Capítulo 16

1119 Words
Manu: Não dormi com ninguém, tá doida? Any: Então quem foi? — ela me olha desconfiada, rindo. Manu: Não foi ninguém — desvio o olhar, voltando a focando na água do café. Any: Não, perai... — ela solta, quase gritando e batendo na mesa. — Tu pegou o Terror? Que horas foi que eu não vi, garota? Manu: Fala baixo! lá de fora vão escutar seu escândalo. Any: Pegou ou não? Manu: Peguei, mas pelo amor de Deus, não foi do jeito que você tá pensando. Any: Tô pensando nada, tô é vendo! — aponta pro meu pescoço e dá risada, irônica — E por que não me contou? Tô é p**a com você! — me joga um pedaço de pão, rindo enquanto passa manteiga na outra metade de pão. Manu: Amiga, ontem foi aquele tumulto todo. Não tinha clima pra contar o que rolou... e eu tava, quer dizer, ainda tô, morrendo de vergonha. Any: Vergonha de quê, garota? E dava pra tu ter me falado sim. A gente ficou maior tempão conversando depois que o Rodrigo saiu. Manu: O que tu quer saber? Any: Como foi? Gostou do beijo? Conta tudo, caramba. Manu: Amiga, eu me ataquei com ele em cima da mesa... — confesso, e ela começa a rir de novo. Any: Caraca, dava tudo pra ver essa cena, mano. Ele é uma delícia, amiga. Manu: Fiquei morrendo de medo de vocês entrarem na cozinha. Any: Nada! O Rodrigo inventou de levar a dona Marta pro quarto. Ah, agora entendi a insistência dele em tirar a gente da sala! Filho da mãe! — diz rindo, e eu n**o com a cabeça, rindo também. Manu: Tô devendo uma pro RD — falo, tampando o rosto com as mãos. Any: Mas ó, conselho de amiga: vai na boa, sabendo que ele não presta. Te falei desde o primeiro dia aqui em casa... ele não valoriza ninguém, pega várias ao mesmo tempo, é super ogro e abusivo. Manu: Foi só um beijo, e nem vai rolar mais. Any: Anham, tá! Quero só ver. Mas lembra do conselho que tô te dando: não se ilude e não se apaixona. — Ela retruca, piscando de um jeito que deixa claro o quanto se diverte com a situação. Manu: Pode acreditar que não vou me esquecer disso, tá? Eu até achei que tu fosse me esculachar por ficar com ele, já que ele tem essa vida doida — digo, me sentando com a garrafa de café na mão. — Nunca imaginei que ia ficar com bandido, amiga... minha mãe deve tá se revirando no túmulo. Any: Com certeza ela está mesmo — assenti — Eu te julgar ia ser a maior hipocrisia, Manu. Até porque, meu irmão também é um esqueceu. Manu: É, mas sei lá... tu me trouxe pra tua casa. Any: Nada haver. Tá viajando! Só não se envolve nas paradas dele. Não deixa nem sobrar pra tu. Se não, amanhã tá tu lá, indiciada por associação ao tráfico. Manu: Deus me livre - faço o sinal de proteção Any: Mas como tu não vai mais ficar com ele, isso nem corre o risco de acontecer, né? — Ela pisca, rindo, e a gente cai na risada. Manu: Não corre nenhum risco! — pisco de volta, enquanto arrumo meu café. Acabamos de tomar café ainda no clima de zoação e alguém grita na porta. Any: — Deixa que eu arrumo tudo aqui. Tu já fez o café — diz, pegando a xícara da minha mão, mesmo eu insistindo em levar. Manu: — Tá bom, só vou aceitar porque realmente tô atrasada — digo, conferindo o relógio, já marcando 07:50. Tenho que estar lá às 8. Any: — Vou atender a porta e cê vai lá se arrumar. Manu: — Ok. Saio da cozinha e vou direto pro meu quarto. Começo a juntar minhas coisas na bolsa, escovo os dentes e calço um tênis branco rápido. Enquanto termino de me arrumar, escuto a voz da Any me chamando, já na porta. Pego minhas coisas e saio do quarto pronta pra encarar o dia. Any: Amiga, ele veio trazer um recado do Terror — diz, apontando pro rapaz parado na porta com o fuzil. Manu: Pode falar — respondo, sem saber o que esperar. Xxx: Patrão mandou avisar que cê tá dispensada de ir no corre hoje — solta, sem rodeios. Any: Pera aí, ele mandou falar isso assim, do nada? Como assim ela não vai precisar ir lá? Xxx: Isso aí, mina. Só tô repassando. Any: Por que ele decidiu isso? — ela pergunta Xxx: O que o patrão faz é por conta dele, eu só vim dar a visão — e, sem mais explicações, ele se afasta, enquanto a gente fica ali, encarando uma à outra, tentando entender o que, de fato, passou pela cabeça do Terror pra me dispensar dessa. Any: Menina, o que foi isso? O Terror pirou só pode! Manu: E eu lá entendo, amiga? Já tava pronta pra ir, ele me manda essa... Agora fico aqui de mãos abanando, sem saber o que fazer. — balanço a cabeça, meio perdida. Any: Quer saber? Vamos aproveitar o dia, entregar alguns currículos e quem sabe a gente consegue alguma coisa pra você. Não fica triste com isso não. Manu: Sim, vamos. Mas será que foi o que aconteceu que fez ele mudar de ideia? Deve tá achando que sou essas meninas que ficam se jogando pra ele. Any: Acostuma! Terror nunca vai ser fácil de entender. Vamos ficar aqui até amanhã tentando descobrir o que deu na cabeça dele. Manu: Acho que na real ele só quis se livrar de mim... Any: Não sei mais se eu fosse você não daria mais ideia pra esse babaca. Assinto, meio contrariada, mas aceitando. Terror tem todo o direito de escolher quem cuida da mãe dele, mas ainda assim me incomoda ele misturar as coisas. Que tem a ver o que rolou entre a gente com o meu trabalho? Eu sou profissional, faço meu serviço bem feito, e isso não tem nada a ver com o que aconteceu ontem. Penso bem, e, sinceramente, que sorte que a gente só ficou nos beijos, porque se eu tivesse sido burra o suficiente pra ir além, aí sim eu ia estar me remoendo agora. Arrependida e desempregada, era o que eu ia estar. Adorei a dona Marta, é uma pena isso tudo, mas vida que segue, né? Agora o foco é procurar um trabalho. Minhas economias não vão durar muito tempo, e nem passa pela minha cabeça ficar dependendo da Any. Se não for na minha área, tudo bem, trabalho no que aparecer. Só sei que não posso ficar parada, preciso ter meu dinheiro.
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