Capítulo 32

1163 Words
Terror: Tranquilo, Dalva. — dou uma piscada, ainda rindo. — Sabe que gosto de ver o povo à vontade. Dalva: Aline. Tá passando uns dias aqui com a gente — explica, meio sem jeito, como quem tá se desculpando pela presença da menina. Eu dou uma assentida de leve, olhando pra cozinha, onde ela acabou de sumir. Terror: Sei como é, Dalva. A casa é grande, boa pra ter companhia. — Sorrio de canto, voltando o olhar pra mesa. — Ela parece esperta. Dalva dá uma risadinha, meio orgulhosa. Dalva: É, patrão, a menina é estudiosa, vem pra cá quando tá de férias. A cidade cansa ela, quer saber de paz, de mato, igual os avós, né? Sorrio de leve, pensando que é bom mesmo essa tranquilidade, mas lá no fundo sinto que descanso de verdade é coisa que não faz parte do meu vocabulário. Subo pro quarto, tomo um banho rápido e, saindo, escolho uma bermuda da Lacoste, chinelo de dedo e um cordão fino de ouro. Coloco o boné, pego o celular na mesinha e desço de volta, já com a mente na missão e a ideia de relaxar. Desço as escadas com o celular em mãos, ainda ajeitando o boné. Quando chego na varanda, sinto o ar fresco da fazenda, aquele cheiro de mato misturado com o aroma do café que ainda paira no ar. Meu olhar logo encontra Aline na piscina. Ela sobe, a água escorrendo pelo corpo, passa a mão nos cabelos, e aquele sorriso maroto se forma no canto da boca. Pego o celular tocando e vejo o nome do Renan na tela. Atendo, mantendo os olhos em Aline, que percebe que tô de olho e não disfarça. Ela me observa enquanto falo com Renan, mantendo aquele ar provocante. Terror: E aí, Renan, fala o que tá pegando — solto, com o tom direto, mas os olhos ainda acompanhando os movimentos dela na piscina. Renan: Patrão, os caras tão insistindo, não deram trégua desde ontem. Os bota tão com tudo, mas a rapaziada tá segurando firme — ele começa. Terror: Era o que eu imaginava. Se eles tão achando que vão tirar o morro de mim, tão na ilusão. Continua no esquema, não baixa a guarda e me avisa de qualquer mudança — respondo, o olhar fixo na água escorrendo pelo rosto dela, os dedos mexendo no cabelo, me deixando claro que ela sabe bem o efeito que tá causando. Renan confirma do outro lado da linha, e desligo, enfiando o celular no bolso. Me aproximo da piscina, e ela me olha com aquele sorriso que não esconde nada. Aline: Vida agitada, hein? Até aqui você tá na ativa? — Aline comenta, dando uma risada curta. Dou de ombros, mantendo o olhar firme nela, como quem diz que não é nada demais. Terror: Faz parte da vida, né? Mas me diz... tá gostando daqui? — solto, entrando na brincadeira dela, mas ainda com a mente no que Renan falou. Aline: Sim, mas confesso que dessa vez tá mais interessante. — Ela fala, boiando na piscina, o rosto com um sorrisinho de quem sabe muito bem o efeito que tá causando. Dou uma risada de canto, jogando o celular na espreguiçadeira e me encostando no canto da piscina, observando enquanto ela se ajeita. Essa mina sabe provocar. Tiro um cigarro de maconha do bolso, acendo e começo a puxar, soltando a fumaça devagar enquanto observo a cena. Aline continua boiando na piscina, aquele sorriso no rosto, como se estivesse se divertindo só de me deixar ali, olhando. Ela me lança um olhar provocante, e eu dou mais uma tragada, sem desviar. Sinto a paz desse lugar, o silêncio que só é cortado pelo som da água e do vento. Mas mesmo com todo o sossego ao redor, a presença dela não me deixa relaxar de verdade. Terror: Tá se achando, né? — comento, com um riso de lado, soltando a fumaça e encarando ela, o cigarro ainda entre os dedos. Aline: Talvez... — ela responde, dando uma risada baixa, passando a mão pelo cabelo molhado. — Mas sei que cê tá gostando. Ela se aproxima da borda da piscina, bem de leve, e eu fico ali, firme, observando cada movimento dela. Fico um tempo ali, de boa, mas minha mente não para. Dou uma última tragada no cigarro, apago ele e decido buscar minha mãe no quarto. Trago ela aqui pra fora, ajeito na sombra, e logo a dona Dalva começa a conversar com ela, com aquela paciência que só ela tem. Desde aquele dia que a Manuela ficou com a minha coroa, parece que minha mãe virou outra. Tá mais disposta, como se tivesse encontrado um novo fôlego. Até a fono falou que ela começou a querer pronunciar umas palavras, coisa que a gente não via fazia um tempo. Aquela diaba da Manuela tem um poder esquisito sobre os outros, mexe na mente, sei lá. Viro o boné pra trás, tento focar na conversa deles, mas minha cabeça tá longe, lá naquela filha da p**a. Ela é uma tentação, gostosa pra c*****o, me faz rir sozinho, negando com a cabeça. Como é que pode? A mulher só passou e já deixa tudo de ponta-cabeça. Os dias na fazenda seguem esse ritmo, meio parado, mas até bom pra manter a cabeça no lugar, pelo menos por enquanto. Café da manhã com o pessoal, almoço e janta, tudo simples, mas bem servido. Dalva capricha na comida e o Cleberson sempre vem com aquele papo de interior, contando as histórias dele, que vez ou outra me arrancam um riso. Só que, na real, minha mente não desconecta do morro. Fico no rádio com o Renan pra pegar as novidades, saber como tá a situação, o que tão desenrolando por lá e, principalmente, se tem alguma pista do RD. A cada atualização, é um alívio temporário, mas o moleque ainda tá sumido, e isso não me deixa descansar. Minha cabeça fica num nó pensando onde ele tá, o que tá rolando, se ele tá bem ou se deu r**m. Pra passar o tempo, faço umas caminhadas pelo terreno, vejo a paisagem, respiro esse ar puro. Mas é estranho. A saudade do morro bate pesado, e por mais que aqui seja tranquilo, sem treta, a sensação é de que falta algo. Sinto o peso da responsabilidade, meu território tá lá, e a gente sabe que, no mundo em que vivo, o menor vacilo é cobrado caro. Não dá pra ficar muito tempo sem o morro. Nesses momentos de solidão, meus pensamentos sempre acabam nela também, na Manuela. É só lembrar daquela risada e já sinto um aperto, um negócio esquisito. O jeito como ela mexeu comigo ainda é estranho, e aqui, nessa calmaria toda, é como se os sentimentos viessem com mais força. Tento focar em outra coisa, mas parece impossível. O tempo passa devagar aqui, mas, no fundo, tô contando os dias pra voltar e retomar o controle do meu território.
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