2º Capitulo – Descobertas

1645 Words
- Só podes estar a brincar! – Não podia ser verdade o que Eliot acabara de dizer. Prometida, eu? Mas desde quando é que alguém tinha o direito de me impor uma coisa destas? “Desde que nasceste, já que és uma princesa.”. Nem o meu subconsciente me deixava esquecer por um momento o infortúnio que estava destinada a passar. – Tenho algum modo de me escapar a essa regra? – O meu esforço para não levantar a voz era colossal e Eliot sabia-o bem, pois esperava que me acalmasse antes de prosseguir. - A regra, ou melhor a tradição, é unicamente os descendentes dos reis ficarem prometidos a alguém, não sendo obrigados a casar realmente com os seus prometidos, mas apenas se apresentarem outro pretendente aos reis até ao dia da coroação, caso contrário não há escapatória possível. – O semblante de Eliot mostrava claramente que ele esperava que eu desatasse a gritar com ele, porém tal coisa não adiantava em nada a minha situação. - Quer dizer que tenho quatro anos para escolher alguém com quem queira casar ou então é-me imposta uma pessoa… Como é que alguém é capaz de fazer isso a outra pessoa? - Essa tradição só existe para assegurar que o reino terá novos governantes. Existe uma regra na realeza que não permite que um só governante ascenda ao trono, e todas as decisões deverão ser tomadas pelos dois governantes, a modo de haver um maior controlo do que se passa no reino. - Então como pode a rainha governar sozinha? - Como já eram casados e sendo que o teu pai deu a sua vida por ti, está completamente dentro das regras que sua majestade governe sem um rei, além de também não haver mais ninguém para assumir o trono. - Cada vez gosto menos do rumo que a minha vida está a levar… - As lágrimas que me escorriam pelas bochechas já há muito tinham secado, mas a tristeza emanada pela minha voz era perceptível a qualquer pessoa que a ouvisse. – Não há nada que possa fazer para me escapar a isto? - Gostaria de dizer que sim, mas infelizmente não está ao meu alcance mudar o rumo dos acontecimentos. – Eliot sorria tristemente, como se sentisse a minha dor. – Sei que não é fácil assimilar tudo isto tão rapidamente, e pessoalmente acho que estás a lidar com a situação muito serenamente. Se me visse no teu lugar, provavelmente já teria gritado até a garganta me doer e partido alguma coisa. - Não é que não me apeteça gritar, mas quando penso em tudo não consigo. O que diz no livro… Se é mesmo verdade que o livro foi escrito mesmo na primeira pessoa e aquela dor é real… Não sei bem o que pensar. Sinto-me zangada por me terem escondido a verdade, triste por ter de mudar de vida, mas ao mesmo tempo sinto pena da pessoa que escreveu aquelas palavras. - A rainha desesperou ao escrever o livro. Quando terminou não parecia a mesma: deixou de comer e m*l dormia. Quando o rei Darin morreu ela não teve tempo de chorar a sua morte, e ter de se apartar de ti logo em seguida destroçou-lhe o coração, mas o reino estava em perigo e ela era a única com poder capaz de travar os gémeos. Quando, finalmente, os ânimos acalmaram ela entrou em depressão mas não podia fazer mais nada a não ser esperar. - Tu deves ter mais ou menos a minha idade… Como podes saber isso se não passavas de um bebé? - A minha mãe é a melhor amiga da rainha. Cresci no palácio a ouvir todas as histórias e rumores. É claro que tive eu mesmo de esclarecer algumas dúvidas antes de vir-te buscar, pois com certeza que me farias tais perguntas e eu queria estar preparado para te responder. - E quando temos de partir? - Ainda hoje se possível. Podemos esperar até amanhã de manhã caso queiras, mas n******e passar disso. - Se tenho mesmo de ir não é necessário estar a adiar. Só preciso de tempo para fazer as malas e despedir-me dos meus pais. Eliot sorria docemente enquanto eu observava, talvez pela última vez, os belos cisnes brancos que ainda nadavam alegremente no lago. Havia qualquer coisa no sorriso de Eliot que me prendia o olhar. Estava tão habituada a ser ignorada por todos que o seu sorriso me trazia alguma alegria depois de tudo o que soubera nestas últimas horas. – Como vamos para Cyon? Ou melhor, onde é que fica Cyon? - Estava a perguntar-me quando irias fazer essa questão. O mundo onde Cyon se encontra chama-se Shylon, e vamos para lá através de um espelho que serve para viajar entre dimensões. – Se Eliot estava a gozar comigo eu não o percebia. Já tinha lido muitas histórias em que viajavam entre mundos através de objectos mas nunca pensei que iria viver tal coisa. – Não estou a gozar contigo Emily. O que lês nos livros não é somente imaginação dos autores, também conta com alguma realidade misturada. Existem muitos mistérios neste universo, e nem todos são bons… Eliot estendeu-me a mão e ajudou-me a levantar do relvado. A lua elevava-se cada vez mais alto no céu estrelado enquanto atravessávamos o jardim que dava acesso à rua que eu tantas vezes comtemplara quando ia para a escola. Parei à porta de casa, tal era o nervosismo com que estava, pois esta seria possivelmente a última vez que entraria na casa onde vivera desde que me lembrava. Inspirei fundo e entrei, convicta que m*l avistasse os meus pais as lágrimas cairiam desemparadas, tal como eu me sentia no momento. Contudo não os avistei no hall nem na sala de estar. - Deverias fazer as malas antes de os encontrares, terás mais tempo para a despedida. Queres ajuda? Acenei levemente, comecei a subir as escadas em direcção ao quarto e fui buscar as malas de viagem que possuía. Eliot começou a retirar a roupa do guarda-fatos, enquanto eu despejava as gavetas e recolhia os álbuns de fotos. Já estávamos quase a acabar, quando ele quebrou o silêncio: - Deves querer algum tempo a sós não é verdade? - Sim, obrigado. – Eliot saiu deixando-me a acabar de fazer as malas. m*l a porta se fechou as minhas lágrimas voltaram a cair. Olhei-me ao espelho e vi a mesma rapariga que vira de manhã, porém com uma grande tristeza estampada no rosto. Não era este o destino que esperava ter, mas não havia fuga possível, portanto só o podia aceitar por mais difícil que fosse o caminho a percorrer. Já havia arrumado toda a roupa e todos os livros que me trariam saudades, mas faltava uma coisa: a minha boneca de trapos. Esta boneca estava comigo desde sempre, assim como o colar, o que me levou a questionar se me teria sido dada pelos meus pais adoptivos ou pelos biológicos, mas quaisquer deles que me tivessem dado, a boneca era sem dúvida um dos meus tesouros mais preciosos. Estendi a mão para lhe pegar mas, antes de ter oportunidade de me aproximar, a boneca levitou e veio de encontro a mim, o que me surpreendeu. Se não fossem as revelações das últimas horas teria gritado com o susto, mas apercebi-me calma ao contrário do esperado. Se a magia era algo que fazia parte de mim não tinha de a temer mas sim de a controlar, e se ela tinha despertado o melhor era aprender rapidamente a fazê-lo. - Foi a minha verdadeira mãe a escrever isto? – Não conseguia explicar as lágrimas que me afloravam as faces quando peguei no livro. A dor descrita naquelas páginas tinha-me marcado e agora que sabia que a tristeza daquelas palavras era devido a mim, não conseguia controlar os meus sentimentos. Deixei-me cair sobre as cobertas e continuei a encarar o livro. – Posso claramente ver que ela não me abandonou mas não consigo pensar nela como sendo minha mãe. Já era perto da meia-noite quando terminei de arrumar as malas. Olhei em redor e tentei não chorar ao fechar a porta do meu quarto, sentindo um vazio dentro de mim enquanto o fazia. Arrastei as malas até às escadas e, quando ia descer, deparei-me com Eliot. - Necessitas de ajuda? – Antes de me deixar responder pegou em duas malas e começou a descer as escadas, pelo que peguei nas que faltavam e segui-o. Ao chegar à sala vejo os meus pais e novamente as lágrimas retornaram aos meus olhos. Abracei-os enquanto me afagavam o cabelo, murmurando o quanto gosto deles. A minha mãe encara-me enquanto afirma: -Emily és uma menina muito forte, mais forte do que pensas. Sei que agora te parece injusto teres de passar por tudo isto, mas vais ver que te vais habituar rapidamente à tua nova vida. - Nunca te vamos esquecer minha querida. – A voz do meu pai era rouca, como se tivesse chorado durante horas. – Para nós serás sempre a nossa menina. - Isto é para ti. Para que nunca te esqueças de nós. – Deram-me pequena caixa que continha um medalhão com fotografias dos três, fazendo-me começar a soluçar. - É claro que nunca vos vou esquecer. Para mim vocês são os meus pais e sempre serão. – Soluçava tanto que tive de me sentar no sofá. – Não querem mesmo vir comigo? Vão fazer-me tanta falta… - Será mais fácil para ti não nos teres por perto, além que as nossas vidas estão aqui e já nos habituámos a este mundo. Voltar para Cyon neste momento seria doloroso demais para todos. O momento era demasiado emotivo para conseguir recuperar a postura. Entre soluços abracei-me aos meus pais de coração e deixei-me levar por todas as emoções do momento, sentindo-me desfalecer até tudo se tornar n***o.
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