Conflitos incessantes.

1010 Words
KAIO MAVERICK A culpa me cercava como uma sombra sufocante. Eu fui um idi*ta. Não só pelo que fiz naquela noite, mas pela forma como saí. Eu a deixei sozinha. Sem explicação, sem uma palavra, sem a porr* de um pedido de desculpas. E agora, não conseguia encará-la. Mas isso não significava que eu não a via. Eu via. Todos os dias, observava Isabella pela tela do meu computador. As câmeras da casa capturavam cada instante dela com meus filhos, e cada cena me afundava ainda mais nesse buraco que eu mesmo cavei. Ela sorria para eles. Brincava. Cuidava. Ela estava lá. E eu, não. Eu queria responder as mensagens de Otávio, mas não o fiz. Foi por culpa dele que tudo aconteceu. Ou pelo menos era mais fácil pensar assim. Porque aceitar que fui eu quem cruzou aquela linha? Quem tomou aquelas decisões? Não. Melhor culpar a bebida, Otávio, qualquer um, menos a p*rra de mim mesmo. era mais fácil, mais cômodo. Eu só fingi, dia após dia com uma naturalidade bizarra. meus filhos alheios a toda a situação. E eu me perdendo cada vez mais nas minhas convicções, desejos e conflitos. Aquela guerra c***l e interna que me sufocava. Com a promessa martelando em minha mente, com as lembranças dela ecoando por toda parte em todas as horas do meu dia. E assim passou uma semana. Uma semana longa e fodida de conflitos mentais. UMA SEMANA DEPOIS. O expediente estava no fim quando a porta se abriu. — Se você não atende minhas ligações, eu venho até você. Otávio entrou, sem cerimônia. Levantei o olhar sem o menor prazer. — O que você faz aqui? Ele arqueou a sobrancelha, surpreso. — O que foi, irmão? O que eu te fiz? Peguei minha pasta, ignorando a pergunta. Mas Otávio não aceitou o silêncio e se aproximou. — Fala comigo, cara. Parei o que estava fazendo e soltei um suspiro pesado. Não havia mais sentido em fugir. Eu queria um culpado, mas no fim das contas, só eu era o responsável. Passei a mão pelo rosto e toquei o ombro dele. — Vamos tomar uma. Otávio sorriu de lado, como se soubesse que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. O bar estava pouco movimentado. Música baixa, luz amarelada, um ambiente perfeito para afogar frustrações. Eu encarei o copo à minha frente, girando o líquido âmbar entre os dedos, mas sem coragem de beber. Então soltei, quase sem pensar: — Isabella. Otávio me olhou, esperando que eu continuasse. — Eu dormi com ela. — Isabella? É a garota do sofá? Confirmei que sim com a cabeça bebendo parte da bebida. Ele ficou quieto por um momento, apenas balançou a cabeça levemente, como se já soubesse para onde essa conversa ia. — E? Soltei uma risada sem humor. — E eu saí do quarto como um m***a, deixando-a sozinha, sem falar nada. Otávio apoiou os braços na mesa, me observando atentamente. — Eu dormir com uma mulher na mesma cama que dormia com a Letícia. Eu não podia ter feito aquilo, por isso sair dizendo que nada mudou. Ele me olhou de forma surpresa. — E o que você esperava? Que ela acordasse te agradecendo? Fiz uma careta, incomodado com a ironia. — Eu não sou assim, p***a. Ele cruzou os braços e arqueou a sobrancelha. — Mas foi assim que agiu. A verdade bateu como um soco no estômago. — Usou a garota, foi você quem foi atrás? eu vi seu olhar, como mudou rápido. — Eu não a usei! — retruquei, firme, como se essa afirmação fosse capaz de apagar tudo o que aconteceu. Otávio soltou um suspiro, mexendo no próprio copo. — Me desculpa, irmão, mas se você levou a garota pra cama e largou ela lá, sem nem dar uma explicação, então você usou sim. Eu não queria ouvir isso. Não queria aceitar isso. Agarrei o copo e bebi tudo de uma vez, tentando aliviar a irritação. Mas a m***a da culpa continuava lá, queimando por dentro. — Eu não sei como reparar isso. O silêncio se instalou. O barulho distante de copos sendo servidos, vozes dispersas ao fundo, mas entre nós dois, o peso do que eu havia feito parecia preencher cada espaço. Então Otávio respirou fundo e disse: — Sabe o que eu acho? Continuei encarando o copo vazio, sem responder. — Eu acho que você usa essa promessa pra se sentir mais perto da Letícia. Minha mandíbula enrijeceu, e finalmente levantei os olhos para ele. — Que p***a você quer dizer com isso? Ele não recuou, nem hesitou. — Você se enterrou nessa promessa como se fosse uma âncora. Como se, ao manter essa m***a, pudesse sentir que ainda tem alguma coisa dela com você. Meu peito apertou. — Isso não tem nada a ver com Letícia. — Não tem? — Ele soltou uma risada baixa, cética. — Kaio, você ainda vive como se estivesse preso a ela. Como se seguir em frente fosse uma traição. Como se estivesse esperando morrer também. Eu não disse nada. Porque ele não estava tão errado quanto eu queria que estivesse. Otávio se inclinou na mesa e continuou: — Mas me responde uma coisa. Você faria isso com ela? Franzi a testa. — Do que você tá falando? — Se os papéis estivessem invertidos. Se você tivesse morrido naquela noite e ela estivesse viva, você a faria prometer que nunca mais poderia ser feliz? Que nunca poderia se permitir sentir algo por outro homem? Minha garganta secou. Nunca. Nunca na p***a da minha vida eu teria feito isso com Letícia. Mas era isso que eu estava fazendo comigo mesmo. Otávio sustentou meu olhar, me deixando sem saída. — A vida é pros vivos, Kaio. — ele disse, com a voz mais baixa, mais pesada. — Os que se foram… não a têm mais. O silêncio que se seguiu foi o mais insuportável que já senti. Eu não tinha mais desculpas. Não tinha pra onde fugir. E, pela primeira vez em muito tempo, não sabia o que fazer.
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