ISABELLA ROTH
Mesmo com meus passos apressados e visivelmente ignorando ele, continuava a me seguir.
— Eu só preciso falar com você!
Ele insistiu, dando um passo à frente, me obrigando a desacelerar quando cheguei perto do carro. Travei a mandíbula, mantendo minha mão firme na chave.
— Não temos nada para conversar.
— Temos, sim. Você sabe que temos.
Sua voz tinha aquela entonação mansa, falsa, calculada. A mesma que usou tantas vezes para me convencer de que era um homem diferente.
— Pedi o divórcio.
Ele soltou de repente, como se aquela informação fosse me fazer parar.
Ah é? Quantas vezes ele fará isso?
— Jura? De novo...
— Desta vez é pra valer. O advogado já enviou os papéis pra ela, ela já saiu de casa.
Meus dedos apertaram o couro da bolsa, mas não desviei o olhar.
— Boa sorte com isso.
Disparei, tentando abrir a porta do carro.
— Eu estou tentando corrigir tudo. Sei que cometi erros, sei que te machuquei… mas eu mudei.
A risada seca escapou antes que eu pudesse conter.
— Mudou?
Me virei para ele, encarando-o nos olhos.
— Você me enganou. Disse que estava separado, mas sua mulher voltou e você se calou! Me fez parecer uma qualquer quando ela me humilhou na frente dos outros! E agora quer me convencer que mudou?
Sua expressão endureceu por um momento, como se soubesse que não teria desculpa para aquilo. Mas então, ele usou a única carta que lhe restava.
— Jared sente sua falta.
Minhas mãos gelaram no mesmo instante.
— Ele pergunta por você…
Continuou, notando minha hesitação.
— Quer saber por que você sumiu da vida dele.
O estômago revirou, uma fisgada atravessando meu peito. Eu gostava de Jared. Eu cuidei dele. Mas isso não significava que cairia nessa armadilha. Ergui o queixo e disparei:
— Seu filho não sente falta nem da mãe dele, quanto mais de mim.
Os olhos dele cintilaram com algo próximo da irritação.
— Ele precisa de você.
— Não!
Me aproximei um pouco mais, reduzindo a voz.
— Você precisa de mim.
Seu rosto se fechou.
— Eu não sou mais aquela mulher. Não vou cair nos seus joguinhos outra vez.
Abri a porta do carro, me preparando para entrar. Mas antes que eu pudesse, ele soltou a última bomba:
— Eu não vou desistir de você.
As palavras dele bateram contra meu peito como uma corrente gélida. Eu o encarei, o nó apertando minha garganta, mas me recusei a mostrar fraqueza.
— Pois então, vai se cansar tentando.
Entrei no carro e bati a porta, ligando o motor sem olhar para trás. Quando saí do estacionamento, os dedos ainda tremiam contra o volante. Respirei fundo, tentando expulsar aquela sensação amarga do corpo. Mas eu sabia que aquele encontro não era o fim. Ele estava de volta. E, de alguma forma, isso ainda ia me atormentar.
....
Eu ainda estava parada em frente à mansão, as mãos apoiadas no volante, tentando me recompor. O ar-condicionado soprava uma brisa fria contra minha pele quente. Meu coração, embora mais calmo, ainda carregava o peso do encontro.
"Eu não vou desistir de você."
As palavras dele ainda ecoavam na minha mente, como um lembrete desagradável de que o passado não se apaga tão fácil. Respirei fundo.
— Você está bem... Está bem!
Repeti, controlando a respiração, de olhos fechados, sentindo apenas a textura do volante em minhas mãos.
Mas meu corpo não concordava. Minhas unhas tamborilavam no couro do volante, e meus lábios se comprimiam, um resquício da ansiedade que ainda rastejava pelo meu peito. Eu não sabia quanto tempo fiquei ali, apenas olhando para o portão imponente da casa. O suficiente para perder a noção do tempo.
Até que um som repentino quebrou o silêncio.
Toque. Toque.
Dei um leve sobressalto. Meus olhos piscaram rapidamente antes de se voltarem para a janela.
Era Elza.
Ela me observava com uma mistura de curiosidade e preocupação. Respirei fundo e abaixei o vidro.
— Oi... já vou sair...
Murmurei, tentando parecer natural. Ela não respondeu de imediato. Seu olhar atento varreu meu rosto, captando sinais que talvez eu quisesse esconder.
— Tá tudo bem?
Perguntou, cruzando os braços.
— Você ficou um tempo parada aí...
Engoli em seco.
— Sim, só estava… pensando em algumas coisas.
Ela franziu a testa, não convencida.
— Pelo visto, você e o patrão.
Minha sobrancelha se arqueou no mesmo instante.
— Como assim?
Ela lançou um olhar breve para a casa antes de voltar para mim.
— Ele também tá diferente hoje. Tirou o dia pra ficar com as crianças.
Pisquei, surpresa.
— Ele o quê?
— Vai acompanhar Zoe no balé e levar Kaleb ao fonoaudiólogo.
Kaio, mais presente? O mesmo homem que fugia de qualquer envolvimento emocional agora estava fazendo questão de estar lá? O desconforto voltou a rolar pelo meu estômago.
Elza abriu um pequeno sorriso.
— Não sei o que você fez, menina, mas tá funcionando.
As palavras dela aqueceram meu peito. Talvez… eu estivesse fazendo alguma diferença. Respirei fundo e saí do carro. Assim que entrei na casa, não tive tempo de pensar em mais nada. Pequenos passos ecoaram pelo chão e, em segundos, dois braços finos se lançaram contra minha cintura.
— Isabella!
O entusiasmo de Zoe fez meu coração amolecer no mesmo instante. Me abaixei para abraçá-la, sentindo seu cheiro adocicado de xampu infantil. Kaleb ficou ao lado dela, quieto como sempre, mas seu olhar me dizia que ele estava feliz por me ver. Passei a mão pelos cabelos dele, num gesto de carinho silencioso.
Mas quando levantei o rosto, meu peito se apertou.
Kaio estava ali.
De pé, ao lado da mesa, observando tudo. Diferente das crianças, ele não se moveu em minha direção. Seu olhar escuro permaneceu fixo em mim, carregado daquela presença avassaladora que sempre me fazia sentir que estava fazendo algo errado. Minha respiração prendeu por um segundo.
Essa sensação me engole. Eu não quero sentir isso, não posso! Não posso sentir essa atração tão avassaladora.
O Renato foi a prova viva de que não dá certo!
E o Kaio… Ele é tão complexo, tão incógnita.
Eu não sei o que lhe prende, o que o faz ser assim, tão fechado, tão insensível.
Mas eu sei que não sou a cura de ninguém, nem vou permitir ser uma válvula de escape! Isso nunca mais.
Preciso afogar esse sentimento ou ele tomará conta de mim, me sufocando até que não reste vestígios de sanidade.
....