela solta, levantando uma sobrancelha, rindo Manu: Tô preocupada com todo mundo, não só com ele — dou de ombros, tentando disfarçar, mas meu olhar escapa e se perde pela janela. — Mas vai mentir que cê não tá igual? Me jogo no sofá, tentando afastar a sensação de que algo muito errado pode acontecer. A gente mora na parte mais alta, então o barulho não é tão perto, mas mesmo assim é suficiente pra me deixar apreensiva. Saber que tá rolando lá embaixo, que tem gente levando tiro, que o Terror pode estar machucado… isso me dá uma angústia. Manu: O que você tanto vê nesse celular? — pergunto, querendo me distrair, mas curiosa também. Any: Tô dando uma olhada nos perfis de fofoca das comunidade.g Vai que aparece alguma notícia do RD. Com certeza o que seja lá que ele tenha feito já está rodando nos grupos, e se o RD tá no meio disso, eles vão soltar alguma coisa… — ela dá de ombros, mas vejo o quanto tá agoniada também. O barulho da TV corta o silêncio e meu coração acelera. A reportagem começa e tá lá o motivo de toda a operação: 500 mil reais roubados. Sinto um frio na barriga e me sento de repente, sem acreditar no que tô ouvindo. Olho pra Any e ela tá igual, boca aberta, quase sem ar, encarando a TV com os olhos cheios d’água. Any: Cin... quen... ta mil reais! — ela gagueja, como se precisasse repetir pra ver se acredita no que o RD fez dessa vez. Manu: Caramba! eles são doidos E a matéria continua dizendo que em um dos carros utilizados no assalto foi encontrado com vestígios de sangue. O que leva a crer que um dos criminosos foi ferido gravemente pela quantidade de sangue encontrado. A repórter continua dizendo que a polícia tá fechando o cerco em cima dos criminosos, achando que o tal bandido ferido não deve ter conseguido ir muito longe. No final da reportagem, ela ainda afirma que os suspeitos fazem parte do morro liderado pelo traficante conhecido como Terror, e nesse momento a imagem dele aparece na tela. Any: A pessoa ferida é o RD, é ele. c*****o! Eu avisei esse filho da p**a. Pedi pra ele não ir! — ela se levanta, os braços na cabeça, chorando, desesperada. Manu: Calma! Às vezes não é. Viu a repórter? Ela disse “criminosos”, no plural. Pode ter sido qualquer outra pessoa. Any: Eu sei que é ele Manuela, eu sonhei a noite inteira com ele. — ela me olha, os olhos cheios d'água. — Eu pensei: "Não, Tatiany, tu bebeu demais e tá viajando." Mas era isso — ela gesticula em direção à televisão, aflita. Manu: — Tá, mas agora vamo pensar com calma. Aqui ele não tá, porque se não a gente ia saber, né? Afinal, se ele tá ferido, ia precisar de cuidados, e quem aqui são as enfermeiras? — falo, tentando manter a calma, mas a voz não engana o nervoso que tá tomando conta. Any se senta no sofá, os joelhos juntos, mãos apertadas, como se cada palavra minha fosse um fio de esperança a que ela se agarra. Olho pra ela, com o coração meio apertado, mas tentando manter o raciocínio. — Perguntei ontem pro Terror sobre o RD, sabe? Any: E ele falou o quê? Manu: Disse que logo ele ia aparecer... algo assim, meio vago — respondo, sentindo uma pontada de frustração. Ela joga o corpo pro encosto do sofá, soltando uma risada amarga, sem nem conseguir disfarçar a raiva. Any: Ele é o filho de uma p**a, isso sim. Por que não mandou um "Não" bem grandão pro Rodrigo? Manu: O que você vai fazer agora? — pergunto, tentando acompanhar o ritmo da respiração que acelerou. Any: Vou atrás dele, e ele vai me dizer onde o RD tá — ela responde com firmeza, já se levantando e indo pro quarto, mexendo nas roupas, pegando algo pra vestir. Manu: Ei, calma! — entro na sua frente, tentando fazer ela parar — Não dá pra sair agora, Any. Olha o caos que tá lá fora. Any: Enquanto eu tô aqui, meu irmão pode tá morrendo, Manu! Não vou ficar sentada na porcaria desse sofá, esperando isso acontecer — ela fala, a voz carregada de raiva e desespero, e as palavras dela me acertam em cheio. Olho pra ela, o coração apertado, sabendo que, se fosse comigo, eu estaria fazendo a mesma coisa. Não tem como segurar. RD e Tatiany me acolheram como se eu fosse da família, me deram proteção, me deram abrigo. Se não fosse por eles, talvez eu já não estivesse viva. Any desvia de mim, e continua escolhendo roupa, ignorando o som dos tiros. Fico parada, encostada na porta, vendo ela se arrumar, sem coragem de dizer mais nada. Manu: Tá se você vai eu vou também.— digo me afastando da porta — Espera aí vou me arrumar. Any: Tá maluca? Isso não é pra tu, Manu! Manu: Se você tá indo, eu tô junto. Não vou deixar você se enfiar nisso sozinha, ainda mais nesse estado — falo, já indo em direção ao quarto, pegando uma calça e uma blusa qualquer, sem nem pensar muito. Any: Eu vou fazer o que for preciso pelo meu irmão. E você... — ela me olha séria, meio que tentando me fazer desistir com o olhar, mas eu não vou dar pra trás. Manu: Nem adianta tentar me parar, Any. A gente vai juntas, entende? Não te deixo sozinha nessa por nada. Ela suspira fundo, ainda contrariada. . .................................. Não esqueçam de votar e comentar!
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