Capítulo 6

1536 Words
Manu narrando: Termino de subir as escadas e me deparo com um longo corredor. Entro na segunda porta à esquerda e me deparo com uma senhora que aparenta ter por volta de 55 anos. Fecho a porta devagarinho, tentando ser cuidadosa para não a acordar, mas é em vão, assim que me viro vejo os olhos dela se abrirem, revelando um olhar atento e curioso. Ela me observa enquanto leva a mão delicadamente até o rosto, na tentativa de arrumar o cabelo que parece um pouco desajeitado. Um sorriso brota espontaneamente no meu rosto, um gesto sincero que espero transmitir conforto e acolhimento. Pego um puff que está encostado em uma parede e puxo para perto dela, me acomodando à sua frente, numa tentativa de aproximação mas sem parecer invasiva. A decoração do quarto reflete a beleza que vi lá embaixo. Tudo é bem bonito e cuidadosamente arrumado, com um toque de carinho nos detalhes. O espaço é grande, as janelas enormes de vidro oferecem uma vista linda da área da piscina, onde a claridade da lua parece dançar sobre a água. Dona Sonia está deitada em uma cama grande, coberta por um fino lençol branco. Manu: Oi, Dona Sonia. Como a senhora está? – Minha voz é suave, como um abraço caloroso, e sinto meu coração se abrir enquanto a observo, querendo que ela se sinta segura e tranquila. Manu: Meu nome é Manuela. Meus amigos me chamam de Manu, e como já considero a senhora uma nova amiga, pode me chamar de Manu. – Digo sorrindo, sentindo a leveza da apresentação. O sorriso é um convite, uma ponte que serve para construir laços entre as pessoas, li isso em um livro e super acredito. Quero que ela sinta que estou aqui de coração aberto. Foi assim que minha mãe tratava seus pacientes e assim ela me ensinou. Manu: É um prazer te conhecer e estou aqui pra te fazer companhia e, quem sabe, trazer um pouco de alegria aos seus dias. Enquanto falo, observo seu semblante, buscando sinais de conforto. Manu: Olha, eu sei que a gente ainda não se conhece bem, mas quero que a senhora fique em paz. Além de ter estudado muitos anos, tive a melhor professora, que me ensinou a tratar cada paciente com muito amor e respeito. Quero que a senhora confie em mim e no meu trabalho, tá bem? – Enquanto falo, o calor da lembrança da minha mãe envolve meu coração. Com delicadeza, tiro o cordão com um pingente de coração que carrego sempre comigo, a foto dela sorrindo é um pequeno tesouro que guardo perto de mim. Aproximo o pingente de Dona Sonia. Manu: Essa é a minha estrelinha, dona Sonia. – Um sorriso involuntário se forma nos meus lábios, como se a presença dela iluminasse o ambiente. – Ela era linda, assim como a senhora. Ela era enfermeira e a melhores de todas, vou cuidar da senhora com o mesmo cuidado que eu teria com ela. Ela não diz nada mais o seu balançar de cabeça já me deixa feliz. Entro no quarto devagar, tentando não acordar Dona Sonia, mas assim que fecho a porta, seus olhos se abrem, me observando com atenção. Ela parece confusa, mas ao mesmo tempo, tranquila. Ao me aproximar, percebo o esforço dela em ajeitar o cabelo desajeitado, um gesto simples que traz um ar de dignidade. O ambiente ao redor é impecável, com uma decoração sofisticada, grandes janelas de vidro e uma cama espaçosa, coberta com um lençol branco que contrasta com a fragilidade dela. Sorrio, tentando suavizar a situação. Puxo um puff que estava no canto do quarto e me acomodo à frente dela. Manu: Olha, eu sei que a gente ainda não se conhece bem, mas quero que a senhora fique tranquila. Eu nunca faria nada que a machucasse... – Minha voz sai baixa e reconfortante, tentando transmitir toda a segurança que posso. Enquanto falo, os olhos dela não desgrudam de mim, mas seu silêncio me dá a sensação de que ela está me ouvindo, mesmo sem dizer nada. Ao mencionar minha mãe, vejo uma leve mudança no semblante dela, um pequeno brilho de reconhecimento ou talvez empatia. Pego o cordão com a foto da minha mãe e mostro para Dona Sonia. Ela olha para a foto de uma forma carinhosa que enche meu coração de alegria. Ficamos assim por um tempo. Eu falo, ela ouve. Conto algumas histórias bobas, falo sobre a minha vida, sobre os perrengues que já enfrentei quando trabalhei em um hospital, e percebo que, de vez em quando, um sorriso tímido aparece nos lábios dela. Ela não responde, mas o simples fato de sorrir já me deixa mais à vontade. Continuo falando, e aos poucos, vejo que os olhos dela começam a pesar, até que, finalmente, adormece. Levanto com cuidado para não acordá-la, ajustando o lençol ao redor dela. Aproveito o silêncio do quarto para procurar o caderno com as informações sobre os medicamentos. Encontro-o dentro de uma gaveta, mas o estado das páginas está longe de ser o ideal. Há muitas folhas rabiscadas, anotações confusas, o que torna difícil entender os horários exatos dos remédios. Depois de um tempo folheando, encontro uma receita antiga, de uns cinco meses atrás. Decido me basear nela. Com a experiência que tenho, organizo os remédios, já conhecendo os horários básicos que a maioria dos pacientes em estado acamado costuma seguir. Como cheguei aqui por volta das quatro da manhã, sei que Dona Sônia ainda não tomou os medicamentos. Pego uma folha em branco e começo a anotar os horários e os remédios que vou administrar. O dia vai clareando, e por volta das dez horas da manhã, ela acorda. Seus olhos piscam devagar, ajustando-se à luz suave que entra pelas grandes janelas. Manu: Bom dia, dona Sonia. – Minha voz é baixa e suave, tentando não assustá-la. Ela me observa com aquele olhar curioso e ao mesmo tempo calmo. Pego os comprimidos e ajudo-a a tomar, com todo o cuidado. Em seguida, a levo para o banheiro, com movimentos lentos para não causar desconforto. Quando começo a despir sua blusa, noto os hematomas espalhados pela sua barriga. Minha mão hesita por um segundo ao ver a pele marcada, e sinto um aperto no peito. Vou ter que falar com o Terror sobre isso. Depois de ajudá-la a tomar banho, seco seu corpo com delicadeza, tentando ser o mais atenciosa possível. Escolho uma roupa confortável, um vestido leve, e penteio seus cabelos curtos, que, a pesar dos poucos fios brancos, são macios ao toque. Aproveito para passar óleo corporal nos braços e pernas dela, prevenindo feridas e ajudando a circulação. Com ela mais disposta, ajudo-a a se sentar em uma poltrona perto da janela, onde ela pode ver a vista da piscina e sentir a brisa suave que entra pela fresta da janela aberta. Ligo a televisão, colocando em um canal de programas leves, algo que a mantenha distraída enquanto lhe dou seu almoço. À medida que o dia vai passando, fico atenta aos sinais dela, aos seus movimentos suaves, tentando entender suas necessidades. O tempo passa rápido (...) Dona Sonia adormece novamente após o almoço. Ela pediu para se deitar e, assim, caiu no sono. Sinto uma pontinha de preocupação. Aparentemente, ela dorme bastante, mas imagino que isso se deva aos medicamentos que está tomando. Preciso entender melhor essa situação com o Terror. Por que ela toma tantos sedativos? E na receita tem um anticonvulsivo que não achei na caixinha de medicamentos. Ela deveria estar fazendo terapia ocupacional e fonoaudiológica, essenciais para ajudar na recuperação das funções motoras e de fala. A reabilitação é fundamental, e ela provavelmente precisará de exercícios de movimento para melhorar a força e a coordenação dela. Pego meu celular em cima da cômoda, notando umas três ligações da Any. A culpa me atinge de leve ela deve estar preocupada. Retorno a ligação, e antes mesmo de completar o primeiro toque, ela atende. Ligação On Manu: Amiga... Any: Eu vou te matar, Manuela, c*****o! — A voz dela explode do outro lado da linha, me fazendo afastar o celular um pouco da orelha. Manu: Calma, deixa eu te explicar... — falo baixo, tentando não acordar Dona Sonia. Me levanto devagar e saio do quarto, fechando a porta com cuidado para conseguir falar melhor. Any: Hãm... vai falando? p***a, Manu, eu te pedi pra me dar notícias. Manu: Eu estou bem, estava conversando com a Dona Sonia, depois comecei a organizar algumas coisas aqui que estavam uma bagunça e me perdi no horário. Me desculpa! Any: Ta tranquilo , relaxa! — o tom dela suaviza, finalmente. Manu: Nem imagino a hora que vou sair daqui. — falo enquanto passo a mão no cabelo, jogando-o para trás, tentando aliviar o cansaço que sinto. Any: Estou aqui na porta, o RD me pediu pra poder vir e liberar você. Manu: Você acabou de sair do trabalho Any, deve estar mais cansada que eu. Any: Que nada! eu tô acostumada nessa correria. Fica em paz, beijos.Tô chegando Manu: Tchau, beijos. Ligação Off Encerramos a ligação, mas antes disso, ainda ouço a voz de Any falando com alguém, provavelmente um dos caras que ficam na entrada.
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