Capítulo 41.

1248 Words
Any narrando Desligo o celular e vou direto pro quarto da Manuela. A porta está entreaberta, e assim que entro, ela dá um pulo, agarrando a toalha contra o corpo, com o secador ainda ligado. Os cabelos molhados grudam nos ombros, e ela me encara com os olhos arregalados. Manu: Eita! Que susto! – Ela aperta mais a toalha, tentando cobrir tudo enquanto dá um passo pra trás. Cruzo os braços, encostando na porta com um sorriso debochado. Any: Tá devendo é patroa? tá escondendo o quê, garota? Já cansei de ver esse xibiu seco. – Provoco, rindo, e dou um passo à frente. Manu solta um “Seu cu!” rindo e pega o primeiro objeto ao alcance, um pente. Sem pensar duas vezes, arremessa na minha direção. Me abaixo rápido, e o pente passa direto, batendo na porta atrás de mim. Any: Olha, isso aí é tentativa de homicídio, hein? Tá aprendendo com o teu marido. – Falo rindo, enquanto desvio do pente que ela arremessou. Manu: Ha ha ha. – Ela ri pausadamente, meio sem graça e logo pega uma presilha de cabelo e joga também. — Para com essas brincadeiras, Any, já te pedi. – O tom dela muda, mais sério, e eu levanto as mãos em rendição. Any: Parei, parei. Mas, olha só, você é engraçada demais cara. Manda eu parar de falar dele, mas não para de ficar com ele, né? – Dou um sorriso, só pra provocar. E me jogo na cama. Manu: A gente não fica – Ela responde rápido, me encarando como se quisesse que eu acreditasse. Any: Ah, não? Então tava fazendo o quê na casa dele ontem? – Cruzo os braços, levantando uma sobrancelha. Manu: Já te falei, ele me chamou pra ver a dona Sonia. – Ela fala baixinho, desviando o olhar. Any: E você acreditou nesse papo furado? – Me inclino um pouco pra frente, esperando ela admitir. Manu: Não... mas foi uma desculpa pra ver ela. Tava morrendo de saudades. Ela lembra tanto a minha mãezinha... – A voz dela sai mais suave, com aquele tom carregado de saudade. Any: Saudade dele também né safada? – falo e ela ri com rosto vermelho Manu: Não, dele não. Any: Só não se ilude, tá? Pode dar uns beijinhos mas não fica esperando algo a mais. Ele nunca vai te assumir e ainda vai continuar pegando geral na tua frente. Nessa vida é assim, eles podem tudo e a gente só se fode. Se conseguir ficar com ele sem se apaixonar, beleza, mas se perceber que não vai dar conta, sai fora. E não fica passando vontade, não. Apareceu um gatinho beija mesmo. Manu: Eu não passo vontade. Se aparecer alguém legal, eu fico. O negócio é aparecer, porque tá difícil, viu? O último cara que fiquei foi há mais de duas semanas, numa festa que fui com a Lari. – Ela fala enquanto ajeita a toalha no corpo, rindo como se quisesse justificar. Any: Por que será, né? – falo, provocando, e começo a rir. Ela me acompanha, balançando a cabeça e negando com um sorriso.– O Terror fica te cercando. Manu: Ontem fui fazer a unha de uma cliente, e ela me contou cada coisa que me deixou assustada. – diz, cruzando os braços e encostando no espelho. Me ajeito na cama, curiosa, apoiando o cotovelo no colchão e o rosto na mão. Any: Opa, já quero saber! O que ela te contou? Conta logo. Manu: Me contou sobre uma tal de Luana e de uma ex dele que saiu fugida daqui. Esqueci o nome dela agora. – Ela para por um instante, franzindo a testa como se tentasse puxar o nome da memória. – Mas tô ligada em quem ela tá falando. Any: Ah, só pode ser a Diana, né? Ou era outra? – pergunto, tentando adivinhar. Manu: Isso, Diana! – Ela estala os dedos, como se finalmente tivesse lembrado. – Disse que ela saiu daqui quase fugida por causa dele. Não entrou muito em detalhe, mas deixou claro que ele espancava ela. Any: Ih, amiga, aqui no morro cada um tem uma história pra contar do Terror. Eu, sinceramente, nunca tive muito contato com ele, e o RD não conta nada do Terror. Então não posso afirmar nada. Tudo que sei é o que ouvia da boca de geral. Agora, esse lance da Diana... eu já vi com meus próprios olhos. E todo mundo aqui via ele bater nela, na cara dura, sem esconder de ninguém. – Dou uma pausa, cruzando os braços e lembrando das cenas que já presenciei. – Mas, ó, ela também não era nenhuma santinha, não. Tacava o terror nas meninas, sabia que ele pegava todo mundo e aceitava. Dizem que ela tava de rolo com outro cara também, Cada um fala uma coisas aí não dá pra saber qual é a verdade. Mas o negócio dela era ostentar. Só que, depois, aconteceu alguma coisa muito séria, porque nunca mais vi essa mulher. Falaram que ela fugiu. Ou fugiu ou morreu, né? – dou de ombros, com uma expressão indiferente, mas observando o jeito que Manu tá absorvendo tudo. Manu: Ontem até pensei em me afastar dele. Mas a Néia me falou umas coisas que me fizeram pensar... Quem sabe ele não sente algo bom por mim. Não amor, nada disso, mas talvez um carinho. Any: Um carinho? – Arqueio a sobrancelha. – Olha, Manu, não vou ser eu que vou te desanimar, mas o Terror e “carinho” na mesma frase? Não combina, amiga. Esse homem é um paredão de gelo. Manu: Eu sei, Any, mas às vezes... sei lá. Ele tem umas atitudes diferentes comigo. A Néia falou que ele mandou ela pra fazer um bolo pra mim. Sabe o que isso significa? – Seguro a risada – Nada né.– Me olha, buscando alguma confirmação no meu rosto Any: Um bolo, Manu? Sério? – Solto uma risada curta, olhando pra ela com um ar de incredulidade. – Isso significa que ele sabe que tu gosta de bolo e, sei lá, decidiu te agradar. Mas não vamos romantizar, né? É só um bolo, não uma declaração de amor. Dou uma pausa, me inclino um pouco pra frente e encaro ela. Any: Olha, se isso foi um gesto de "carinho" dele, beleza, aproveita o bolo e segue tua vida. Mas não viaja achando que ele tá virando outra pessoa por tua causa. Terror é bruto e egoísta, tudo funciona do jeito dele, ele só faz o que vai ser bom pra ele. Pode até ter uma parada a mais contigo, mas não vai ser o seu xibiu que vai mudar o manual de instruções desse homem, não. Pode ter certeza que ele deve oferecer bolo pra cada uma que ele quer levar pra cama. Manu abaixa o olhar, mexendo nos dedos, como se estivesse tentando esconder a confusão que sente. Dá pra ver que tá pensativa, mas também triste, e isso me dá um aperto no peito. Eu amo essa menina, e justamente por amar, prefiro ser sincera, mesmo que doa. Tô vendo ela começar a se apegar ao Terror, e, conhecendo ele do jeito que conheço, sei que isso só vai dar merda. Não é porque ele faz um ou outro gesto mais "gentil" que as coisas vão mudar. Terror é como é, e não tem coração mole que vá transformá-lo. Mas tenta explicar isso pra quem tá começando a se iludir? É f**a.
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