Eu deixei meu número porque ela não ligou?

1868 Words
Agora estava aqui com ela no meu carro, um silêncio constrangedor. Me questionando o que deu na minha cabeça para cometer tal ato de disposição. — Você não me disse onde é seu endereço… Calei quando olhei para ela, capotada no estofado do meu carro, seus cabelos loiros no rosto. — Isabella? Ela sequer se moveu. Olhei para frente, soltando um suspiro pesado, impaciente. — Era só o que faltava… Seu cheiro tomava meu carro, um cheiro adocicado e suave. Olhei novamente para ela dormindo, sem saber o que fazer. Para onde levar ela desse jeito? Liguei para Gustavo, mas a ligação logo caiu na caixa postal. O celular do infeliz se encontrava descarregado. Soltei outro suspiro frustrado, negando. Era tudo que eu precisava agora: uma garota capotada no meu carro sem saber para onde levá-la. Por ironia do destino ou uma solução, meu cunhado me liga. Atendo de imediato. — Ah, seu sacana! Eu vi seus stories, nem para me convidar, né? Onde você está? Tô chegando... Seu tom era animado, cheio de humor, diferente do meu naquele exato momento. — Estou agora no meu carro, com uma garota capotada no banco. E eu não faço a menor ideia de onde é o endereço dela. — Espera… Capotada? — Exatamente. — Eu imaginei várias formas de você terminar uma noite bem-sucedida, mas com uma garota capotada não é o ideal. — Não fala bobagem. Estava deixando ela em casa, mas ela nem chegou a me dizer o endereço. — Só deixar em casa, é? Conta outra… Olha, cara, é sério. Fico feliz por você. É assim mesmo, a vida continua. Você até que demorou demais. — Pela última vez, eu só estava deixando ela em casa. — Ok, ok… Não vou falar mais nada. Soltei o ar pesado e olhei para ela. — E então, o que vai fazer? — Eu não faço ideia. Estou dirigindo sem uma direção, tentando achar uma solução. — Leva ela para sua casa. — Você ficou louco? — Ué… Amanhã ela vai embora. — Isso não é uma opção. — Então leva ela para um apartamento seu, um hotel… Sei lá, cara. Vai passar a noite com ela dentro de um carro? Você já tentou acordá-la? — Já, e não funcionou. — Então é isso. Leva ela para um hotel, se achar melhor. Não tinha palavras para descrever o que estava sentindo. Era uma m***a tudo aquilo. — Eu vou ver o que vou fazer. Ouvi seu respirar e um som baixo confirmando. — Então, marmelou minha noite. — Outro dia, cara. Agora vou resolver isso. — Vai lá. Desliguei a ligação, decidindo levá-la para um apartamento que uso quando quero espairecer. Não queria lidar com burocracias de hotéis ou pagamentos naquele horário da madrugada. Assim que parei meu carro no estacionamento, removi meu cinto e suspirei pesado novamente, olhando para ela. — Ei… Isabella? Ela nem se moveu. — Você precisa acordar. Vamos ter que subir. Você não me deu o endereço. Movi seu ombro levemente para que ela acordasse de alguma forma, e ouvi seu resmungo, um som de sua garganta, doce e dengoso. — Hum… me deixa. Sua mão veio ao meu rosto, empurrando levemente para trás. — Eu só quero dormir. Disse com sua voz embargada. Revirei os olhos brevemente, soltando o ar pela boca e abrindo rapidamente a porta do carro. Impaciente. Fiz a volta no carro e abri sua porta. Seu corpo estava praticamente deitado sobre meu banco, quase em posição fetal. — Isso nunca aconteceu! Afirmei para mim mesmo. Jamais me veria em uma situação dessas. Puxei seus braços, inclinando meu corpo para retirá-la do banco, passando um dos braços por suas pernas e trazendo seu corpo leve para fora do carro. Sua cabeça foi jogada para trás, seus cabelos soltos e longos. — Caramba! Neguei, me organizando, fazendo com que seu rosto fosse depositado em meu peito. Fechei a porta com um impulso de perna. A minha sorte era que já era muito tarde. Tarde demais para alguém ver essa cena. Entrei no elevador com ela em meus braços, embriagada e fora de si. Com dificuldade, abri aquela porta e a levei para dentro do apartamento, direto ao quarto, inclinando seu corpo para deitá-la na cama, no centro daquele lugar. — Hum... Ouvi seu resmungo quando seu corpo se desprendeu do meu. — Não, não… está tão, tão quentinho… Sua voz soava dengosa. Um bico foi feito em seus lábios, suas sobrancelhas franziram em desaprovação à distância. Ao deitar seu corpo na cama e tentar me afastar, seus braços forçaram meu corpo, e meu sapato deslizou no piso madeirado. — Oh! Caramba… Por instinto, meus braços se apoiaram na cama, a cada lateral do seu pequeno corpo. De olhos arregalados, com o susto momentâneo do deslize, senti sua respiração em minha pele. Tão próxima. Perigosa. Aquele cheiro doce dela se misturava com um aroma de álcool e cítrico. Um cheiro deliciosamente luxuoso. Não sei quanto tempo passei sentindo, mas, instintivamente, fechei os olhos. Quando os abri, os dela estavam bem vívidos e focados em mim. Perto demais para minha resistência. Perto demais para meu controle. E eu sabia: uma única movimentação poderia ser minha ruína. Seus olhos azuis, mesmo embriagados, me olhavam como se me despisse, como se pudessem enxergar além da minha alma. Aquele momento durou frações de segundos, mas, para mim, pareceu uma eternidade. Sua mão ergueu-se em direção ao meu rosto, e o toque suave causou um leve tremor ao entrar em contato com minha pele. — Já disseram que você tem olhos bonitos? O som da sua voz era suave, um sussurro. A forma como falou me fez prender a respiração. Minha boca secou, e fui obrigado a umedecê-la com a língua. Esse foi o detalhe que chamou sua atenção. Seus olhos desceram depressa para os meus lábios, e um arrepio percorreu meu corpo. Um movimento sutil dela fez o meu queimar. Instintivamente, reconhecendo aquela sensação calórica e perigosa, apoiei os braços na cama e tomei impulso para trás, mantendo uma distância segura. — Isso é loucura. Aquela garota, tão desprotegida e embriagada, ainda estava deitada no colchão, pequena e delicada. Dali, pude vê-la por completo. Seus s***s saltavam do bojo do sutiã, pressionados pelo tecido da roupa. Seus cabelos loiros banhavam a colcha branca da cama. Ela definitivamente era a coisa mais perigosa que existia. Meus sentimentos gritavam quando eu estava perto dela. O pior era sentir essa sede... Uma sede ignorante de umedecer meus lábios com a sua saliva. Um beijo bruto e devorador. Sua boca parecia implorar pela minha. Levantei de súbito, afastando-me alguns passos daquela cama sedutora, daquela mulher amaldiçoadamente linda. Puxei o ar pesadamente, recusando-me a olhar novamente para aquele manto de perdição e luxúria. — Você pode ficar aí, pode comer o que quiser. Eu preciso ir agora. Levei a mão ao bolso, removendo a carteira e retirando um cartão de visita com meu número pessoal. — Me ligue amanhã para que eu saiba que está bem. Sem olhar para trás, me afastei. Se eu olhasse, não manteria o controle da situação, se é que ainda tinha algum. --- Entrei no meu carro, sentindo-me um frouxo. — Caramba... Era só uma mulher, como todas as outras que passaram pela minha vida depois de Letícia. Não teria importância ou significado uma noite com ela. Mas por que essa sensação de perigo? Por que sinto que ela é um veneno para mim? Que é capaz de destruir todas as barreiras que mantive intactas todos esses anos? — m***a. Apertei o volante e puxei o ar pesadamente. — Tenho que tirar isso da minha cabeça. Tinha que apagar aquela imagem. Aquela boca tão disponível, aquele corpo tão perto do meu, seu calor e aquele cheiro... O cheiro doce que exalava dela. E essa maldita vontade de tomar tudo aquilo para mim. — Chega! Passei a mão sobre a barba com impaciência. Sem controle, estava pensando novamente em todos aqueles detalhes que me assombrariam por algum tempo. Isso era certo. Dei partida no carro e segui para casa. Essa noite, com certeza, seria inesquecível. Mesmo que eu desejasse nunca tê-la vivido. --- O retorno para casa foi assombrado por perguntas e tentativas de controle mental. Ao chegar, parei por um longo tempo observando meus filhos dormirem. Aquela noite, estavam juntos no mesmo quarto. Olhar para eles, buscando apoio um no outro, me fez sentir um lixo. Muitos conflitos passaram pela minha mente. Por tantos anos, fiquei dividido entre o que acreditava e o que prometi à minha falecida esposa. Não permitir que meus filhos tivessem afeto materno de outra mulher era algo que me fazia questionar todos os dias a promessa que fiz a Letícia. Porque eu sabia o quanto eles sentiam falta. — Eles não conseguiram dormir separados. Movi o rosto levemente para o lado e vi Elza, a babá noturna. — Esperaram o senhor voltar, mas acabaram dormindo. Olhei novamente para eles. Não tinha dado a atenção necessária. Com o tempo, minhas regras se tornaram um mantra para eles. — Se me permite, senhor... eles sentem a sua falta. Soltei o ar preso. — Eu sei. — Então por que não passa mais tempo com eles? — As coisas são complicadas. Ela não respondeu. Seu silêncio me incomodou. Quando a encarei, vi o receio no rosto dela. Havia mais palavras a serem ditas, mas faltava coragem para soltá-las. Até que, após desviar o olhar, ela murmurou: — Eles já perderam a mãe. O pai, em vida, seria um desastre para eles. Suas palavras pesaram uma tonelada em meu peito. Dei uma última olhada para os meus filhos e tomei uma decisão. Letícia sonhou muito com nossos filhos, e seu último pedido seria respeitado. Mas não podia continuar criando-os de forma tão fria. Eles precisavam de afeto. Precisavam de humanidade. Não colocaria ninguém no lugar da mãe deles. Isso permaneceria. Mas muitas coisas precisavam mudar. Sem responder as p************s e filtradas de Elza, apenas a encarei e disse: — Tenha uma boa noite. Afastei-me para o meu quarto, em silêncio. Suas palavras não foram em vão. Eu faria de tudo para mudar isso. --- No outro dia, Elza passaria o dia com eles. Mas resolvi permanecer em casa para começar tais mudanças. — Remarque tudo. Já enviei os e-mails necessários. Não pretendo receber mais ligações de trabalho hoje. — Entendi, senhor. Então devo ir até sua casa? Fugindo do trabalho, e ela queria vir até aqui para quê? — Tire o dia de folga. — Ah… certo, senhor. Havia confusão em seu tom. Desliguei a ligação, olhando para a tela do celular. O notebook ainda estava aberto, mostrando minhas obrigações do dia com a empresa. Mas tudo em que conseguia pensar era nela. Naquela mulher. Por que ainda não havia recebido sua ligação? Será que ela acordou bem? Isso ia me enlouquecer! Horas se passaram. Tempo suficiente para uma ligação. Meu número estava lá. Ela sabia que a deixei segura. Então por que ainda não me ligou? Impaciente, disquei para a recepção do prédio. — Alô? Sim, é o Kaio. Eu preciso saber se a mulher que estava no meu apartamento ainda está aí... .......
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