Capítulo 31

1123 Words
Terror narrando Sair do morro assim, irmão, é f**a. Eu queria mesmo era ficar nessa merda até o último suspiro, mas é aquilo: tem hora que a gente precisa dar uma recuada pra dar um bote certeiro depois. No fundo, sei que Renan e os moleques têm razão. Esses otários vão rodar, buscar, mexer cada canto, e não vão achar nada. Mas, internamente, tô fervendo, parecendo dinamite prestes a explodir. Tô no carro, o clima meio pesado. Minha coroa tá aqui do meu lado, silenciosa, mas dá pra ver que tá cansada. A enfermeira tá ali cuidando dela, e os seguranças, Cardoso e 2D, fazem a contenção na moral. Eles sabem que a ordem é clara: qualquer vacilo, metem bala sem dó. A viagem até o aeroporto parece uma eternidade. Cada quilômetro que a gente deixa pra trás me dá um nó no estômago, um sentimento de abandono. O morro é minha vida, c*****o, e tô aqui deixando ele pra trás, com aquele mundaréu de problema estourando. Mas, fazer o quê? Por mais que o sangue ferva, a mente sabe que dar um tempo é a jogada certa. Chegando no aeroporto, olho ao redor com a mente já no alerta. Não confio em ninguém, nem nesses pilotos engravatados. Cardoso e 2D tão atentos, fazendo a ronda enquanto a enfermeira guia minha coroa pro helicóptero. Tô no modo automático, focado em garantir que tudo ocorra na moral. Subimos no helicóptero, e o barulho das hélices começa a zunir. O som é ensurdecedor, mas eu gosto. Dá uma paz saber que tão zumbido alto significa que a gente tá subindo, afastando dos problemas, mas ao mesmo tempo já planejando como a gente vai voltar. Olho pela janela, vendo o Rio de Janeiro sumindo aos poucos lá embaixo, as favelas virando pontinhos, enquanto o céu aberto de Goiás começa a aparecer no horizonte. Parece outro mundo. Lá embaixo, vejo a cidade se afastando, e cada prédio, cada rua vai ficando pra trás. Penso no que me espera na fazenda, nesse descanso forçado, e uma parte de mim só quer chegar logo e botar tudo em ordem pra voltar com ainda mais força. Quando a gente desce do helicóptero, a poeira levanta e se mistura com aquele cheiro de mato que só roça tem. A chegada é daquele jeito que eu gosto, tudo no capricho. Cleberson e Dalva já tão na nossa espera, firmes ali perto da entrada. Ele com aquele chapéu de palha e uma camisa xadrez surrada, mas o sorriso no rosto, respeitoso e orgulhoso, como quem conhece o patrão e sabe que tudo ali é no detalhe. A Dalva do lado, ajeitada, com aquele jeito de quem sabe acolher. Do lado deles, uma garota que não conheço. Tá me olhando de canto, com uma curiosidade disfarçada. A menina deve ter uns vinte e poucos, olhos vivos, meio desconfiados, mas o tipo de olhar que diz muito. Cleberson: E aí, patrão! Bem-vindo de volta! — ele abre o sorrisão e estende a mão. Faço o toque firme, aceno com a cabeça. Terror: Firmeza, Cleberson. Lugar tá do jeito que eu gosto, hein? Valeu por segurar as pontas. Ele abre um sorriso orgulhoso, para ele manter o lugar no jeito é uma missão. Cleberson: A casa é sua, né? Fazemos o que precisa. Essa aqui é a Aline, minha neta — diz, apontando pra garota. Ela dá um sorrisinho tímido, mas os olhos não tiram o foco de mim. Terror: Beleza, Aline? — dou um aceno, analisando ela de canto. Ela só responde com um “oi” baixinho e desvia o olhar pro chão. Minha coroa tá sendo ajudada pela enfermeira, e a Dalva já vai em cima delas, com aquele jeito de dona de casa que toma conta de tudo. Dalva: Senhora Sônia, vamos pra dentro que tá tudo arrumadinho pro seu conforto. Preparei um chá que vai ajudar a descansar dessa viagem. A coroa sorri, agradece, enquanto é conduzida pra dentro. Eu fico pra trás, trocando ideia com Cleberson sobre os detalhes da fazenda, as cabeças de gado, os peões que ainda tão por aqui, e os próximos dias. Dou uma olhada de canto na Aline, que se mantém em silêncio, mas parece prestar atenção em tudo que falo. Eu entro e já sinto aquele cheiro de fazenda, madeira rústica, a estrutura antiga, mas tudo bem cuidado. A casa é grande, espaçosa, com as janelas abertas dando vista pra imensidão verde. O sol bate na piscina de borda infinita, e a água reflete um brilho que quase cega. É paz demais pra quem veio do caos do morro. Na sala, a mesa tá montada. Dalva caprichou no rolê, tem quitutes, café fresco, e o cheiro de bolo de fubá parece que tomou conta do lugar todo. Ela coloca as coisas com aquela atenção de quem sabe que o patrão gosta de coisa feita com cuidado, e eu respeito essa consideração. Aline, a neta dela, fica ali por perto, mexendo de leve nas pontas do cabelo, como se tentasse disfarçar a curiosidade, mas percebo que tá me estudando. Tem aquele jeito meio acuado, mas um olhar atento. Passo por ela e dou uma olhada mais direta, e ela abaixa os olhos, um leve sorriso de canto, talvez tímido, talvez jogando charme. Terror: Dalva, cê sempre arrasa na recepção, hein? — digo, pegando um pedaço do bolo. — Coisa fina. Ela sorri satisfeita, enxuga as mãos no avental. Dalva: Pra quem vive pra cima e pra baixo, senhor, merece chegar e encontrar coisa boa. A casa é sua. Me sirvo do café, o sabor forte e amargo que dá uma acordada, e Cleberson se aproxima pra falar da rotina daqui, enquanto a coroa é levada pro quarto pra descansar. Cleberson: Qualquer coisa, qualquer necessidade, cês sabem, é só dar um grito. Estamos sempre na área, patrão. — ele diz, com aquele jeito respeitoso. Balanço a cabeça, afirmando, e fico de olho na Aline, que continua ali, de canto, meio quieta, mas não me passa despercebida. A Dalva, com aquele jeito cuidadoso, já vai puxando a neta pra dar espaço. Dalva: Vamos, menina, deixa o patrão tomar o café à vontade — ela diz, segurando o ombro da garota. Mas eu levanto a mão, dando um meio sorriso, pra deixar claro que tá tudo tranquilo. Terror: Deixa a menina, Dalva, não tá me incomodando, não — falo, levando a xícara à boca, dando mais um gole e, ao mesmo tempo, sem tirar os olhos dela. Aline me olha, meio sem jeito, e sai quase correndo pra cozinha, o rosto meio corado. Dou uma risada baixa, achando graça na situação, e Dalva apenas revira os olhos com aquele ar de “desculpa a menina, patrão”.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD